domingo, 6 de abril de 2014

O sangue impuro



A conversa (sempre longa) de ontem foi com o Mario. Sobre ele próprio tenho razões para não falar muito, mas que ele me fez refletir sobre as nossas referências abandonadas, negadas. Aqui, mesmo as pessoas mais simples não esquecem que foram invadidas, escravizadas, roubadas. Que tiveram seus templos soterrados e, sobre eles, erguidos os templos do colonizador. Símbolo perverso da vitória, pisar e abafar a cultura dos "derrotados".
No Brasil não falamos muito sobre os indígenas. Não nos importamos de não falar guarani. Tanto mais respeitáveis quando aceitos pela parte banca da mistura. Ainda hoje lhes pedimos a bênção.
Mario imagina que nós brasileiros vencemos o racismo, pois esteve aí numa situação muito especial, onde foi muito bem tratado e respeitado. Ainda teremos tempo de lhe explicar que estamos longe disso. Que queimamos índios, que excluímos (quando não matamos) negros, que "frescamos" com a cara dos nordestinos, que matamos mulheres e homossexuais. Ontem era importante ouví-lo. Radical, o Mario, e é compreensível. Duro, dizia que o homem branco não é inteligente, por isso dedicou-se a invadir, destruir, saquear, tomar para si o que a outro e por direito pertencia. Não creio totalmente nisto, mas o contexto lhe justifica o rancor. Com ele concordo, e nem é difícil, que a História é mentirosa, pois manipulada. Por isso quero ouvir os "vencidos". Com este propósito e a ajuda da professora Paula, encontrei o Felipe Gauman Poma Ayala. Vivi 42 anos sem saber dele e de sua Nueva Crónica y Buen Gobierno. Tempo de repararação.

Me despeço para poder mergulhar em seus escritos e desenhos. Ele que viveu a época e sofreu na pele a ação do invasor. Besos cuzqueños.

Ceronha
Cuzco, Peru.
06/04/2014

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