Ceronha em chamas
Cearense de Tamboril, a atriz Ceronha Pontes se prepara para sua primeira estreia em Recife. A partir de amanhã, ela é destaque no elenco do espetáculo Essa Febre Que Não Passa, do Coletivo Angu de Teatro
04.05.2011| 01:30
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É fim de tarde. Estamos na sala de dança do histórico Teatro de Santa Isabel, em Recife, no quarto andar. Entre os espelhos, atrizes do Coletivo Angu de Teatro se preparam para ensaiar o novo espetáculo do grupo, Essa Febre Que Não Passa. É a estreia de André Brasileiro, ator-criador, como diretor; é também a estreia de Ceronha Pontes, atriz cearense, em um papel feito para ela. Radicada em Pernambuco desde dezembro de 2008, entrou no Angu: “Trabalhei um ano inteiro como atriz substituta e, depois disso, vivo a alegria de ser oficialmente ‘adotada’”, conta.
“Eu já conhecia o trabalho dela, já tinha assistido a Minha Irmã e Camille Claudel. Assim que ela chegou a Recife, entrou no Angu substituindo Hermila (Guedes), que estava gravando uma série na Globo. Depois, ela me substituiu em Rasif, mar que arrebenta. Agora, ela tem o primeiro papel dela, criado por ela e pensado para ela. Ela foi importantíssima para a criação de muitas cenas, ela tem um olhar de direção, um olhar da cena, discute cena, imagem, gesto, pensamento. Foi um presente maravilhoso para o coletivo”, elogia André.
Na preparação para o ensaio, o violoncelo toca a bela e melancólica trilha do espetáculo. Do outro lado da pequena sala, Ceronha se olha no espelho e enlaça a cintura com as tiras do vestido. O cabelo está em brasa. É vermelho fogo, tingido para Essa Febre Que Não Passa, adaptação do livro de contos homônimo da escritora pernambucana Luce Pereira.
Ceronha abre o espetáculo. O primeiro esquete, Clóvis, conta a história de um casal de mulheres que tenta salvar a relação com a aquisição de um gato. O gato, Clóvis, como promessa de felicidade, tem a nobre função de “manter viva a chama do amor”, como diz o texto. Se antes substituiu Hermila Guedes (de filmes como O Céu de Suely e da série global Força Tarefa), a cearense agora atua ao lado dela.
“Sempre fui tratada com muito carinho. No fundo, eu tinha a intuição de que me juntaria a eles, mas, até que a coisa fosse formalizada, trabalhei sem expectativas. Porém, foi mesmo a oportunidade de viver um processo de criação dentro do coletivo que me tornou, de fato, um deles. Desde que Essa Febre começou, me sinto mais livre. Ainda não pude me atrever em outras tarefas porque atuar tem me consumido. Abertura há e vontade também. Não demoro”, conta.
Na verdade, mesmo que de forma espontânea, Ceronha já vem fazendo esses outros papéis na montagem. “Adoro a escrita da Luce e trazer suas histórias da literatura para o palco é uma aventura coletiva como eu nunca tinha vivido. Fiz algumas a adaptações para o teatro, mas desta vez trabalhamos em bando, seis atrizes e dois diretores”.
A dramaturgia é ótima. “Eu me reuni com as meninas para ler o livro todo em conjunto. Depois pedi que elas lessem em casa, para que me dissessem onde cada conto se encontrava com elas. Como ele instigava, despertava, movia e que as fazia querer contar aquilo no teatro. Elas definiram os pontos de preferência. Marcondes (Lima, que dirigiu as outras três montagens do grupo) fez a organização desse conjunto e fomos apurando a dramaturgia”, descreve André Brasileiro.
Para viver as personagens de Essa Febre Que Não Passa, Ceronha se prepara quase que em tempo integral. Os ensaios são muitos, o figurino sendo finalizado e aulas de dança, para dançar Um Tango com Frida Kahlo. “São todas mulheres possíveis. Reconhecemos essas criaturas em nós ou muito perto de nós. Não tenho dúvidas de que o público também as reconhecerá. Então, representá-las tem um quê de confissão que me diverte. E dói”.
Com o iminente sucesso no teatro pernambucano, Ceronha Pontes não deve voltar ainda para o Ceará, embora não o tire da cabeça. “Penso em Fortaleza todos dias, em todos os momentos. Nunca perco de vista que me fiz artista naquele lugar que me deu tanto em conhecimento e afeto. Além disso, Tamboril, minha cidade natal, guarda meus maiores tesouros. Não abro mão desse olhar cearense sobre a vida. Entretanto, me adaptei bem ao Recife. Sou muito feliz aqui. Imagine que até me rendi ao Carnaval. Pernambuco me faz bem, não posso me queixar. E é pertinho, né?”. Ainda bem.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIACeronha Pontes é atriz egressa do Curso de Arte Dramática, da UFC, e do Colégio de Direção Teatral, do extinto Instituto Dragão do Mar. Aqui, fez carreira nos palcos e atuou com destaque no cinema.
Alinne Rodrigues
alinnerodrigues@opovo.com.br
alinnerodrigues@opovo.com.br
Parabéns pela esplendorosa atuação na peça "Essa Febre Que Não Passa". Já assisti 2 vezes ao espetáculo e pretendo ve-lo novamente. Brilhante! Me emocionei muito. Sinceramente por ter morado muito tempo no Rio nao conhecia vc. Fui pra prestigiar a Hermila e Passei a ter duas estrelas pra admirar.
ResponderExcluirObrigada, Leonardo. Seja sempre bem-vindo.
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