Foi o Cazuza com aquele papo de dormir "agarrando uns quatro travesseiros" ¹, ou foi a carta antiga que pulou das páginas do Neruda, ou ainda o conhaque, A Suplicante ², o Ennie Del Mar ³, O, A, Aquilo, Aquele, Aquela, sei lá, tudo junto e otras cositas más carregando a inspiração aqui pras bandas da saudade. E dói. Dor de perder o juízo e botar a boca no mundo, entregar teus segredos, explorar tuas mazelas, denunciar tua crueldade, punir-te. Arrastar tua banca pelos becos até dar no sangue, no osso, na ALMA. Em lá chegando, cravar-te espinhos, giletes, cacos de vidro, punhais. Então te entregar ao Diabo. E esquecer. Quisera.
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Ceronha Pontes (Ursa Entrevada)
30 de julho de 2012
P.S.: Desculpa moço, não vou "tomar um drink num drive-in". Não com um estranho. E não me chame de "princesa". Passar bem.
notas de rodapé:
¹ Não amo ninguém, com o Cazuza, nos tempos do Barão Vermelho. Você pode ouvir clicando aqui. O título também é referência a outra canção do "exagerado", e eu não tou pra Codinome Beija-flor.
Buenas tardes, embolorado Bloguinho! Ai, que espirro só de acessar. Sorry, se nunca mais uma visita nem pra uma aguinha nas plantas, comidinha pros bichos, ou aspirador. Compreensão, meu caro. Também tou quase de volta ao pó. Repare. Tenha dó. O Digníssimo em Bombaim, minha Mãe um iceberg, a Vó sem telefone (que as prestadoras mal dão conta dos encarnados, quanto mais...). De resto, uma viagenzinha aqui, outra ali, teatrando às vezes mais pra mais, outras nem tanto, sacumé? O Planalto Central? Tava legal. Gente bonita do mundo inteiro no festival, e gente amiga que vejo pouco mas, fica ali, guardando simpatia pra quando. Simbora, que a ligeireza da vida não tá de brincadeira. Consegue não, pra frente? Tá, não deixa de ser divertido ter o que olhar lá atrás. Topo. Vamo ver no que dá este agarramento com o Já Era. É o quê? Que estás dizendo? Bicho, se oriente. Não continue. "Vai ser um erro, uma palavra, a palavra errada, nada, nada, basta quase nada e eu já quase não gosto" *. Putz, me obrigas a dar voltas, escapulir, caetanear. Isso, ria. Foi quando que andamo na reta, hein? Admita, boa pacas nisso de tirar o teu... E o meu, que não sou besta nem nada. E agora? Isso é que não! Botar valor no que não tem? Depois, a história não é essa. Bem outra. E por falar, sonhei de novo. Era um lance meio brincadeira de criança, tipo dar as mãos, esticar o corpo pra trás e girar bem muito. Na tontura o sujeito foi virando mulher. É. Assustadoramente magra, de expressão muito pesada e uma voz dizendo pra eu não largar, que era ele mesmo e que eu confiasse. Confiar? Foi feito voltar num tempo que eu não lembrasse e a pessoa de meu bem querer ser outra, de me pôr medo. Eu sei que tu crês em vidas além. Pois bem. Teve aquele lance. Melhor. Cara, eu era feliz e tu não existias. Foi só depois que eu precisei. Qual é a bronca? Uns usando os outros, assim caminha a humanidade. Se iluda não. Dependendo do como, diz-se amor. Convém. Nem venha. Pra isso aí me falta envergadura. Sustento é porra! Porra, nunca entendi. E tu tinhas que lembrar, né, malvado Blog? Brincadeira sem graça. Eu bem que sugeri: pra frente! Agora eu que me dane. Isso vai botar zoada no peito até um dia. Se eu chorar, quem escuta? Quem seca? Quem se importa? Tu? Vale não. Vale nada. Vale o quê? Aquilo sim, "cataclismas, carnaval"**. Olha aí, de novo, caetanices, provocações. Escuta. Escuta. Escuta. ... Ceronha Pontes 29 de julho de 2012 P.S.: Os links indicam os seguintes posts relacionados: 1- O Tufão & a Flor 2- Língua Má 3 Amor engarrafado, palavras ao mar 4- Angie 5- Etéreo 6- Silence 7- Amarela 8- Correndo pro mar 9- À Francesa 10- Eles 11- Escândalo Caetano Veloso em: * Da maior importância ** Ela e Eu Extra:
Um ano depois da sua amada M,o Velho G nos deixou. Bem quando eu já não me aguentava mais no papel de fodona, que não arreia das canelas nem a pau. Neste momento sou da opinião que não é vergonha nenhuma a pessoa ficar aos cacos.Estou. Da penúltima vez que nos vimos ele parecia por demais cansado disso tudo. "Não estou sarando", afirmou sério, dolorido. Desconcertada, desandei a falar besteira. Tem coisa mais constrangedora que mentir esperança a quem se quer bem? E pra quê? Ele mesmo havia, há muito e sinceramente, desistido. Por razões de minha absoluta compreensão. Sei como é fazer morada no outro e não me gabo. Antes, tenho é medo de experimentar perder a "casa", ficar ao relento. Última vez estava sereno. Da janela me atirou um beijo. É tudo.
