sexta-feira, 30 de maio de 2014

Tercos, pero no mucho.


Existem os falsos, é uma triste verdade. Ah, como existem! Mas nem por eles fiz-me o tipo que não acredita em gente "boazinha". Desconfio é de gente desconfiada demais. Até porque, e me desculpem a pouca modéstia, sou bem inteligentezinha pra sacar as pessoas. Tem aqueles cuja bondade legítima se apresenta em gentileza e doçura constantes, por que não? Não é uma maravilha? O mundo fosse feito só pelos duros já tinha se arrebentado.
Entretanto, e por pura diversão, admito uma queda pelo bem que vem embalado em casca grossa. Acho um luxo essa contradição. Daí porque Mario despertou rapidamente minha afeição, apesar de eu nunca manifestá-la claramente diante daquele TERCO. Ele mesmo me ensinou o termo.
Do Mario só vou dizer que é um peruano que conheci na temporada em Cusco, e de quem não poderei esquecer pois deixou marcas na minha vida, influenciando minha visão das coisas. Batemos de frente e foi quando me chamou de TERCA. Tradução em espanhol mesmo:

Se aplica a la persona que se mantiene firme en una opinión o actitud a pesar de las razones o las dificultades que pueda haber en contra.

Simpático o adjetivo, não?
Na visita de despedia de Saqsaywaman (Cusco-Peru) em sua companhia, ousei, depois de ouvi-lo um tanto, fazer-lhe uma pergunta sobre o tema que dias antes me levou a buscar sua ajuda e ensinamentos, e ele me respondeu com outra:

- Quem pensas que eu sou? Não acreditas em mim?
- Claro. Pergunto justamente porque não sinto em mim e queria que você me dissesse, pra eu poder acreditar.
- Você é uma mulher tão inteligente! Mas precisa ser doce, que é pra não afastar as pessoas de você.
- Isso não dá. Como você mesmo me disse outro dia, sou terca.
- Então reze. Peça a Deus por coisas boas em seu coração.
- Sabe que eu tenho vergonha de pedir as coisas a Deus?
- Devia ter vergonha de pedir a mim.


Certo de que não sairemos vitoriosos se eu não cumprir o que me cabe, ainda me diria:

- Será que eu me desgastei tanto, trabalhei, suei, rezei pra nada?

Pesou-me a responsabilidade e a gratidão por sua dedicação a uma brasileira abusada que bateu nas suas portas azuis em Saqsaywaman, e ele cuidou e ensinou o que podia.
Essa conversa todinha sem maiores esclarecimentos do que se trata, resulta do fato de que hoje o fracasso se impôs novamente, mas com uma diferença que devo a ele: minha fé não se abalou. Admito, lúcida, a possibilidade de não alcançar o sucesso nesta batalha específica e íntima, mas foi um avanço me ver disposta à luta até que cessem todos os recursos. Prevendo que esta conduta resvale em outros setores da minha vida, melhorando-a, tenho agradecido e rezado conforme ele me ensinou. 
Antes de ontem, entre um suco de batata inglesa que me acalmasse a imensa dor no estômago, e uma prece, chamava tão forte seu nome que devo ter feito eco em sua montanha, entre as muralhas construídas por seus ancestrais. 

-Mááárioooo!!!!! 

Quase fui capaz de ouvir um desaforo de volta.
Pela Paz e Justiça simbolizadas pelo majestoso Condor dos Andes, pela Força e Poder do Puma e a Sabedoria da Serpente, que a fé ali conquistada não me abandone nunca mais. Que eu viva pela Verdade, Humildade, Harmonia, Amor e Sabedoria que propõe a Estrela das Cinco Pontas. No mais, diria meu amigo Drummond: "a vida não chega a ser breve".


Registro do nosso último encontro. Nós que provavelmente não posaríamos para uma mesma foto, mas fomos flagrados por Eros, que acompanhou tim-tim por tim-tim a nossa divertida queda de braço.

Ceronha Pontes


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