domingo, 5 de janeiro de 2014
Lettre d'Amour 2ª temporada (7)
Charlotte, minha Doida,
Te escrevo de um quarto trancado a chaves para evitar a insistência das outras. Desde que anunciaste tua visita já consegui tomar um sorvete e te sou grata por me devolveres algum mel.
Tu és de fato a melhor de nós, embora não sobrevivas sem estas quatro atrapalhadas e nada carismáticas faces. Como é que consegues fazer o que fazes desde que optamos por me abafar as pulsões? Tu sabes melhor do que eu mesma o quanto isto pode te atrapalhar a criação. Para ti não deveria haver zona que fosse proibida. Charlotte, à tua missão, liberdade absoluta é imprescindível e, no entanto, concordaste em comprometer isso para me proteger de minha incapacidade de permanecer saudável no exercício de meu próprio desejo. Me perdoa, querida. É justo te sacrificares assim? E se eu aprendesse o que fazer do monstro que toma corpo toda vez que me deparo com isto que nos assombra novamente?
Não te demores mais. Ainda que não encontremos solução mais eficiente que a condução de Hélenè, me abraça forte, me deixa encharcar tua camisa com a minha dor.
Hélenè também sofre. Ela está fazendo das tripas coração para não gritar também, para não me empurrar para uma vida só minha, me responsabilizando por saltar ou me defender do abismo.
A opção por Hélenè tem 99% de chance de nos levar a uma velhice suave, mas, até ela, penso, gostaria de saber às vezes como é chutar o balde, coisa que você faz muito bem e que eu pratiquei muito em sua companhia, debaixo de temporais.
Nós estamos vivas pela sorte de ter Hélenè entre nós, lembro inevitavelmente disso a cada vez que a raiva de me ver bloqueada se manifesta. A vida, a vida mesmo, no seu conceito mais básico, é muito preciosa. Não é covardia optar por ela. Entretanto, quero descobrir um jeito de me cumprir sem lhes roubar a chance. Talvez eu tenha o dever de contribuir mais que com panelas de brigadeiro e arroz com lentilha.
Me ajude, Charlotte.
Sua minúscula Marion.
(Por Ceronha Pontes)
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