domingo, 8 de setembro de 2013

Sociedade dos poetas mortos


Domingo, tempo indeciso entre o "chove" e o "não molha", nenhuma pressa para decidir qual filme repetiríamos. Começamos com um que exigia muito. Preguiça de explicar a categoria "filme exigente". Trocamos por outro citado aqui esses dias. Então pra variar vai o título original: Good Will Hunting.
Ofereci meu colo a um marido já derretido no sofá. Aceitou. Os planos de cochilar sem culpa enquanto durasse a conhecida película foram abandonados de modo igualmente livre de pesar. Guardamos desde a tenra juventude uma identificação qualquer com aquilo. Simples e bobo(?) assim. Vidrados até que subissem todos os créditos e o digníssimo se levanta continuando a canção que rolava. Aguinha no rosto e havaianas no pé seguimos até a padaria preferida, cuja distância pede carro. Na "viagem" comentários soltos, sem pretensão de virar conversa séria. Até quando...

EU- Sabia que boa parte das canções do filme são do Elliott Smith? E que ele morreu com duas(?) facadas aos trinta e poucos? Parece que foi suicídio. Depressão, drogas...

Breve silêncio.

ELE- As pessoas que constroem coisas belas precisam de cuidado redobrado. O resto (das pessoas) tá muito ocupado com a desgraça pra enxergar sentido nessas delicadezas. Então os da criação começam a achar que não cabem aqui, ou que não querem desse jeito. Aí...

Pausa. Lembrou ainda nomes de outros.
Volto para casa pensando nos meus poetas mortos.
Termino o lanche desviando a culpa, pelo mal estar, para o creme de cebola que recheia um de nossos pães favoritos. Ligo o computador buscando distração e fuga em alguma novidade bem tamborilense. A pracinha do "face" desanimadinha que só. O mouse vai puxando, puxando, puxando...Ôpa!  Alguém postou um link do jornal O Povo, lá do meu Ceará, com textos inéditos do Airton Monte (ah, como eu gostava dele!). A Bárbara, sua filha, tinha falado sobre estes escritos recentemente lá mesmo na rede. Entro. De lá trago estas palavras do cronista maior:

"Assim carrego meus mortos. E não me doem nada. São leves, suaves, vagarosos e brilham como pirilampos. Assim como vocês, Sitônio, Buy. Meu coração se expandindo como uma anêmona ao ser tocada. Fiquem minhas mãos trêmulas e escrevam um verso, deixem que as palavras cumpram seu destino mágico de estender as pontes sobre todos os abismos". (A.M)

Enquanto lia, o digníssimo se despediu com um beijo.

- Vou ali tentar descobrir o que é isto que eu chamo de eu.

Nada grave. Recolheu-se em meditação. Enquanto ainda penso naqueles "meus" que se foram por não caber aqui ou não desejarem o que está posto. "Prefeririam(os delicados) morrer", diria Carlinhos (Drummond de Andrade). Insegura entre "pontes" e  "asperezas", pelejo. Ainda canto.

Ceronha Pontes 
Recife-PE





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