sexta-feira, 12 de agosto de 2011

LETTRE D'AMOUR nº 6



Ma petite Marion,


Tão importante que me tenham permitido a solidão por esses dias! Trégua abençoada. 
Rio de imaginar as promessas impraticáveis de Isabelle, em troca de se calarem sobre Hélène, nas outras cartas. Naquele instante eu não suportaria mesmo.
Enganei-me a vida inteira julgando Catherine a inimiga. Pobre, Bisonha. O que seria de mim sem que pudesse me refugiar no seu escuro? E dela, sem se queimar, às vezes?
É Hélène a força contrária. Não é direito querer nos abafar. Eu não me rendo, Marion. Não me rendo. 
Nestas solitárias andanças, por um tolo momento quis compreender as motivações de Hélène. Quis me apropriar, até. Porque também sofro por estar dividida. E ela, o que tem feito, senão por si mesma? Me conte sinceramente, pois não me lembro de alguma vez que Hélène tenha considerado justo tornar-nos plenos os dons. Sempre deu pouca importância às nossas capacidades e é por isto que nunca fomos muito longe, você há de concordar. Acomodada à miudeza de seus próprios anseios, nunca nos deixou expandir. Estar com ela lhes parece realmente sensato? Se bem que a sensatez não é de meu agrado, e não há mesmo garantia alguma de que estaremos à salvo seguindo pelos caminhos de minha escolha, de modo que não tenho argumentos para convencer Hélène a nos dar passagem e vir conosco, abandonando sua nobre muleta. Muleta sim, Marion. Ainda que batizada com o pomposo e nebuloso nome de Amor.
Estou cansada. 
Quero voltar para casa, meu bem. Enfeitaremos noites em claro com tuas ervas e as montanhas que vi.


Charlotte.


por onde andei, com uma moça de amarelo linda, linda, linda:


Por Ceronha Pontes
das Minas Gerais, aos quatro dias de agosto deste ano tão intenso!



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