Primeira vez que a encontrei ela se apresentou como Sakuntala. Que artista teria feito aquilo? Esculpido de tal maneira O Abandono? Eu me perguntava, arrebatada.
CAMILLE CLAUDEL.
Depois daquela visão eu não podia mais esquecê-la, nem me
conformar com a pouca informação de que teria sido amante do mais aclamado
escultor francês.
Levei anos procurando-a na França da época, no que haviam
escrito sobre ela, no que havia escrito ela própria. Sobretudo, procurei por
ela em cada uma de suas esculturas. E porque era inevitável, encontrei-a também
na obra e trajetória de Auguste Rodin.
A devoção ao Belo somou-se à indignação e logo não havia
como recuar deste compromisso de fazer ecoar o seu clamor:
“Exijo em altos brados a minha liberdade”.
Não pude ficar indiferente. Minhas mãos também doíam de
vontade esculpir. Mas não herdei o dom de minha Mãe. A ela devo talvez a
capacidade de me afetar com A Implorante
e a história de sua criadora. Então, sem qualquer habilidade para enfrentar o
mármore, ou mesmo um bocado de barro, ofereço minha própria carne com toda a humildade
de que sou capaz.
Tornou-se urgência também minha denunciar a necessidade de
abafar, destruir, banir aqueles que por algum atrevimento da natureza, vieram
selvagens, rebeldes, vibrantes, dotados de uma força criativa absolutamente
imprevisível. A violência com que a mediocridade atirou-se sobre um espírito
livre e revolucionário que ousou instalar-se num corpo de mulher.
A peça estreou em março de 2006, em Fortaleza-Ce. Foram
muitas as apresentações durante um ano e meio, até que a vida se impôs de
maneira a nos afastar por seis anos.
Em 2013, aconteceu de o Visões Coletivas/Nordeste
Contemporâneo, projeto de ocupação do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro,
pelo Coletivo Angu de Teatro e a Atos Produções Artísticas (Recife-Pe), me
convocar a resgatar este trabalho. A coincidência é que justamente em 2013 completam cem anos da internação e os setenta anos da morte de Camille Claudel.
Desde então renovado o compromisso de empenhar nossos dons
para que Camille não seja lembrada simplesmente como a amante de Rodin, ou a
irmã de Paul Claudel, muito menos como uma alienada, mas, como a grande e
revolucionária artista que ela foi. Deste modo esperamos também chamar a
atenção para outros tantos que, assim como ela, foram despojados de seu gênio e
tiveram suas vidas perversamente interrompidas.
Você se calaria? Eu também não.
CAMILLE CLAUDEL
Teatro Eva Herz, Livraria Cultura do Shopping RioMar (Recife-Pe)
De 08 de novembro a 08 de dezembro
Sexas e sábados às 20h
Domingos às 19h
Ingressos: 40 e 20 (meia entrada)