sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Aula-espetáculo



Coletivo Angu de Teatro convida para o encerramento da oficina Ator- POESIA em carne viva, quando apresentaremos uma aula-espetáculo sobre como, à partir do Método das Ações Físicas, se revelam as personagens de Crônicas do amor escurecido, exercício teatral criado especialmente para esta demonstração.
Bem-vindo seja todo e qualquer curioso dos processos de composição do ator.

Concepção, dramaturgia, direção e apresentação - Ceronha Pontes
Elenco - Lili Rocha e Nínive Caldas

Realização - Coletivo Angu de Teatro

Ingressos - 10 Reais
Dia 01 de Setembro - 19:00h
Espaço Coletivo (Rua Tomazina, 199, Recife Antigo)



P.S.: Quem quiser pode trazer seu vinho. Dionísio gosta.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Perseguindo a ternura


Teatro, juro por Dionísio, é coisa que, se eu pudesse, não faria. Abandoná-lo não é uma decisão que eu alcance. Sem escape, resta-me perseguir domínio técnico e fluidez mental, como bem  sugere o Yoshi Oida. Continuamente. Se não encontro sentido, encontro coragem. E vou. Eu e muitos. Deixo este escrito de Louis Jouvet, que o amigo Sidney Souto me enviou. Com este texto Lili Rocha e eu abrimos a oficina Ator- POESIA em carne viva, ontem no Espaço Coletivo.                                               

Ceronha Pontes   

O TEATRO DÁ TERNURA AOS HOMENS
Por Louis Jouvet

Dentre todas as artes, o teatro ocupa um lugar insigne e meritório. Esse lugar deve-se à importância de uma comunidade, de uma comunhão da qual ele vive, que ele sustenta e propaga.
Entre as atividades humanas, o teatro é uma das primeiras, uma das mais persistentes e talvez a mais soberana. É através dele que se exerce com mais verdade e eficácia o poder criador dos homens.
O teatro não é somente a expressão de um povo, de uma nação, mas a afirmação mais verdadeira e mais viva de uma civilização. É no universo a única troca livre, a dos sentimentos, das idéias. Por sua virtude, por sua excelência, o teatro revela-se e afirma-se como um vínculo espiritual incomparável. A vida e a arte do teatro utilizam e criam relações de sensibilidade, relações de afeto e de amizade: todos eles atos essenciais. Transmitidos de uma época para outra, transferidos de uma região ou de uma nação para outra, esses atos criam à sua volta uma comunidade, uma identidade espirituais.
Não é esse o ponto de vista que ordinariamente propõe a crítica dramática. Essa arte para ela não chega tão longe, mas é preciso dizer e repetir que o teatro não é apenas um meio de escutar ou de passar o tempo, é uma ocasião que se busca para preparar e viver sua vida com plenitude.
O teatro não é apenas indústria ou gesticulação, é imaginação, libertação e amor.
Na época enganosa em que vivemos, os mais puros testemunhos de sua realidade nos foram dados pelos prisioneiros dos campos de concentração. Em meio a uma multidão imensa e desnudada, em meio a homens desesperados e desamparados, no seio de sua solidão, de seu sofrimento, o teatro manifestou-se como nas primeiras épocas em que os homens, perdidos, errantes, desolados, incertos, inventaram a representação dramática.
Nos campos de concentração, o teatro nasceu; ele nasceu das mesmas necessidades, das mesmas misérias, das mesmas boas vontades.
Ele restituiu os homens a si mesmos. Libertou, fez reviver neles tudo aquilo que sua nova condição havia destruído ou amortecido; afirmou-lhes a permanência da vida, sua continuidade.
Assim o teatro desperta as esperanças e as lembranças. Faz reviver uma sensibilidade que pode estiolar-se ou soçobrar.
O teatro dá aos homens a ternura humana, essa ternura humana que religa como uma imensa família, através das gerações, o público de Ésquilo, de Sófocles, de Eurípides, ao de Lope, de Vega, de Calderón, ao de Shakespeare, aos nossos clássicos franceses e aos nossos autores contemporâneos.
Através de uma obra representada, através de uma peça, através dos palcos, uma libertação se faz, uma elevação sobrevém, um conhecimento interior se pratica, uma vida profunda se declara entre os homens.
Mas não é pela afronta ou pelo combate que o teatro se organiza. Penetração, descoberta ou enriquecimento do homem, o teatro não vive de exclusão, de dominação, dessas reivindicações de privilégios que os debates econômicos e militares suscitam, sustentam e procuram justificar. A arte dramática de uma nação não se opõe à de uma outra nação vizinha. Ela não exige, para prosperar, que se desqualifique, limite, destrua.
No momento em que, entre as nações, abrem-se discussões e disputas fecundas em antagonismos e dissentimentos, devemos procurar definir o uso e o futuro do teatro, devemos procurar propagar e desenvolver a arte dramática.
Essas considerações, as afirmações ainda recentes que o teatro tem dado de suas qualidades, a evidência de sua necessidade, e de suas virtudes devem comandar e inspirar a atitude daqueles que têm o encargo e a responsabilidade da arte dramática.
Desejamos de nossa parte que a arte dramática jamais possa ser considerada como um instrumento de propaganda, que jamais deva ser assimilada a um mercantilismo ou a uma troca, que a cena seja transformada em uma tribuna.
Desejamos que ela deixe de ser tida por um comércio ou um tráfico; desejamos que a educação faça, no teatro, na arte dramática, o papel que lhe é devido, e que ela permaneça o que sempre tem sido até hoje e o que deve continuar a ser: uma oferenda, uma troca de amizade e de amor entre os homens.
É sua independência, é sua universalidade, parece-me, que devem ser o ponto de partida de nossas preocupações.


