sexta-feira, 29 de junho de 2012

O "baile"


Chorando o sangue, digo, o leite derramado, Laura? Não conte com a minha compaixão. Tou mais é rindo da tua cara, minha nêga. Cantei a bola, não cantei? Ouviste? O cacete. Agora qualquer importância dada à minha lucidez é demasiado tarde. Também não vale transferir a responsabilidade pro destino, ou serei obrigada a te esfregar na cara uma de ti, nem tão longe, entupida de certezazinhas, arrotando a sua banca. Comigo é que nunca colou. Se fazendo de coitada, dando uma de doida que não viu aonde é que aquilo tudo ia dar? Sendo bem honesta consigo, já que eu saquei faz é tempo, diz aí pro teu arrependimento se a escolha teve outro fundamento que não o teu pavor paralisante disfarçado de "fôda-se"? Pois agora fudeu foi de vera, minha filha. E a senhora, que podia ter feito o mínimo esforço, vai ter que chupar essa manga, é o que eu tenho pra te dizer e ainda te digo outra: te apodera do caminho, que o pra trás já era, não é mais. Em frente, sujeita! Enfrente. Vai fazer o quê? Pedir clemência? Sou das tais que prefere aplicar a penitência.Vai encarar? Oxe!


Ceronha Pontes
29 de junho de 2012


P.S.: "Baile", do pernambuquês, corresponde a "dar um carão", em cearês.


Extra:




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