Alice ia
caminhando pela estrada, com destino a uma festa de aniversário. Levava de
presente um macaquinho de pelúcia, uma garrafa de vinho e uma crônica que
escreveu para determinada publicação, e para a qual o dono da festa havia sido
a inspiração. Entretanto, um helicóptero em manobra de pouso passou por ela
derrubando tudo. O pergaminho com a
crônica voou longe, o bichinho ficou de repente roto, de repente indigno, de
repente tão envergonhado. Alice, igualmente suja e desalinhada, o recolheu e seguiu
de volta para casa, cambaleante. Um bocado triste. A garrafa de vinho, bem,
Alice não teve força de se meter nos arbustos para procurar. Pode ser que
depois da festa, naquela hora de levar os cães para passear, eles farejem e
façam seu dono saber que Alice esteve ali. Tomara que a garrafa não tenha se
partido. Alice não deseja que os cães inocentes se cortem nos cacos de vidro.
Ela pensa isso quando se dá conta do corte no próprio peito. Quando o
helicóptero a sacudiu, ela caiu de modo a bater forte sobre uma pedra aguda
solta na estrada. Percebeu também que a
saia ficou mais rasgada do que lhe pareceu a princípio. Cresceu em vergonha,
sabendo-se tão exposta e tendo ainda tanta estrada que voltar. Mora longe. Abaixou
a cabeça e apressou o passo. Numa outra casa da mesma Aldeia, alguém pôs o
Milton Nascimento pra tocar. Alice chorava, porque cada nota era outro corte na
sua carne. Eu sei a razão, mas não posso envergonhá-la mais.
Ceronha
Pontes
Extra: O helicóptero
era bastante aguardado na festa. Alice, não.
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