sábado, 7 de junho de 2014

HUECO


Dói não, Maria. O peito? Assim, só o peito mesmo? Dói nada.
Un hueco, um oco. Vazio é desprovido de sensação.
O que dói, este sim, é o coração. Menina, o pobre músculo foi subtraído feito fosse um mal, foi o que me contaram. Feito fosse um câncer.
Maria, para onde vai o câncer depois de passada a faca? Em que monturo ele termina de apodrecer depois de desdenhado, extraído e cuspido fora? Pois é lá que está o coração, bola de carne infeliz e sem serventia, pobre, podre e desgraçada, com a "vermarada" fazendo a festa.
Aliás, o esvaziamento podia ser geral, não? Bem me levassem as tripas, o tutano... Quê mais?
Porque, Maria, eu não vou te mentir: um nada desses era muito do bem-vindo à cabeça, por exemplo. Un hueco se abrisse, onde nem eco, compreendes? Só o oco esquecimento, e fosse doer o pensamento lá onde dói o coração. Hein, Maria, sabes onde? Pois num diga não. Deixe lá, deixe quieto, deixe de confusão.

Ceronha Pontes

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