segunda-feira, 28 de julho de 2014

Demora



É Timoteo entrando no salão. Tenho vontade súbita de correr até lá, mas não posso com seu coração exausto neste momento, também o meu anda mal acomodado na garganta. Tão logo me recomponha lhe ofereço algum descanso. Depois do sofrido renascimento de Ângela, ele vai precisar. Itália por certo não ficará magoada por eu estender a mão a ele. Sabe que eu não arriscaria. Do mesmo modo eu também não seria desleal com Timoteo, sujeitando-o a uma visão suspeita de nós duas. Nunca.
Por enquanto me debruço sobre a obra da Hilda Hilst¹. Sou o seu Ruiska e moro no seu Fluxo-Floema. E já é atividade suficiente para um coração esmagado por uma agonia recorrente que vem do meu sertão. Que tem o tamanho do meu sertão. E queima, como o sol de lá. Quem bem soubesse não cometesse a sandice de confundir-me a tormenta com dor de amor. Eu bem gostaria. São bonitas as dores de amor. Até quando resultam trágicas. Quem bem soubesse, ficasse pianinho, pianinho. Não acrescentasse ao que já me atrapalha tanto na construção deste "porco com vontade de ter asas".
Quando ele finalmente voar, Timoteo, me aproximo, me embriago contigo, te chamo pra dançar. E iniciaremos a série O Baile, na qual dançarei e trocarei confidências com criaturas (da realidade e da ficção) com as quais me identifico. Criaturas que me comovem e me ajudam a ser. O Baile, tal e qual Como Água para Chocolate, tem nome abusado e de filme que me inspira. Com a licença agora do Ettore Scola.

Ceronha Pontes

¹ Trabalhando na Mostra Hilda Hilst - prosa e poesia, que acontece neste 29 e 30 de julho de 2014, lá no Café Castro Alves. Rua Capitão Lima, 280, Santo Amaro, Recife-PE. Sempre às 20h.

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