In Témoignages sur le théâtre, ed. Flammarion, Paris, 1952, págs. 242-244. Tradução de Roberto Mallet.

sábado, 18 de agosto de 2012

Crônica do amor escurecido nº3 (fragmentos)


                                                                                      
(...)

LAURA- Era bom. O pai de Rosa era homem bom. Mas sabia muito. Fosse do meu jeito, quem se importa? Não quisesse muito, quem se importa? Fosse ninguém, quem se importa? Mas daquele jeito falando, deixando doido quem ouvisse? Tudo doido, gritando por ele. Gritando por ele.

(Mais doce.)

Ele, garboso, uma barba bonita que roçando na gente dava a ver estrela e crer que aquilo é feito gente. “Gente é pra brilhar” *. Repetia.

(Pausa. Levanta-se nervosa, caminha de um lado para outro. Fala aceleradamente.)

Eu não gostava mais de lá. Porta na chave, janela trancada. Nem vento, nem luz dentro de casa. Abafar o choro de Rosa, abafar a zoada do peito, até pensamento abafar. Acho que era mais o pensamento que precisava abafar. Mas, pensamento? Como é que abafa pensamento? Até eu que mal penso, penso.  Queria não pensar. Fico aqui rezando, falando sem parar e era mesmo pra não pensar. Não pensasse, que precisão tinha falar, pedir, sentir esse negócio todinho aqui dentro?  

(...)

Era ruído demais, bastava seguir. Os pensamentos de Vladimir, quem não havia de ouvir? A poesia do outro, meu peito apavorado, a risada de Rosa. Porque aqui, Rosinha deu pra rir. “Papai, aqui pode correr, saltar da janela, comer fruta no pé, que ninguém vê, né”? Mas via.

(...)

Rosa caiu ali. Puxava ao pai, se via. Lia, já: "Gente é pra brilhar" *.



(No chão, extenuada. Braços abertos, peito apontando para o céu.)

Ai meu Deus, esta secura. Nada brota desde então. Só não entendo como é que a terra deu conta de Rosa e Vladimir, e eu ainda estou aqui. Eu e o verso. “Até o fim da eternidade.” *

FIM

* Os versos citados são de Maiakóvski.

Ceronha Pontes
17/08/2012


Nota:Fragmentos da terceira de um conjunto de três peças curtas de minha autoria, que se chamará Crônicas do amor escurecido. Especialmente compostas para a aula-espetáculo que encerrará a oficina Ator- Poesia em carne viva. Breve, no Espaço Coletivo- Recife Antigo.
           

