sexta-feira, 6 de julho de 2012
Carta ao Poeta
"Voemos, poeta,
à altura das águias.
Cantemos para espantar as trevas do mundo."
Maiakóvski
Vladimir, meu velho amigo, espanta-me não encontrar em ti o alento habitual. Tu, entre aqueles que me dão de fantasiar grandezas em mim, porque me faltas? Assim, consciência absoluta de vexatória pequenez, apavoro-me.
Se ao menos eu acreditasse em que a felicidade é questão de enxergar no outro uma dor além. Mas acontece que, mesmo não sendo da tua estirpe (como eu gostaria!), jamais estive em posição tão mesquinha. Oh, por piedade, não me desminta!
Não existe dor alheia, felicidade alheia. Uma e outra, nas suas infinitas faces, me pertencem. Que seja de um modo tão menos relevante de como mobilizam a ti e aos teus, é o que tenho. Extremos para onde somos, os tolos, atraídos. Quanto mais descompensados, mais vivos. Vamos escapando.
Pois eis que me canso deste vaivém sem convincente justificativa. Já não me inspiram o gozo ou a agonia, em sua expressão maior ao meu alcance, embora respire por estes, senão por fé, por pavor de me ver de repente sem conexão ou identidade, como me acostumei a compreendê-las. Não aprendi nada além de habitar os pólos. Até quando?
Tuas palavras, Vladimir, as mesmas palavras, nenhuma fora do lugar, porque diabos não me respondem mais?
Creia, a desesperança é ameaça demasiado grave para não ser respeitada. Luto.
Ceronha Pontes
Reccife-Pe, 06 de julho de 2012
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