quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESPERDÍCIO



Ernesto tanto descuidou que, um dia, quando deu por si, Laura estava longe, quase desaparecida já. Para ele foi como descobrir-se à beira da morte. O instinto de sobrevivência arrancou-lhe um grito. 


- Laaauraaa!!!!!!


Ela ouviu, refez o caminho, está ali de novo, mas, acometida de uma independência mortal para o amor. O quanto ele se ocupava em perdê-la, ela desaprendia a pertencer. 
Laura teve grande amigo falecido de inconsequência em plena juventude. Ela pensa na vida breve do amigo enquanto não sabe o que fazer da sua. Chega a considerar que talvez ele tenha sido sempre muito mais razoável do que ela podia enxergar. Lembra da canção do Gilberto Gil que o amigo gostava tanto. Aquela do tempo, sabe? Laura canta em pensamento. Em verdade, implora.


"Tempo rei! 
Oh, Tempo Rei!
Oh, Tempo Rei!
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai-me, oh Pai,
O que eu ainda não sei.
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei!"


Posso ouví-la. Juro que posso. Fico escutando com vontade de acudir mas, sendo eu quem menos pode...


Ceronha Pontes
Recife-Pe, 30 de junho de 2011



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