domingo, 5 de janeiro de 2014

Lettre d'Amour 2ª temporada (8)


Charlotte,

Reconheço e me desculpo por minha aspereza. É fato que estamos todas empenhadas em reencontrar o eixo.
Catherine, adoravelmente desastrada, no intuito de resgatar Marion da imensa tristeza, achou de lhe recitar o Bocage. Oh, meu Deus, o Bocage da nossa adolescência! Ela estava séria em sua missão, nós é que rimos. Belle, eu e até Marion. Rimos e sei que silenciosamente concordamos que líamos Bocage pelo prazer de nos mostrarmos meninas incomuns, você não acha? Você, eu lembro, aos 14 ou 15 já preferia o Drummond.  E é justo de sua Quadrilha que extraio minha explicação para todo este rebuliço do qual ainda vamos rir muito. Nós tivemos, temos problemas muito maiores. Talvez até por isso mesmo a vida nos dê o refresco de doer por algo que nos renda alguma canção tolinha, mais tarde. Certo, estou diminuindo demais a coisa, perdão.
Fato é: na Quadrilha tudo se explica. Você e Marion ainda não enxergaram o que se passa e a dura tarefa de trazer a luz para esses assuntos foi sempre da fria e calculista Hélenè. Marion amava alguém, que amava Charlotte, que não amava ninguém. Quando alguém desistiu de Charlotte, que por sinal estava longe e ocupada com questões de ordem outra, quem sofreu a perda foi Marion, que nunca foi o alvo, pobrezinha, mas que de vez em quando conseguia viver em seu lugar, prezada Charlotte, instantes da maior felicidade. Marion não sabe doer. E acontece que não podemos sacrificar tudo o mais em função de sua pouca habilidade para com as frustrações. Da próxima vez, Charlotte, preste mais atenção, antes de colocar sua Pequena em tão maus lençóis. Sei que não o fazes por mal.
Se vens, seja para ajudar Marion a aceitar que não era ela o alvo de seu objeto do desejo. Que isto nunca foi recíproco, tal e qual está posto pelo Carlinhos.
Marion é só uma menina que superprotegemos e não consegue aceitar que a vida não é só poesia, sabe? Não é só céu lindamente azul, sol se pondo na praia, metáforas rasinhas de canções para bonequinhas. É coisa de profissional, a vida. Amador se arrebenta, Charlotte. Tu, que és uma criatura mundana e safa, o sabes melhor que nós todas.
Ela vai chorar, vai se achar a mais injustiçada das criaturas, e aí? Não podemos lhe oferecer espaço para as suas inconsequências. Comprometer conquistas preciosas por conta de sua avidez adolescente. Que ela aproveite a oportunidade para encantar amores que não cabem da vida real. E deixá-los lá nesse não sei onde. Você, eu bem sei, tem seus refúgios e eu nunca a perturbei por isso. Que ela aprenda também, a distinguir o real da fantasia, é o que posso desejar. Não abro mão um milésimo de segundo da lucidez que nos faz avançar, e que você, quando doida, às vezes também se põe a questionar, mas, eu sei que você sabe quem lhe garantiu espaço favorável para a criação, e por isso não se importou de manter Marion sob controle até então. Pense nisso. Conversem claramente sobre isso. E ainda que não concordem com o que digo, não recusem a reflexão.
No mais, Belle estuda já seus papéis e não vejo a hora de ver a francesa em você. Boa sorte ou, merda, como vocês gostam de dizer.

Com amor,

Hélenè.

P.S.: Por último, quero dizer que tanto quanto cada uma de vocês, gosto de estar emocionada. Neste momento, como você pode supor, eu não estou. Não sinto nada. Acontece que, diferente sobretudo de você e Marion, eu não me desespero. É tudo uma questão de tempo. 

(Por Ceronha Pontes) 

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