domingo, 24 de janeiro de 2010

ABRINDO JANELAS


"De repente o mar fosforesceu, o navio ficou silente,
o firmamento lactesceu todo em poluções vibrantes de astros
e a Estrelinha Polar fez um pipi de prata no atlântico penico."

Vinícius de Moraes



Longos dias imersa em tristezas diversas. Desde aquelas absolutamente justificáveis, às de origem misteriosa e cura improvável. Desta vez nem os banhos de cachoeira (em geral tão restauradores da saúde e humor) serviram de ungüento para este espírito inquieto.

Só o tempo, senhor de tudo que acalma.

No peito e na cabeça pressão e nó finalmente em processo de afrouxamento, soltura. Alívio! Hoje dei por mim menos tensa, enxergando melhor. Ui, que "mêda"! Atriz de filme de terror que não desfez a caracterização. As pernas, duas escovas de lavar garrafa. Sobrancelhas de Professor Astromar (lembram?), olhos suspensos sobre duas bolsas escuras, cabelo seboso, um horror! Nenhuma mulher deveria se permitir chegar a tal estado. Arrogância confiar tão cegamente na suposta beleza interior.

Rio enfim de mim com aquele riso de quem estivesse recém-operado e não pudesse sacolejar demais o corpo, sabe como é? Pensei em algum lugar que quisesse ir, mas o doce lar ainda é a opção mais segura para estar depois da tempestade.

Me ocorreu lembrar do Carri Costa, que benção! A criatura tomando sol na sacada de um prédio em frente à Leste-Oeste (Fortaleza-Ce), passando "blondô", ouvindo "meu iaiá, meu ioiô" e rebatendo as justas reclamações da vizinhança: "O quêêê? Tá chamando o meeeeu Wando de zoada, é?" (Cena de As Vizinhas.)

Ai, ai, a boa besteira salva, minha gente. Revolução é a do riso. Alienante é a falta de humor, os pensamentos sombrios. Salve o Carri e sua enésima edição de Tita e Nic!

Antes que o chão se abra novamente, antes que me falte fé outra vez, antes... e depois, rir, simplesmente.

CERONHA PONTES
Recife, 24 de janeiro de 2010.


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