terça-feira, 31 de dezembro de 2013
O que você faria?
Longe de ser o réveillon dos sonhos. Mas quando foi mesmo que sonhei com festas de fim de ano? Desnecessária canseira, sempre achei. O fato é que, com o coração reduzido a sei lá quê, a inteligência age e encontra abrigo.
Meu intinerário:
Amelie
Timo
Pina
Freddie
Sérgio
...
Seguindo. Até o fim do ano (2013, eu digo) ainda subo uma montanha, faço uma visita ao Uruguai, planto um girassol, abraço um Rinoceronte. Impossível é não ir.
Ceronha.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Coração selvagem
Sujeito que eu gostaria de ter conhecido de perto é o Sérgio. Tudo o que ele canta me atravessa. Bastando-me a canção para ter doces alucinações. Esta, por exemplo, me faz ver um Urso exuberante rodopiando pelas clareiras de uma floresta perfumada banhada por lua gorda. Hahahahahaha...
Quer ver? É só clicar:
"Eu quero esse delicado contato da sua mão."
Vaidadezinha
Irmã gêmea de Narciso, a Paixão é só uma criança vaidosa que atira para todos os lagos.
C.P.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Amores partidos
"Morrer de amor é uma utopia que está cravada em qualquer coração".
(Nelson Rodrigues)
Levando para minha pequena Ana uma versão, para crianças, de Romeu e Julieta. Claro que me certifiquei da qualidade da adaptação e sua fidelidade ao fim trágico dos jovens Montecchio e Capuleto. Sim, Shakespeare, tanto quanto possa, preservado. A intolerância exposta para o assombro e reflexão da menina.
Reflito eu mesma agora sobre meus pares favoritos: Ennis e Jack (Brokeback Mountain), Justin e Tessa (The Constant Gardener), Timoteo e Itália (Non ti Muovere)...
Impedidos, interrompidos, mais grave, precocemente separados pela morte e, como se apenas deste modo eternamente, a camisa de Jack dentro da camisa de Ennis, o sapato de Itália escondido no armário de Timo, e Tessa, bem, "Tessa is my house", diria Justin, apelando para a morte.
Penso que devo contar à Ana sobre os que envelhecem juntos (Eduardo e Mônica, por onde andam?), que estes também sabem o que é felicidade, mas, que o tal do "pra sempre", definitivamente, não é todo dia.
Passando...
Em Fortaleza será mínimo o tempo entre o que me leva do Recife ao que me levará a Tamboril. Deste modo, nem amigos, nem Centrão, nem Benfica, nem Guaraná da Gorete, nem Praia do Futuro, nem Theatro José de Alencar, nem conhecer o pão caseiro da Kerla, nem Bagaceira, nem BR Trans, nem Marta Aurélia Flor Vagabunda, nem Verônica decide morrer, nem tantas outras gentes e coisas que eu gostaria.
É muito, muito estranho ver o velho e amado lar transformado em ponte. Passagem.
E "meu corpo, minha embalagem, todo gasto na viagem."
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
AGRADECIMENTOS
Foto: Camila Sérgio
Acabou a temporada de meu faz-de-conta sobre a vida e obra de Camille Claudel no Recife.
Agradecimentos sem fim ao Tadeu Gondim, André Brasileiro e sua Mãe, Dona Gilca Brasileiro, por sua mão na massa, digo, no barro vermelho, sem melindres, nem frescuras, derramando seu suor em função de minha cria, ariscando-se comigo na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza sem nunca perder a dignidade, é o mais importante. Por me incentivarem a resgatar este trabalho antigo(que eu nem sabia mais se queria recuperar) justamente no ano em que completam os cem da internação, os setenta da morte, e encerrar temporada bem no dia do aniversário de Camille, que completou no último dia 08 de dezembro 149 anos. Respeitável senhora, não?
Passamos por coisas que eu nunca tinha experimentado nos anos dedicados ao ofício, mas, o limão, por mãos inteligentes sempre resultará numa boa limonada, ou até na caipirinha, para quem goste, né?
Posso dizer que foi um gosto olhar de longe aquela Ceronha de outrora, de longos cabelos, um corpo mais fininho, um rosto ainda com traços da juventude e agradecer a ela pela ousadia e atrevimento de preparar o terreno ainda em palcos cearenses, para esta hoje senhora de 41 anos, mais despudorada e densa. Agora talvez é que fosse a hora, mas, se aquela nunca tivesse ousado, não sei o que seria.
Agradecimentos eternos ao Rogério Mesquita e ao Walter Façanha, comigo desde aquela Camille e até sempre. Ao Yuri Yamamoto, ao Rafael Martins e todo o Bagaceira. À Juliana Carvalho e ao Rodrigo de Oliveira. À Ihasmin Oliveira e seu Pai, o meu marido Eros Oliveira. Ao Beto Trindade e ao Raimundo Oliveira. À Lilli Rocha e à Nana Milet. Ao Marcondes Lima e sua família. À Camila Sergio, Rogério Alves e Alex Ribeiro. Ao primo Ed Lima, pro resto de minha vida. Ao meu irmão Dé (Jose Edson) e família. Aos muitos e muitos e muitos que desde o Ceará, dando a volta lá por Campinas e chegando em Pernambuco, têm me ajudado na realização deste espetáculo. Aos amigos e colegas que me deram a honra e a alegria de sua visita ao "asilo". E ao público desconhecido, espontâneo, que chegou ali por Camille, assim como eu, e com o qual a troca, de tão amorosa, me fortaleceu e encorajou a enfrentar tamanho desafio. O desafio que é Camille, a própria e gigante.
Sobre a minha relação com ela vale o que eu dizia à Brenda Ligia Miguel: Camille, a verdadeira, é tão grande! Todo dia na coxia antes da cena, da minha miudeza peço a ela que me perdoe o atrevimento e me permita atuar só pelo que eu tiver de bom, à revelia de toda vaidade e soberba que me habitem.
Que venham outras e felizes temporadas. Não tenho a mínima ideia de onde nem quando, mas, que venham. Por agora quero ir ao cinema e tomar uma cerveja escura com os amigos.
Beijos muitos.
Ceronha Pontes.
sábado, 7 de dezembro de 2013
Une chanson
O coração cheio, a pena incapaz. Não é um alívio que outros tenham escrito?
