terça-feira, 26 de julho de 2011

LETTRE D'AMOUR nº 2



Belle, 


Conduzir-me é muita pretensão, devo lhe dizer. Quando aprenderás? Sigam vossa viagem, ora pois. Melhor que aproveitem o caminho enquanto este lhes dê perspectiva. Dentre nós sou a que se presta aos espinhos e, sobre cobras, bem, me diverte mais que engolir sapos.
Sem cura, será preciso às vezes perder algum tempo com o inimigo. Quando ele se aquietar novamente, e ainda for possível e desejável, vos alcanço. Cada uma se recolhe à conveniência de sua mazela específica, não foi sempre? Coube a ti cuidar, eu sei. Oh, que lástima! Mas não nos perturbe em demasia, não se cobre assim. Não lhe pese tantos desdobramentos. Desafortunado destino. Admita e se adapte.
É indispensável que não alimentes a ilusão de me encontrar mais forte a cada vez. Mentira que a dor nos ensina esta coisa. Prevenida, não te assustes com o quanto me transfiguro. Conhecesse os desvios da covardia, não teria pudores em me refugiar. Os covardes duram mais, repare. 
Cuide-se, e das outras, e de minhas criaturas. Por enquanto, em palavras mais ásperas e, espero que assim convincentes, ME DEIXE EM PAZ.


Charlotte.


P.S.: Seria injusto não lhe dizer que devo tanto ao seu atrevimento.


Por Ceronha Pontes
Nulle Part,  num dia qualquer


oui, pour nous:

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