sábado, 8 de fevereiro de 2014

Adeus a Mia Lil


Nesses dias em que me ausento, Mia, ainda que te traga em pensamentos, suspiros e soluços, mas sem correr o risco de cruzar com tua torturante figura, me obrigo a constatar, como havia já em outros tempos e não quero ter que provar novamente, que o desejo é coisa por demais e inquestionavelmente desarrazoada. Basta ver o meu estado. Inadmissível para um sujeito da minha envergadura. O desejo nos põe miúdos e risíveis.
Você brincou de amansar animal exótico e feroz. Quando pôs o bicho domesticado e aos teus pés, era hora de variar a caça. Na verdade esteve variando a caça por todo esse tempo, uma vez que não devias lealdade alguma a bicho tão arredio, não é mesmo? Justíssimo, querida. E há outras peles, minha criança, que exibidas sobre a tua, serão como o troféu que persegues e eu jamais poderia, porque os da minha raça são de pouco colorido e nenhuma serventia ao teu intento.
Agora cuspa no bicho grande e machucado, dê-lhe todos os pontapés que desejou enquanto este, posando de indomável, lhe contrariou com as mais diversas dificuldades. Você merece toda esta celebração, minha adorada. Festeje mesmo. Indigno sou eu, que despenquei dos anos meus, e do modo como os vivi, enfiando a cara na latrina, a um passo de abdicar de minha fortuna em função de tão volátil criatura.
Quando sei de você desfilando em companhia dos de sua natureza, penso, embora doendo, que está tudo certo. Meu lugar é este mesmo, fumando o meu cachimbo, esperando a sua falta tornar-se alimento de meu sarcasmo. Sou este urso cansado voltando pro habitat. Nos encontraremos pela selva, por certo, e saberemos dividir a mesma beira de rio onde matar a sede, civilizados e profissionais.
Quanto ao poeta se sua afeição, está laçado. Ainda não sabe, mas está laçado. Celebre isto também, você merece, tinhosa.
Adeus, pequena Mia Lil. Deixo uma canção cujo sentido o tempo, muito tempo (és tão jovem, Mia!), lhe dirá.

Frederick.

(Por Ceronha Pontes)


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