"C'est une chanson
Une chanson pour les vieux cons
Comme toi"...
Lari, lará...
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Mais que discreto
"Aí a minha vida ia fazer mais sentido,
e a sua talvez mais que a minha..."
Ah, sujeito inspirado.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
C'est fini
Encerrando temporada no próximo fim de semana.
Dias 06 e 07 (sexta e sábado) às 20h
Domingo, dia 08 de dezembro, aniversário de Camille, ÚLTIMA APRESENTAÇÃO.
Esperamos vocês com o carinho de sempre.
CAMILLE CLAUDEL (por Ceronha Pontes)
Teatro Eva Herz, Livraria Cultura do Shopping RioMar, Recife.
Foto: Rogério Alves.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Depois de haver chorado
Desde o jantar cujo tema era a minha Camille (Claudel), pelo genial espetacular Chef Kovacic, Mireille não me deixa ouvir outra coisa. Eu que já adorava quando o grande tenor chegava pra embalar o drama de Jacques Desmoulin (Gérad Depardieu- Elisa), agora mole, completamente entregue a esta versão.
Ceronha
Para ver no filme, basta um clik.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Hino à liberdade
Ontem postei aqui as expectativas da Duquesa. Hoje preciso lhes dizer o quanto a jornalista Luce Pereira me emocionou com sua visão de minha Camille. Entendeu onde Camille me arrebata e me me conduz inevitavelmente a esta peça, porque eu nunca me calaria sobre ela. Nunca.
Não pensem que o fato de Luce ser minha amiga querida , a quem admiro, respeito e quero um bem danado, seja o motivo dela se expor assim a respeito de meu trabalho. É uma profissional muito justamente respeitada, porque séria, sensível e competente. Por amizade fosse e achasse diferente do que aí está, por certo que se calaria. Não se arriscaria com o que não acredita, não é de seu talento, sua índole ou natureza. Por isso mesmo me emociono tanto e partilho sim, encorajada a seguir. Com Camille Claudel e tudo quanto ela representa.
OBRIGADA, LUCE.
Ainda espero vocês. A quem interessar a leitura, segue:
Camille, Ceronha e
um hino à liberdade
(Eu não disse que ia me arrebentar?)
Fui ver Camille Claudel, no teatro da Cultura (RioMar). É gente demais neste shopping, meu Deus! - me dizia, enquanto ia caminhando para a parte de cima da livraria, que também estava movimentada, porém com outra gente, uma gente mais encantada e silenciosa. Havia um convite à minha espera, na bilheteria, mas não quis, eu preferia mesmo pagar, porque já se faz arte com tanto sacrifício neste país e, além do mais, Cacilda Becker parecia estar me soprando ao ouvido a frase que usou para dizer não àquele povo acostumado com primeira fila a custo zero: "Não me peçam para dar de graça a única coisa que tenho para vender".
Sentei em uma das mesinhas do café, ainda tinha tempo para "um quentinho" antes de abrirem as portas. Queria entrar no clima da peça, era preciso. Villa-Lobos disse que seria possîvel ouvir apenas o que quisesse, independentemente de onde se achasse, então liguei minha vitrola interna e escutei Piaf cantando La vie en rose. Ah, Paris ...
Minha poltrona era central, na terceira fila. Uma fumaça de gelo seco e as luzes do palco semi-apagadas mal permitiam divisar o cenário composto por mesinha e cadeira brancas com efeito de pátina, alguns poucos objetos; no fundo, uma plataforma elevada e coberta por grande quantidade de barro vermelho, além de uma escada de dois pés, à frente. Só.
Luzes apagam, a voz de Ceronha (em off) lê uma das cartas que Camille tentou, em vão, fazer chegar aos amigos e à família enquanto esteve (compulsoriamente) distante do mundo, num sanatório.
Um foco de luz se acende sobre a mesinha e lá está ela, a "musa de Rodin", olhando demoradamente para o vazio, como se não existisse plateia nenhuma. O texto arrasta o espectador para o cativeiro de Camille como se a intenção fosse torná-la menos abandonada e miserável na sua condição de morta-viva.
E de repente, o desvario da personagem leva Ceronha à plateia, onde olho no olho, segurando desesperadamente as mãos do escolhido, pede que entregue a carta salvadora, esmagada pela força do gesto, a um parente ou familiar. Noutro momento, delirante, distribui cerejas, a fruta mágica que acompanhou seus melhores dias em Villeneuve, sua Villeneuve.
A plateia mal respira, em alguns trechos a narrativa é muito lenta e o jeito é se mover devagar na cadeira, talvez porque, inconscientemente, se ache que o gesto pode arrancar Camille do torpor, abrindo-lhe as portas para a tão sonhada liberdade.
Choro enquanto Ceronha é o desassossego em pessoa sobre a pequena montanha de barro, onde se impregna dele até a alma. A alma de Camille era de barro. E a atriz, em dado momento, ao trazer a expressão de vazio que revelava uma Camille vencida, parece se transformar numa das esculturas que, apesar de Rodin, fizeram da artista uma das mais festejadas no mundo, pela genialidade extrema.
Ao final, a voz de Ceronha (em off) revela aos expectadores que apesar dos maus-tratos diários impostos pelo sofrimento de se saber desligada do mundo, Camille continuou viva durante 30 anos. Certamente porque ainda sobreviviam em suas mãos a memória da arte poderosa, as manhãs e o sabor das cerejas de Villeneuve.
um hino à liberdade
(Eu não disse que ia me arrebentar?)
Fui ver Camille Claudel, no teatro da Cultura (RioMar). É gente demais neste shopping, meu Deus! - me dizia, enquanto ia caminhando para a parte de cima da livraria, que também estava movimentada, porém com outra gente, uma gente mais encantada e silenciosa. Havia um convite à minha espera, na bilheteria, mas não quis, eu preferia mesmo pagar, porque já se faz arte com tanto sacrifício neste país e, além do mais, Cacilda Becker parecia estar me soprando ao ouvido a frase que usou para dizer não àquele povo acostumado com primeira fila a custo zero: "Não me peçam para dar de graça a única coisa que tenho para vender".
Sentei em uma das mesinhas do café, ainda tinha tempo para "um quentinho" antes de abrirem as portas. Queria entrar no clima da peça, era preciso. Villa-Lobos disse que seria possîvel ouvir apenas o que quisesse, independentemente de onde se achasse, então liguei minha vitrola interna e escutei Piaf cantando La vie en rose. Ah, Paris ...
