domingo, 8 de junho de 2014

Fiofó dos ôto


Com um escrotíssimo "seja forte!", encerrou Antônio Pedro a nossa conversa de outro dia. Ora, mas que mania feia do mundo, e do Antônio Pedro igualmente, essa obrigação da fortaleza. Mania de cravar as pernas bambas em salto alto quando nem de rasteirinha se agüenta. E não basta. É preciso prestar contas com as redes sociais. Força e alegria inabaláveis ostentadas em selfies deploráveis, com os dizeres de "ocupado em ser feliz", eu agüento?
Ah, minha amiga, mas a alegria, falsa que seja, inclui. Experimente ser triste e veja.  Ainda que também a tristeza não escape da transitoriedade, quem suporta? Tristeza, mesmo ligeira, não vende, Nêga. E se não vende, não compra. E se não compra, está por fora. Por fora, meu bem, é onde me encontro e me vem o Antônio Pedro, depois de tudo que contei a ele, com um "seja forte"? Olhe que estou me segurando para não enfiar o que me arde no "fiofó" de Antônio Pedro, só para ver o pinote.
Mas sabe que é capaz que ele nem sinta? É sim. Vai se habituando com a aspereza da superfície, se entretendo com a cachaça... Ô mulher, o Antônio Pedro não bebe, eu sei. A cachaça é só uma metáfora. Ele vai se iludindo com essa alegria de vitrine, de modo a perder a capacidade da inadequação...
Tu não estás entendendo, Maria Alice? Qual é a parte que te falta compreender, Maria Alice? Estou te dizendo que estou triste, Maria Alice, e não sei quanto tempo vai durar. Que estou portanto inadequada, indesejada, persona non grata, mulher. E não seja louca você de me mandar ser forte. Porque eu não nego o fracasso e o luto, criatura. Quando a vida nos convida, está inclusa no pacote, de tempos em tempos, esta agonia. Não vai adiantar essa cagação de regras para estar por dentro, padecendo de virtual felicidade. "Sorria, você está sendo filmado". Pois vou aparecer dando o dedo. O mesmo com o qual eu enfrentaria o cu de Antônio Pedro. E o teu, Maria Alice. Pimenta eu tenho. Não seja louca. Conversa de "seja forte"... Ora, ora. 

Ceronha Pontes

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