Extra:





sábado, 11 de agosto de 2012

Crônica do amor escurecido nº 2 (fragmento)



"E do meio do mundo prostituto
Só amores guardei ao meu charuto!"
                                        Álvares de Azevedo

NEIDE- Olha, não rolou. Quem disse que rolou? Tu vê poesia em cada coisa, meu Louro. Puta, sarjeta, o escambau. Tenho pra mim que é esse teu charuto aí. Pior que o crack, pode crer. Pior que o pó. O bolor da livraiada toda também não deve fazer bem pras tuas ideias. Cada lapa de traça nesses livros, menino, roendo teu juízo. Deixa disso. Olha pra mim. Não rola. De que romance foi que tu saiu, criança? Acorda. Tou me mandando e tu não me apareça. Erva daninha, sacou?  Puta papa-anjo. Puta mata-anjo. Que me ama o quê, bonitinho? É lombra. Menino, abre essa porta. Abre essa porta agora, garoto. Abre essa porta que eu tou mandando, caralho!

(Estampido.)

Ceronha Pontes
11 de Agosto de 2012

Nota: Fragmento da segunda de um conjunto de três peças curtas de minha autoria, que se chamará Crônicas do amor escurecido. Especialmente compostas para a aula-espetáculo que encerrará a oficina Ator- Poesia em carne viva. Breve, no Espaço Coletivo- Recife Antigo.

Extra:

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crônica do amor escurecido nº1 (fragmento)



MARGUERITE-  Pois é moço, uma gente tão endinheirada e essa desgraceira toda. Ave Maria três vezes! É sim senhor, moça de recurso, nascida nesse berço todinho que deram notícia, veja só, e gostava de viver aqui, misturada com a gente. Era minha amiga. Não tou lhe dizendo? Escrevia umas coisas engraçadas. Umas até bem esculhambadas, que moça fina também é chegada na putaria. Mas não quero nem saber. Boazinha como fosse, eu mesma não me achego em desgraça. Podendo evitar? Sou amiga da onça mesmo, que a vida já não teve pena de mim, então não posso ajudar. Tou fora. O senhor vai beber o quê?

Ceronha Pontes
10 de Agosto de 2012


Nota: Fragmento da primeira de um conjunto de três peças curtas de minha autoria, que se chamará Crônicas do amor escurecido. Especialmente compostas para a aula-espetáculo que encerrará a oficina Ator- Poesia em carne viva. Breve, no Espaço Coletivo- Recife Antigo.

Extra:


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Criando


Ah, o teatro!
Num dia, brilhantes ideias. No outro, jogá-las fora. 

Ceronha Pontes
Recife-PE, 07 de agosto de 2012



sábado, 4 de agosto de 2012

BLUE


Dear Elliott,

Quando penso no teu peito precocemente cravado, e me lembro do quanto te invejei, sinto vergonha. Muita. Não adianta a desculpa da juventude, porque é injusto culpá-la pela burrice toda. Não há desculpa ou, antes, não há culpa. Em todo caso me volto pra dentro até reencontrar dignidade que me valha ouvir-te. 
Sabe querido, de onde se olhar, qualquer ângulo, facas apontadas. Ninguém escapará. Acontece (e pode chamar covardia) que alcancei o dia em que a escolha era cantar até lá. Não exatamente cagando pro sentido que não há. Cantar. Veja, agora mesmo pedia ajuda à Janis (com aquela Little girl blue) pra entender a "cria" nova em processo, quando você chegou. Abaixo a cabeça e choro um tanto até poder te encarar. Assim. 
Pois é, pedindo passagem mais uma "cria" blue. Atraio. Sou atraída. Foi por isso que você também veio, eu sei. Thank you. 
Frio? É, começo a sentir. 
Então, vamos? Escuto sim, como se fosse perto. Mais perto. Um, dois, três:



Ceronha Pontes
Recife-Pe, 04 de agosto de 2012