Minha poltrona era central, na terceira fila. Uma fumaça de gelo seco e as luzes do palco semi-apagadas mal permitiam divisar o cenário composto por mesinha e cadeira brancas com efeito de pátina, alguns poucos objetos; no fundo, uma plataforma elevada e coberta por grande quantidade de barro vermelho, além de uma escada de dois pés, à frente. Só.
Luzes apagam, a voz de Ceronha (em off) lê uma das cartas que Camille tentou, em vão, fazer chegar aos amigos e à família enquanto esteve (compulsoriamente) distante do mundo, num sanatório.
Um foco de luz se acende sobre a mesinha e lá está ela, a "musa de Rodin", olhando demoradamente para o vazio, como se não existisse plateia nenhuma. O texto arrasta o espectador para o cativeiro de Camille como se a intenção fosse torná-la menos abandonada e miserável na sua condição de morta-viva.
E de repente, o desvario da personagem leva Ceronha à plateia, onde olho no olho, segurando desesperadamente as mãos do escolhido, pede que entregue a carta salvadora, esmagada pela força do gesto, a um parente ou familiar. Noutro momento, delirante, distribui cerejas, a fruta mágica que acompanhou seus melhores dias em Villeneuve, sua Villeneuve.
A plateia mal respira, em alguns trechos a narrativa é muito lenta e o jeito é se mover devagar na cadeira, talvez porque, inconscientemente, se ache que o gesto pode arrancar Camille do torpor, abrindo-lhe as portas para a tão sonhada liberdade.
Choro enquanto Ceronha é o desassossego em pessoa sobre a pequena montanha de barro, onde se impregna dele até a alma. A alma de Camille era de barro. E a atriz, em dado momento, ao trazer a expressão de vazio que revelava uma Camille vencida, parece se transformar numa das esculturas que, apesar de Rodin, fizeram da artista uma das mais festejadas no mundo, pela genialidade extrema.
Ao final, a voz de Ceronha (em off) revela aos expectadores que apesar dos maus-tratos diários impostos pelo sofrimento de se saber desligada do mundo, Camille continuou viva durante 30 anos. Certamente porque ainda sobreviviam em suas mãos a memória da arte poderosa, as manhãs e o sabor das cerejas de Villeneuve.
Luce Pereira
domingo, 24 de novembro de 2013
Camiiiiiiille!!!!!!
Não posso deixar de espalhar aos bons ventos as falas de minha querida Duquesa de Belo Jardim, a jornalista Luce Pereira, aqui de Pernambuco. Mais que me envaidecer, você me enche de coragem e isto não tem preço, Duquesa. Não vejo a hora de "incorporar" mais um texto seu. Beijos cheios de minha admiração.
Teatro com alma (Por Luce Pereira)
Há alguns dias, penso em ir ver a atriz Ceronha Pontes "incorporando" Camille Claudel, no Teatro Eva Herz, do RioMar. Sei do que estou falando: ela só atua abrindo a porta do corpo para receber a personagem, daí o verbo incorporar em substituição ao interpretar, troca, aliás, que só é possível no caso de atrizes com "a" maiúsculo. Num fim de semana, tem isso, noutro, tem aquilo e vão surgindo os motivos e as desculpas para não ir ver a criatura do Sertão dos Inhamuns (Ceará) "manifestada" em mais um palco.
O primeiro foi o de Essa febre que não passa e desde então eu só penso que, uma vez decidindo estar na plateia, corro o mesmo risco medonho de ficar impressionada, um bocado mexida com as falas e a movimentação em cena, tudo cuidadosamente trabalhado para desmantelar mesmo quem chega achando que vai sair impune. É porque ela dá alma quando está ali em cima e, geralmente, pessoas que se dedicam a entregar o que de melhor possuem querem o que de melhor tiver quem recebeu. Neste caso, apenas aplausos, que se ouvem não porque ela quer, mas porque merece. Ao final, são tantos que a moça de Tamboril sorri como quem só tem as mãos para enfrentar feras e assim mesmo consegue dar cabo de uma todo santo dia. Mata com talento.
Então vejo que me agarrei a desculpas e justificativas falsas para não ter ido, até agora, vê-la na pele de Camille Claudel. É medo mesmo (e olhe que eu nem sou "frouxa"). Medo de passar os próximos dias pensando mais na vida do que de costume, refletindo sobre coisas que nem sempre a insustentável "dureza" do ser segura.
Vou porque não quero mais viver em dívida com a boa arte do que já vivo, mas sei que depois corro o risco de gostar ainda mais de teatro. É o preço - e como é bom pagá-lo.
Salve, Ceronha Pontes.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Olhos
À revelia de minha severa autocrítica, compartilho. Porque foi um dia de conhecer pessoas incríveis com quem adorei estar e trabalhar.
Ao Amandio Cardoso e à Agência Circo, ao Martin Palacios e toda a equipe, a Tatiana Valença (making off), aos que fazem o IOR, ao Marcos Castro e sua Casa de Papel, ao meu talentoso e querido colega Alexandre Sampaio e ao diretor Alexandre Sorriso, deixo aqui meu abraço feliz. Foi massa.
Ceronha
Making off seguido dos filmes prontinhos:
Pra quem não tenha paciência de seguir o making off todo, basta clicar AQUI para ver só o comercial.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
"Depois de beber o mar"
Minha sobrinha de 08 anos diz com toda a segurança que me conhece como à palma da sua mão. Nunca duvidei. Hoje me mandou esta ao ouvir minha voz grave e insone ao telefone:
- Titia, a senhora ainda tá com aquela peça, né?
(Referia-se a Camille Claudel.)
- Sim, estou.
- Ai, que já estou vendo o tamanho das suas olheiras.
- Como assim?
- Porque é assim, né, Tia? A senhora quando tá numa peça, fica cheia de olheiras.
Dancemos então, para domar o medo do desafio que esta extraordinária escultora representa.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Camille em mim
Pessoas queridas, é óbvio ululante que fiquei envaidecida com as palavras do jornalista Bruno Albertim, a respeito de minha Camille Claudel. Sou humana, afinal. E saudável. Mas acima de tudo, a crítica de Albertim me afeta por tanto que me acrescenta em responsabilidade, renovando meu compromisso, ampliando meu desafio.
