Separação.
Aos quatro anos tinha já a Nanica de escolher entre o bicho que pega e o outro que come. Atormenta-lhe a mãe numa última lembrança em que aparece com o irmãozinho, sentados num banco sujo de rodoviária, chorando resignadamente.
Enquanto a menina seguiu com o pai pra um lugar onde estar viva lhe custa as perninhas trêmulas, o coraçãozinho batendo mais que as suas forças e soluços esmagados na garganta de inchaço vermelhão sem cura. Ô carinha de medo pra não desmanchar é nunca! Até que se desespera, a pobre, entregando seus pontinhos à velha, espelho seu.
- Eu não rezo mais, Vovó.
- Deixa de besteira e anda com esse Pai Nosso!
-Tudo coisa ruim esses santos tudo. Essa Mariazinha, o Jesus e esse outro aí encostado no pau.
- Bate na boca cunhã! Tenha respeito com a Virgem, o Filho e o Santo Anastácio.
A merreca de gente se enfia debaixo do lençol encardido, praguejando baixinho.
- Ô, minha filha, chore não. Tenha fé. Ande, venha pedir pro anjinho da guarda.
- Todo dia eu peço, vovó, mas ele nunca leva.
- Não leva o quê?
- O Papai.
Compara-lhe a Bisa com uma banana enfurnada no carbureto, amadurecida à força, na marra. De fato.
- Eu nunca vou ser feliz.
-Isso é lá coisa que diga menina pequena?
Pois diz. É mesmo desse tanto que dói a Nanica. Amargando eternamente o medo e a falta de quem não tinha o direito de botar gente no mundo.
CERONHA PONTES
Recife-Pe, 09 de agosto de 2010
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