"Voemos, poeta, à altura das águias. Cantemos para espantar as trevas do mundo." Maiakóvski Vladimir, meu velho amigo, espanta-me não encontrar em ti o alento habitual. Tu, entre aqueles que me dão de fantasiar grandezas em mim, porque me faltas? Assim, consciência absoluta de vexatória pequenez, apavoro-me. Se ao menos eu acreditasse em que a felicidade é questão de enxergar no outro uma dor além. Mas acontece que, mesmo não sendo da tua estirpe (como eu gostaria!), jamais estive em posição tão mesquinha. Oh, por piedade, não me desminta! Não existe dor alheia, felicidade alheia. Uma e outra, nas suas infinitas faces, me pertencem. Que seja de um modo tão menos relevante de como mobilizam a ti e aos teus, é o que tenho. Extremos para onde somos, os tolos, atraídos. Quanto mais descompensados, mais vivos. Vamos escapando. Pois eis que me canso deste vaivém sem convincente justificativa. Já não me inspiram o gozo ou a agonia, em sua expressão maior ao meu alcance, embora respire por estes, senão por fé, por pavor de me ver de repente sem conexão ou identidade, como me acostumei a compreendê-las. Não aprendi nada além de habitar os pólos. Até quando? Tuas palavras, Vladimir, as mesmas palavras, nenhuma fora do lugar, porque diabos não me respondem mais? Creia, a desesperança é ameaça demasiado grave para não ser respeitada. Luto. Ceronha Pontes Reccife-Pe, 06 de julho de 2012
Ele- Querida, chega de ficar vendo novela. Pelo bem da criança¹, precisamos mudar nossos hábitos. Pensei em deixá-lo na sala...
Ela- Dentro de uma jaula.
Ele- Que seja. Vendo filmes em diversas línguas, que é pra ir habituando o ouvido. Alemão, francês... Inglês ele aprende comigo mesmo. O espanhol e o russo² podem ficar com você.
Ela- O italiano também é contigo, pois a única coisa que sei dizer na língua é: va fa in il culo³.
Ceronha Pontes
01 de julho de 2012
¹ Não têm filhos. ² Tirando onda porque ela adora falar de uma certa professora russa que teve. ³ Em cearês se pode dizer "ai dentro!". Maiores esclarecimentos o moderador não permite.
Ainda que se exponha num blogzinho furreca recheado de meias palavras, pior, que se exiba e revele no palco sem nenhum aparente constrangimento, não se iludam, esta que vos fala é um tipo acabrunhado.
Não sei, juro por meu Santo Anastácio, não sei mesmo por qual merecimento (e sou toda agradecida) a vida me aproximou de figuras da maior importância por seu fazer artístico, que por sua vez decorre de sua natureza humana da melhor qualidade. Ah, porque eu mesma, assim, por minha própria conta, nunca teria coragem de abordá-los, dizer-lhes o que sinto frente à sua obra e pessoa, quanto mais ganhar-lhes a confiança, o conhecimento de minha existência. Não eu, que muitas vezes fiquei foi muda, inerte, apavorada no contato com uns desses. Nuances de uma auto-estima comprometida, mas isso não vem ao caso.
Só pra ilustrar, há alguns anos, quando fui viver na região da tríplice fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai), fiquei sabendo que um diretor teatral e seu grupo desenvolviam trabalho de alta relevância estética e política ali em Asunción-Py. Fiquei doida de curiosidade, saber sua história e tal. Meu marido então descobriu contatos, providenciou viagem e ainda serviu de mediador enquanto eu roía as unhas dentro da cabine telefônica (já em terras paraguaias) de onde ele teve a primeira conversa com o referido artista. Assim, pá-pum: "Hola, que tal? Nosotros somos una pareja de brasileños e bla,blá,blá..."
Quando dei por mim, estava já na sala da casa do cara, fazendo o jogo do invisível enquanto meu digníssimo cônjuge, sorrisão estampado, papeava feito fosse desde a infância. Demorou para que o moço percebesse que a interessada era eu. Ele é de fato grande e rara criatura. Seu trabalho, magnífico! Os desdobramentos foram os mais felizes e reverberam ainda, agora e sempre, mas, entendam, por pura sorte minha de ter um companheiro desencanado e de bem consigo.
Tais revelações, por certo de nenhum interesse dos meus visitantes diários anunciados pelas estatísticas do veículo, só pra dizer que toda essa agonia, no entanto, não seria barreira que me sustentasse diante do sujeito que vem no vídeo a seguir, já várias vezes citado aqui no blog como estando entre os meus autores preferidos e não apenas pela beleza da sua composição, mas por seu privilegiado olhar sobre a Humanidade e a História. Com este (tamanho fascínio exerce sobre mim), se eu cruzasse na praça, faria igualzinho aos jovens que o cercam no vídeo, tentando inclusive encontro para o dia seguinte, a vida restante...