Artaud lembrava qualquer coisa parecida com isso: "o teatro acontece no exato instante em que a vida acontece". Pois é. Haverá sempre um grande mistério instalado no palco, na troca, na experiência diária.
Feliz, muito feliz, com uma avaliação tão positiva a respeito de um trabalho que uma equipe grande, entre cearenses e pernambucanos, se dedica a realizar. Mas é fato que, concordando inevitavelmente com Artaud, devo lhes prevenir que o espetáculo que Bruno assistiu não existe mais.
Tem uns versos de uma canção do Guinga e do Aldir Blanc que canto sempre que coisas muito especiais acontecem, que é não perder o prumo (é um risco, né?): "viver é afinar o instrumento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro/ a toda hora/ a todo momento/ lari lará..."
Seguem as palavras gentis e tão queridas de Bruno Albertim, e também as nossas boas vindas a todos vocês lá no Teatro Eva Herz. Por aqui seguimos com a certeza de que o milagre atenderá sempre pelo nome de TRABALHO. Meu dever.
Obrigada, Bruno.
Ceronha
LEIAM!!!
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2013/11/11/a-reencarnacao-de-camille-104974.php
Chamadinha carinhosa
A peça estreou na sexta passada e seguimos até 08 de dezembro, aniversário de Mademoiselle Claudel.
Mais informações no post anterior, e nos que virão.
Esperamos por vocês. Beijos nossos.
Link para a nossa breve e nervosa entrevista do Blog Social 1. Obrigada, Mariana Lins.
http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=blog-social-1-entrevista-ceronha-pontes-0402CC1A3268D0B94326&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
INEVITÁVEL
Ela clamava: "exijo em altos brados a minha liberdade". Como eu ficaria indiferente?
Hoje às 20h lá no Eva Herz, reestreia “minha” CAMILLE CLAUDEL.
Over dose de valeriana para um mínimo de sono produzido esta
noite. O nervosismo configurado numa rouquidão perigosa e um vazio enorme, como
se qualquer coisa que em algum momento supus que pudesse oferecer tivesse
desaparecido.
Neste momento Mademoiselle Claudel é um oceano e eu morro de
medo d'água. Sei nadar,é verdade, mas se a água for muita estanco, apavorada.
Algo assim, irracional, e sou de repente incapaz de me salvar. Miúda. Um quase
nada: eu e meu teatrinho.
Devo entender que A VIDA É MAIS. A de Claudel, a minha a
sua...
No sucesso ou no fracasso, a vida será sempre mais.
Comecemos o dia por deixar entrar o sol. Canta, Paradis, e
me acalma.
Ceronha Pontes
P.S.:Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. Lá no Shopping RioMar, Recife-Pe.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Febril
Fim de mais um ensaio. Antepenúltimo antes da estreia. Desta busca incessante, carregada de justificáveis inseguranças, a única certeza que tenho é a de que, por estranho que pareça aos outros, ATOR é um ser inteiramente comprometido com a VERDADE.
Ceronha Pontes
de Camille Claudel
domingo, 3 de novembro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
O ABANDONO
Primeira vez que a encontrei ela se apresentou como Sakuntala. Que artista teria feito aquilo? Esculpido de tal maneira O Abandono? Eu me perguntava, arrebatada.
CAMILLE CLAUDEL.
Depois daquela visão eu não podia mais esquecê-la, nem me
conformar com a pouca informação de que teria sido amante do mais aclamado
escultor francês.
Levei anos procurando-a na França da época, no que haviam
escrito sobre ela, no que havia escrito ela própria. Sobretudo, procurei por
ela em cada uma de suas esculturas. E porque era inevitável, encontrei-a também
na obra e trajetória de Auguste Rodin.
A devoção ao Belo somou-se à indignação e logo não havia
como recuar deste compromisso de fazer ecoar o seu clamor:
“Exijo em altos brados a minha liberdade”.
Não pude ficar indiferente. Minhas mãos também doíam de
vontade esculpir. Mas não herdei o dom de minha Mãe. A ela devo talvez a
capacidade de me afetar com A Implorante
e a história de sua criadora. Então, sem qualquer habilidade para enfrentar o
mármore, ou mesmo um bocado de barro, ofereço minha própria carne com toda a humildade
de que sou capaz.
Tornou-se urgência também minha denunciar a necessidade de
abafar, destruir, banir aqueles que por algum atrevimento da natureza, vieram
selvagens, rebeldes, vibrantes, dotados de uma força criativa absolutamente
imprevisível. A violência com que a mediocridade atirou-se sobre um espírito
livre e revolucionário que ousou instalar-se num corpo de mulher.
A peça estreou em março de 2006, em Fortaleza-Ce. Foram
muitas as apresentações durante um ano e meio, até que a vida se impôs de
maneira a nos afastar por seis anos.
Em 2013, aconteceu de o Visões Coletivas/Nordeste
Contemporâneo, projeto de ocupação do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro,
pelo Coletivo Angu de Teatro e a Atos Produções Artísticas (Recife-Pe), me
convocar a resgatar este trabalho. A coincidência é que justamente em 2013 completam cem anos da internação e os setenta anos da morte de Camille Claudel.
Desde então renovado o compromisso de empenhar nossos dons
para que Camille não seja lembrada simplesmente como a amante de Rodin, ou a
irmã de Paul Claudel, muito menos como uma alienada, mas, como a grande e
revolucionária artista que ela foi. Deste modo esperamos também chamar a
atenção para outros tantos que, assim como ela, foram despojados de seu gênio e
tiveram suas vidas perversamente interrompidas.
Você se calaria? Eu também não.
CAMILLE CLAUDEL
Teatro Eva Herz, Livraria Cultura do Shopping RioMar (Recife-Pe)
De 08 de novembro a 08 de dezembro
Sexas e sábados às 20h
Domingos às 19h
Ingressos: 40 e 20 (meia entrada)
domingo, 27 de outubro de 2013
O barro de que sou
É escancarado que todos os dias da minha vida a peleja é seguir por onde o olhar do meu Pai, de tanto que lhe admirei a visão de mundo. Mas ensaiando Camille Claudel, sempre penso no quanto a minha arte se deve à sua, minha Mãe. É justo admitir e me render à sua clara e cara influência. De outro modo havia sim o risco de não ser tão atenta e sensível ao ofício de esculpir, e não despertasse para essa necessidade de se falar sobre Camille. E fazê-lo através do meu ofício, o teatro.
