domingo, 5 de janeiro de 2014

Lettre d'Amour 2ª temporada (6)


Hélenè,

É impressionante o "profissionalismo" com que te diriges a mim. Nem com Isabelle, com quem divido as agruras do ofício, conseguiria me portar tão burocraticamente. Trata-se das nossas vidas, Hélenè, ou nossa VIDA, se você prefere nos aprisionar no singular.
Não, não vou acusá-la de nada. Mas você não pode esquecer que não constava no nosso "contrato" impedir-me a sina minha. Aliás, estive sempre muito certa de que meus dons também nos garantem alguma saúde.
Naquele momento você queria sim, nos obrigar a seguir com você numa viagem que nos colocaria a todas em situação de escravas das convenções. O pão, Hélenè, permita que lhe diga, não pode custar tão caro e, contra isto eu sempre lutarei.
O assunto agora é Marion. No tocante a ela lhe devemos muito, Hélenè, e nem Marion nem eu teríamos como negar. Não passaremos, no entanto, o resto da vida lhe agradecendo, se é o que espera.
Belle e Catherine, a nossa Bisonha, nunca sequer estranharam, posto que ficaram muito bem acomodadas em seus papéis. Belle nos cuida porque é a mais equilibrada, estudiosa e razoável, além da boníssima índole. Catherine parece descartável para quem vê de fora, mas nós sabemos com quanta inspiração ela contribui, sempre tão bem acompanhada de gente como Vladimir , Arthur, Delmira, Richard, August, Lucien...
Sobrando para você, Marion e eu, a carne, o sangue, e os ossos em dor. Ou vai querer me convencer de que sua função não lhe matará qualquer coisa de muito cara?
Peço que seja amena a sua postura neste momento e que tenhamos condições de ajudar Marion mais uma vez, enfrentando mais corajosamente a verdade de seu coração, antes de lhe envolvermos com panos quentes que o tempo, fatalmente, esfriará.
Lhe respeito o lugar na nossa história Hélenè, mas, somente juntas é que deveremos escrever o que deverá ser lido após "aqui jaz". O singular proposital, para te lembrares que seremos tanto mais UMA, quando todas plenas. Equação difícil? Dificílima. Mas não existe saída.
Estou chegando.
Um abraço tão respeitoso quando verdadeiramente amoroso,

Charlotte.

(Por Ceronha Pontes)

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