Noite alta,
luz acesa, Alice no portão. Tinha uma sacola de supermercado na mão e uma
surpresa petrificada no rosto. A respiração parada. Só quando olhei para onde apontavam
os olhos congelados de Alice e vi o Cão já longe correndo em disparada, foi que
a percebi em estado de Cruz. Dei por alguma coisa dentro dela querendo romper o
peito. Dava saltos visíveis e aflitivos o seu coração. O resto não se movia. Não,
não tinha sido por motivo de reza a carreira endemoniada do Tinhoso. Alice nem
sabe rezar. Amor é que tem condição de atentar assim, ameaçando os muros e as cercas
de arame que a ausência da bravura farpa. Amor. Reza não.
Perguntei,
tentando arrancá-la do espanto, o que carregava dentro da sacola. Respondeu-me
movendo quase nada os lábios, mas com clareza, que levava salame apimentado e
vinho. O volume sugeria mais coisas. Insisti. Batatas, cebolas, alho poró,
caldo de legumes em tablete. Adivinhando a receita, tive dó de forçá-la a dizer
mais. Silêncio.
Eu já não via o Cão. Ela sim. Por mais que corra (e como corre!), não desaparecerá tão cedo para Alice Cruz.
Geleia de
amora, ela diria depois de não sei quanto tempo, completando o pacote. Foi
quando eu chorei. Geleia de amora, ela teve o cuidado. E eu chorei por ele. Por ele, que comerá a
seco o pão que amassou.Eu já não via o Cão. Ela sim. Por mais que corra (e como corre!), não desaparecerá tão cedo para Alice Cruz.
Ceronha Pontes
Recife, 19 de agosto de 2016.
Extra; Aos que preferirem finais felizes, O Tufão & a Flor.
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