Foto: Eros Oliveira.
sábado, 19 de outubro de 2013
PARA NÃO ESQUECÊ-LA
Dezenove de Outubro. Há exatos setenta anos partia a Senhorita Camille Claudel. Neste 2013 em que também são lembrados os cem anos de sua internação, aquele meu espetáculo antigo sobre sua vida e obra, e que foi resgatado em março
numa temporada no Glauce Rocha/Rio de Janeiro,
entra em cartaz em novembro, no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Shopping RioMar, Recife-Pe).
Foto: Márcio Resende
sábado, 12 de outubro de 2013
A velha infância
Para Aninha, com todo amor.
Minha sobrinha dia desses eufórica ao telefone, porque havia encontrado na casa que foi do meu venerado Pai um caderno. O primeiro de capa dura que eu tive e no qual, na idade dela, oito anos, eu escrevia poesias.
- Titia, seus desenhos são HOR-RÍ-VEIS, mas a senhora escrevia cada coisa! Tem uma aqui que a senhora fez pro Vovô, A Canetinha Dourada, é tão linda, Tia!
Vão descontando da avaliação o fato de que é ainda uma criança e, ME AMA.
Ignorando meus protestos, leu pra mim, às risadas, quase todas. Morri de vergonha na hora, mas, depois me enchi de gratidão por ter de algum modo merecido observar e escrever aquelas puerilidades.
Não fui menina de conseguir correr na rua. Desajeitada, toda vez voltava, como diz a minha Mãe, com a cabeça do dedo arrancada. Mas tinha já olhos de enxergar poesia na algazarra da molecada da Rua Benjamin Constant, muito especialmente da Fátima do Pinto e da Rosa do Seo Chico Brício. Ninguém podia com elas e isto as tornava absolutamente FAS-CI-NAN-TES.
Eu era, no entanto, boa no trato com as bilas (bolinhas de gude), que jogávamos, meninos e meninas, na rua ou nos quintais da vizinhança.
Na época a rua era de paralelepípedo e enfeitada com pés de benjamins plantados na frente de quase todas as casas, com exceção da nossa, onde se exibia uma algaroba gigante, e das castanholas do Seo Chico Inácio. Falar em quintal, o de nossa casa tinha um pé de seriguela incrível, modelado de um jeito que facilitava sua escalada. Apavorada, raramente eu saí da base, mas ficava maravilhada com as habilidades da Joana do Liconde e da mana Ceiça "arriba e abaixo" dele. Cicinho do Seo Antônio Calô também se aventurava por ali.
Aquela velha casa empoeirada de gesso, o chão marcado por pegadas de menina pequena, encantada com as criaturas que a mãe esculpia. Ali eu dançava e fantasiava o futuro com a Jesus da Zefa e tinha a imensa alegria de ver entrar e sair a Dalvinha de Seo Leonel, que passaria trinta anos perdida de mim, mas que depois de recente e emocionado reencontro no Rio de Janeiro, não me escapará nunca mais. Era um tempo em que a primirmã Helânia, só um tiquinho mais velha, me usava para exercício de sua autoridade, e eu fingia obediência, para não decepcioná-la. Pobre prima não demoraria a perceber minha discreta, porém incorrigível rebeldia. Te amo, Ainaleh! Desta casa também não esquecerei que, embora nunca uma festança de aniversário, recebia todos os anos, na data querida, a visita linda da prima Mychelle e ambas ficávamos ansiosas pelo dia seguinte, quando era a minha vez de lhe retribuir a delicadeza no seu aniversário. Duas arianinhas , duas fogueirinhas do bem.
Medo d'água grande e de altura, quando a Barragem Pedrical não tinha sido aterrada na enchente de um ano qualquer, ficava excitadíssima e feliz só observando a menineira saltando nas águas de invernos generosos. Até o dia que meu Pai, que me queria destemida, me empurrou lá de cima do paredão e então eu não queria mais saber de outra coisa. Tibungo, tibungo, mil vezes tibungo!!!
Nessa fase do Pedrical a casa da família já era na praça da Igreja, o que facilitava estar com a primaiada que aportava na casa dos nossos avós, do outro lado da praça. Além da convivência absolutamente divertida com a Silvana da Dona Ilza e Seo Chiquim Pereira, e a filharada maravilhosa do Casal Bodim.
Da Escola General Sampaio e de outras ruas e vivências naquele meu Tamboril de saudade, é tanta infância pra guardar que temo cometer imperdoáveis esquecimentos ao citar nomes, mas, só Santo Anastácio, o padroeiro de lá, me adivinha a vontade de ir de A a Z passando necessariamente pela Aucileide de Seo Lourival, a Gilcéia do Seo Pedro Jesuíno, o Givaldo da Dona Zulmirinha, a Lalá da Dona Geni, a Leila de Seo Araújo, as meninas da Dona Medalha, as da Dona Socorro Eduardo e, pronto, INJUSTÍSSIMA com um sem fim de meninos e meninas que só de lembrar sou criança outra vez, e a quem peço desculpas, posto que lhes devo as mais sinceras alegrias. Do mesmo modo os primeiros companheiros de cena, quando teatrar não passava de brincar no palco da Casa Paroquial, com o apoio e estímulo do meu Padrinho, o Padre Helênio.
Cidadezinha cercada por serrotes lindos, onde me doía desde pequena, por sensibilidade própria e por toda a influência do olhar paterno, as agruras da seca, bem como nada jamais foi tão encantador quanto vê-la verdejar nos primeiros sinais das chuvas de cada inverno que testemunhei. Me ocorre de imediato que escrever tão espontaneamente aqui sobre chuva e seca é revelador de meu respeito à Natureza. Só a ela me rendo. Pé de pau, banho de rio, doce de leite feito no fogão à lenha da Tia Zélia, os canteiros da Vovó, suas flores. Meninada suada, assanhada, pé descalço nos terreiros. Todos muito livres naquele Torrão em saudosos tempos de paz. Paz que anda agonizando em tudo quanto é rincão, consequência de um jeito bastante tosco, perverso de se pensar o progresso, e que nos põe em estado lamentável de consumo. Consumo de descartáveis, consumo uns dos outros até que nos sintamos, como as coisas, obsoletos.
