terça-feira, 8 de outubro de 2013
O PERDÃO
Doía de incompreensíveis culpas herdadas daquele infinito atrás de si. A falta de ar, os suores, os fantasmas medonhos de noite e dia, os dons reconfigurados em nódulos grandes e rígidos que vão tomando o corpo todo até à incapacidade. Quem sabe morra? Ruidosa fantasia.
Um lampejo traz à lembrança, em letras azuis, as últimas palavras de uma crônica que lhe enviaram numa garrafa trazida pelo mar:
"E havia um sossego, uma tristeza, um perdão, uma paciência e uma tímida esperança".*
Repetiu como se fosse mantra até chorar. Chorar!
Sentiu, entre as dores, saudade. Não gostou e gostou. De um modo a saudade é reconhecer um bem, aprendeu com a morte do Pai. Que mal haveria em senti-la? De outro, ser surpreendida por súbitas e severas transformações dá saudade doente. Qual seja, chora. E este pequeno alívio é já capaz de apontar então "tímida esperança".
Em algum lugar adiante tropeçará no perdão, eu rezo. Amém.
Ceronha Pontes
Recife, 08 de outubro de 2013.
*Madrugada- Rubem Braga
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