O instrumento dos anjos.
Sabe quando o Outro te surpreende, encanta, impressiona e emociona, de modo que a ti não te resta senão enfrentar teu próprio abismo? Foi assim hoje conversando com o Mestre Sabino. Artesão cuzqueño, que confecciona instrumentos musicais. A cultura Inca por quem a carrega no sangue e na alma, por gerações e gerações. E ainda ouví-lo, e ao seu filho, tocar instrumento andino raríssimo, por pouco não extinto. Foi uma aula de resistência, carregada de ternura. Suas mãos de aparência rude, mas cuja delicadeza ensinando as minhas, tão inábeis, a lidar com as cordas, da ordem do inequecível.
(Ele tocava.)
- Señor Sabino, que cosa tan bella! Cómo se llama este instrumento?
- Marimacho.
Es una palabra en quechua?
- No, no. Sabes que es lesbiana?
- Por supusesto que si!
- Entonces, Marimacho.
(Eu rio. Ele explica.)
- Este instrumento no tiene genero, por esto Mariamacho.
(Eros intervém.)
- Como los angeles, que no tienen sexo.
(Elegi então meu instrumento e o ganhei de presente. É de cordas, como um violão. Só que andino e raríssimo. E tem nome que contempla meninos, meninas, anjos e quem mais.)
Ceronha
Cuzco, Peru.
04/04/2014
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