Oh, não, hoje não quero ser triste!!!
Quero é agradecer por ter sido menina pequena no velho Tambas, em companhia de meninos e meninas que transformavam qualquer pneu velho, qualquer lata de Óleo Pajeú em brinquedos mirabolantes, de fazer sombra nesses monstrengos vendidos a preço de ouro e pelos quais nossos pequenos de agora se acabam na ansiedade de possuir. Definitivamente, sou inteira agradecida por nunca ter tido a Barbie como ideal. Ver a Fátima do Pinto e a Rosa do Chico Brício correndo sem chinelos pelo calçamento, como se as pedras fossem nuvens, era infinitamente mais inspirador.
Agradeço à Aninha, que vivendo naquela casa onde eu fui essa pessoa aí, me devolve forças para seguir.
- Titia, agora preciso encontrar o seu livro O Papagaio Real. Me diga direitinho como ele era.
- Capa dura e branca, ilustrada com um papagaio bem grande, e colorido, e ferido. Talvez não exista mais. Traças, cupins devem tê-lo devorado.
- O cupim tão pequenininho ia morrer de dor de barriga comendo seu livro de capa dura.
- Cupins derrubam casas inteiras, Ana.
- Nossa! Mas eu vou achar, a senhora sabe que eu não desisto. Vou procurar na casa toda, todos os lugares, até no quarto do quintal, onde a Vovó disse que está o seu Pequeno Príncipe.
- Me prometa que não vai engolir poeira à toa, nem escalar aquele guarda- roupas velho.
- Hahahhahahaahha!!! Tá bom.
- Um beijo, meu amor.
- Pra senhora também.
- Tchau.
- Tchau.
Não botei muita fé na promessa da pequena. Que Santo Anastácio sempre lhe proteja nas suas travessuras.
Tia Cecé
Recife, 12 de outubro de 2013.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
LEGÍTIMA
Conhecendo através da hermosa atriz paraguaya, Tess Rivarola, a poesia de José María Gómez Sanjurjo. Gracias, Tess.
"Tú sabes cuánto alcanza a doler sobre la vida
el sueño de llevar los ojos siempre abiertos.
Tú sabes cuánto duele
un corazón bajo el girar del tiempo
un corazón, un ancla,
y la memoria del viento.
Una luz en la sangre
urgente y actual como un deseo,
y la penumbra a veces, esa sombra
sobre el alma cuando un pájaro se ha muerto".
E ele diria em outra:
"Te abandonas a la dulzura penosa de saber que el
amor es un cuento repetido que acaba
en tristezas."
Muito prazer, oh poeta!
Muito prazer, oh poeta!
terça-feira, 8 de outubro de 2013
O PERDÃO
Doía de incompreensíveis culpas herdadas daquele infinito atrás de si. A falta de ar, os suores, os fantasmas medonhos de noite e dia, os dons reconfigurados em nódulos grandes e rígidos que vão tomando o corpo todo até à incapacidade. Quem sabe morra? Ruidosa fantasia.
Um lampejo traz à lembrança, em letras azuis, as últimas palavras de uma crônica que lhe enviaram numa garrafa trazida pelo mar:
"E havia um sossego, uma tristeza, um perdão, uma paciência e uma tímida esperança".*
Repetiu como se fosse mantra até chorar. Chorar!
Sentiu, entre as dores, saudade. Não gostou e gostou. De um modo a saudade é reconhecer um bem, aprendeu com a morte do Pai. Que mal haveria em senti-la? De outro, ser surpreendida por súbitas e severas transformações dá saudade doente. Qual seja, chora. E este pequeno alívio é já capaz de apontar então "tímida esperança".
Em algum lugar adiante tropeçará no perdão, eu rezo. Amém.
Ceronha Pontes
Recife, 08 de outubro de 2013.
*Madrugada- Rubem Braga
domingo, 6 de outubro de 2013
NÓS
Eu Derrotada(D), mal me bulo neste domingão voluntariamente solitário. Eu Outra(O), não aguentando mais, abro janelas, lavo louça acumulada, tomo banho, ponho roupa limpa e convoco:
O- Bora.
D- Hein?
O- Naquela padaria que tu gostas.
D- Looooonge.
O- Por isso mesmo. Suar.
D- Domingo é perigoso caminhar por ali.
O- Perigosa sou eu. Bora!
Fomos. Eu D olhando para todos os lados, temendo cada alma vivente que se aproximasse, enquanto Eu O, com o corpo todo alinhado caminhava dona do mundo. Chegamos. Eu D fui do "não me interesso por nada" até uma súbita e estranha vontade de coxinha. Eu O, horrorizada, disparo:
O- Me poupe. Pãezinhos recheados com ricota e ervas finas. Sem choro.
Eu D, pra variar, pouco discuto, ousando apenas negociar com muito jeito a troca do habitual bolo de ameixa por um xadrez. Eu O, para surpresa, concordo. A pamonha pegamos sem nem comentar, posto que esta exerce fascínio absoluto sobre qualquer de nós, não importando sua repercussão na dieta. Eu O ponho uma latinha de chá para tomarmos no caminho de volta. Uns queijos...
O- Tá desinteressante hoje, né?
Eu D, entorto a boca como quem concorda, mas penso naquele lagarto em finas fatias marinadas. Pagamos. Na calçada Eu D falo antes que me arrependa:
D- Tá escurecendo e ficando realmente perigoso. Porque não tomamos um ônibus ou um táxi, sei lá, o primeiro que passar?
Eu O, com a segurança de um exército, determino:
O- Não. Andar. Se o bandido vier desarmado, só na senvergonhice, corremos aos gritos por entre os carros, vai ser divertido. Se vier armado, este aparelho de celular e o troco não vão fazer falta. Talvez os pães, mas, vão-se os pães e ficam os anéis, como é?
Eu D fecho a cara vencida e acompanho. Eu O bebo chá com a boca direto na lata enquanto Eu D penso nas bactérias, nos riscos à saúde, essas coisas. Em silêncio, obviamente. Chegamos em casa como Eu O queria, suadas, bem suadas. Concordamos com banho frio. E adiantava Eu D discordar? Comemos o que trouxemos e o que tínhamos em casa. Como diria a nossa Mãe, duas "sem lei", Eu e Eu. Barriga estufada, Eu D ainda comento, como quem não quer nada, o cheiro bom do churrasquinho na petiscaria da esquina, e Eu O não deixo por menos:
O- Qual a participação do boi no teu fracasso?
