quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Carta para Elliott


Dear Elliott,
Por aqui a mesma insanidade que tu, sábio, abandonaste. Por que insistimos? Eu não tenho uma resposta. Um vaivém absolutamente infrutífero sobre esta bola doida flutuante onde as conexões se quebram a todo instante. É o movimento desses tempos. Não digo que natural, porque natural para mim seria a empatia, mas é como acontece e nos enreda de um jeito ou de outro.
Não, eu ainda não me entendo com o Johnny Walker, mas se não funcionou contigo, por que comigo?
Mezinhas homeopáticas e agora os búzios. É. Recomendações de Nikolaj. Um lance com o santo de cabeça. Ah, Nikolaj sim, se entope desse veneno que tu te aplicavas, mas, como se sabe, não se move do fundo com aquele peso todo, a não ser para me escrever e é a única coisa que me comove no meio disso.
Pus você para tocar faz pouco. Não consegui ouvir por muito tempo. Sarah também veio de madrugada, mas a dispensei antes das 4.48 e sinto que foi o instinto agindo à revelia da minha incompreensão. Também no caso da sua canção. Precisava te dizer, porque fiquei me vendo desligando você e não me senti bem. Desligar, calar quem só me fez afago? Pareceu-me injusto e feio. Quando o fazem comigo me sinto absolutamente constrangida. Então me perdoe.
Não te preocupes com as facas aqui. Nunca estão suficientemente afiadas. Também o instinto? Quem sabe? E eu não quero mais pensar. Volto outro dia. Me despeço com a mão no coração e os olhos apertados.
Por último, não vou ficar para ouvir, mas deixo no ar a sua Miss Misery. A propósito, Minnie Driver segue linda.
Um beijo.
...?
Uma questão: como assino?
...
(De Ceronha Pontes – CARTAS)

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