D- Do boi?
O- Do boi, da galinha, do gato... Que outros animais eles servem ali?
D- Ah, tá, foi só um comentário.
Silêncio.
D- Eu devia ir ao teatro. Prometi.
O- Dá um tempo, pára com esse martírio. O teatro espera, alguma dúvida? Sempre esperou.
Último gole de café com leite e:
D- Então vou ver o Faustão.
O- Nunca. Assim também é muita derrota. Precisamos estar atentas. Deve haver uma coragem aguardando o momento certo para atuar.
D- Você é bem corajosa.
O- Mas você não. De modo que estamos pensas e mancas. Quando a coragem tomar você aí eu quero ver. Doida pra ver o rebuliço.
D- Ok, sem Faustão, fazemos o quê?
O- Um filme?
D- Pode não ser do Kurosawa?
O- Não te preocupes, nem eu tou podendo com tanta humanidade. Um negocinho mais leve.
D- Então...
O- Non Ti Muovere, nem pensar. Meia Noite em Paris?
Silêncio.
O- Vick, Cristina, Barcelona?
Silêncio.
O- Aquele que você gosta... Faz tempo que não vemos...
D- O Jardineiro Fiel?
O- Eu ia dizer O Banquete do Amor, com o Morgan Freeman. Você gosta.
Silêncio.
O- Ok, The Constant Gardener, se você me der três motivos.
D- Rachel Waisz, Rachel Waisz e Rachel Waisz, não necessariamente nesta ordem.
Rimos. Eu O reclamo ainda, mas só de birra, já que o objetivo era despertar alguma vontade em Eu D e, convenhamos, vontade de Rachel Waisz é bastante coisa já. A gente se despede rumo à África, conduzidas com muito requinte pelo Fernando Meirelles.
Ceronha e Ceronha
Recife-PE, 06 de outubro de 2013.
P.S.: Eu O observo, mas não digo nada que é pra não estragar, que Eu D ainda nutro uma esperança.
LIVRO ESCANCARADO
Uma vez visitando a amiga Vanina Fabiak lá na sua Buenos Aires, enxerguei-a melhor. Havia um monte de coisas sobre ela que só era possível perceber ali, no seu lugar. Coisas que no Ceará, onde convivíamos, ficavam abafadas e não por mal, é claro. Uma incompletude natural, me pareceu, depois de vê-la inteira, e pode ser que tudo não passasse de impressão minha, nunca conversamos sobre.
Tenho pensado nisso procurando por mim. Tem uma aqui dentro que só é possível "em casa". Lembrando que gosto tanto e sou infinitamente agradecida a quem tente ou tenha tentado fazer felizes os meus dias longe de lá. Carinho e acolhimento são tesouros que reconheço, mas, está para além disso e não se tratará jamais de ingratidão.
É até verdade que o nosso lugar não precisa necessariamente ser o chão onde fomos paridos. Tem muita gente do sertão que tem a alma patagônica, ora bolas. Comigo não. Esta alma desambientada e dormente vaga por aqueles quase 300 km que unem Fortaleza ao meu Tamboril. Hoje mais do que em qualquer dos dias recentes. Na ânsia de improvável breve regresso, tenho suspendido a vida de um jeito que, se me hostilizam sofro, mas, se me convidam, pioro. Perdida em que "nada será como antes", feito a canção do mineiro, enquanto o "alvoroço em meu coração" clama pelo "luxo da aldeia":
Ceronha Pontes
Recife-PE, 06 de outubro de 2013
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
DESABRIGO
É quando aquele meio metro de distância fica do tamanho de uma volta ao mundo em noventa encarnações.
Ceronha
domingo, 22 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Un senso
Porque não existe melhor canção pra doer aos berros no chuveiro e quando ela entra em NON TI MUOVERE sou toda o coração de Timo perdendo Itália.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Mais do mesmo
Então...
Nos anos noventa Minnie Driver e Matt Damon juntos era muita inspiração. Prazer revê-la, querida "Skylar".
domingo, 8 de setembro de 2013
Sociedade dos poetas mortos
Domingo, tempo indeciso entre o "chove" e o "não molha", nenhuma pressa para decidir qual filme repetiríamos. Começamos com um que exigia muito. Preguiça de explicar a categoria "filme exigente". Trocamos por outro citado aqui esses dias. Então pra variar vai o título original: Good Will Hunting.
Ofereci meu colo a um marido já derretido no sofá. Aceitou. Os planos de cochilar sem culpa enquanto durasse a conhecida película foram abandonados de modo igualmente livre de pesar. Guardamos desde a tenra juventude uma identificação qualquer com aquilo. Simples e bobo(?) assim. Vidrados até que subissem todos os créditos e o digníssimo se levanta continuando a canção que rolava. Aguinha no rosto e havaianas no pé seguimos até a padaria preferida, cuja distância pede carro. Na "viagem" comentários soltos, sem pretensão de virar conversa séria. Até quando...
EU- Sabia que boa parte das canções do filme são do Elliott Smith? E que ele morreu com duas(?) facadas aos trinta e poucos? Parece que foi suicídio. Depressão, drogas...
Breve silêncio.
ELE- As pessoas que constroem coisas belas precisam de cuidado redobrado. O resto (das pessoas) tá muito ocupado com a desgraça pra enxergar sentido nessas delicadezas. Então os da criação começam a achar que não cabem aqui, ou que não querem desse jeito. Aí...
Pausa. Lembrou ainda nomes de outros.
Volto para casa pensando nos meus poetas mortos.
Termino o lanche desviando a culpa, pelo mal estar, para o creme de cebola que recheia um de nossos pães favoritos. Ligo o computador buscando distração e fuga em alguma novidade bem tamborilense. A pracinha do "face" desanimadinha que só. O mouse vai puxando, puxando, puxando...Ôpa! Alguém postou um link do jornal O Povo, lá do meu Ceará, com textos inéditos do Airton Monte (ah, como eu gostava dele!). A Bárbara, sua filha, tinha falado sobre estes escritos recentemente lá mesmo na rede. Entro. De lá trago estas palavras do cronista maior:
"Assim carrego meus mortos. E não me doem nada. São leves, suaves, vagarosos e brilham como pirilampos. Assim como vocês, Sitônio, Buy. Meu coração se expandindo como uma anêmona ao ser tocada. Fiquem minhas mãos trêmulas e escrevam um verso, deixem que as palavras cumpram seu destino mágico de estender as pontes sobre todos os abismos". (A.M)
Enquanto lia, o digníssimo se despediu com um beijo.
- Vou ali tentar descobrir o que é isto que eu chamo de eu.
Nada grave. Recolheu-se em meditação. Enquanto ainda penso naqueles "meus" que se foram por não caber aqui ou não desejarem o que está posto. "Prefeririam(os delicados) morrer", diria Carlinhos (Drummond de Andrade). Insegura entre "pontes" e "asperezas", pelejo. Ainda canto.
Ceronha Pontes
Recife-PE
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Banana frita à Botero
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Vaidade
Arrumar os papéis, devolver pra estante os livros espalhados...
Quando peguei n'A Confissão da Leoa, do Mia Couto, que li há algumas semanas, passei veloz as páginas e notei que uma estava dobrada. Ainda faço essa maldade com meus livros. Um amigo escritor só me emprestava se eu fosse ler na casa dele, onde só era permitido abrir o livro num ângulo de 45 graus. O exagero é porque, segundo ele, meus livros eram "redondos", de tão gastos. Melhorei um tanto, mas, ai, que vez em quando! Pois bem, neste Mia, apenas uma folha maltratada e fiquei curiosa sobre o que havia ali que eu não pudesse esquecer de jeito nenhum. Comecei. Fui, fui, fui atééééé a penúltima linha...
A última era uma fala do Avô da Leoa:
- Cuidado, minha neta. Escrever é perigosa vaidade. Dá medo aos outros...
Ceronha Pontes
domingo, 1 de setembro de 2013
Escafandrista
Para ver o conteúdo de todas as garrafas, clic no texto.
Essas lembranças de ti, e que não puderam me arrancar! Te tenho. E me guardas. Confio.
Ceronha Pontes
Essas lembranças de ti, e que não puderam me arrancar! Te tenho. E me guardas. Confio.
Ceronha Pontes
sábado, 31 de agosto de 2013
Extrema e suplicante
Ele sairia de férias, teve a decência de avisar. Seriam longas. Voltaria.
...
Sem notícias, ela é toda um lugar a meio caminho do luto. De onde nenhuma inspiração. Digam os outros.
Ceronha.
"Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
CIÚME ATRASADO
Eu- Eu sou uma atriz muito da "fuleráge" mesmo. Passada dos quarenta já (41) e não toco um instrumento. Tou pensando...
Eros- Piano? (Ele tá querendo comprar um.)
Eu- Não, acho que prefiro um menorzinho, que eu possa carregar. Violão, talvez.
Eros- Você canta tanto o Dominguinhos, porque não pega logo uma sanfona?
Eu- É... Sanfona...
Muuuuuito tempo se passou. Não sei quanto, mas o suficiente pra eu esquecer o assunto quando, de repente:
Eros- Vai não.
Eu- Hein?
Eros- Aprender sanfona não. Sanfoneiro é cabra "perigoso". Pode arrumar um professor de violão mesmo.
Ai, que eu fiquei tããão curioUsa.
domingo, 25 de agosto de 2013
Da outra extremidade lê-se:
A exceção é o enxerido do Pão Francês. De tudo o mais morro de preguiça da casca. Minha peleja é com o miolo, o tutano, sabe como é? E dói.
Ceronha Bisonha
Ah, o teatro!
Praticando Viewpoints na manhã deste domingo.
Registro divertido da Brenda Lígia Miguel, de mais um encontro do nosso Coletivo Angu de Teatro(PE) com a querida Amanda Lyra (SP). Hahahahaha.....
Idiossincrasias
Naquele tempo (97 ou 98?) eu fui ao cinema chorar não sei quantas vezes. E ainda choro.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Encolhida
"Então pensou que, por mais incompreensível que seja a vida, provavelmente nós a cruzamos com o único desejo de retornar ao inferno que nos gerou, e de viver ali, ao lado de quem, uma vez, nos salvou daquele inferno. Tentou pensar de onde vinha aquela absurda fidelidade ao horror, mas descobriu não ter resposta. Compreendia somente que nada é mais forte que o instinto de voltar para lá onde nos despedaçaram, e de repetir aquele instante por anos. Pensando apenas que quem nos salvou uma vez pode depois nos salvar para sempre. Num longo inferno idêntico àquele de onde viemos. Mas inesperadamente clemente. E sem sangue."
(Do romance SEM SANGUE- Alessandro Baricco.)
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Toujours
Algumas pessoas, de tão especiais, ficam em nós reverberando, reverberando, reverberando...
Tenho tido a sorte de encontrar algumas. Agora mesmo foi a vez de aprender um pouco com o músico Jean-Jacques Lemêtre/ Théâtre du Soleil-França (atentem para a música).
...
Para sempre.
Ceronha Pontes.
P.S.: Foto de Lilli Rocha.
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
O CORPO MUSICAL
Realização Coletivo Angu de Teatro-PE, SESC-PE e ATOS produções Artísticas.
Ainda Miacouteando
Só me pertence o que não abraço.
Eis como eterno me condeno:
Amo o que não tem despedida
MIA COUTO
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
1, 2, 3, 4 ...
Exercício de juntar um pedacinho bom aqui, outro ali...
1- Lilli (Rocha) e Tatá (Tadeu Gondim), são os ombros amigos cobiçados por dez entre dez.
2- O pé de feijão que a Ana plantou num vasinho da minha varanda tá crescendo bonito. Qualquer dia levo a pequena comigo procurar o que há lá no alto, feito fôssemos da turma do João ( e o pé de feijão).
3- Visitar a Oficina do Francisco Brennand uma "ruma de vez" num curto espaço de tempo. Eu sempre tenho vertigem quando entro ali.
4- Ando lendo Mia Couto (terminando A Confissão da Leoa). Deixo aqui este poema. Porque antes da consumação do ato, tudo é inspiração. Ah, a inspiração!
BEIJO
Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.
MIA COUTO
No livro "Tradutor de chuvas"
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