domingo, 17 de maio de 2015

SUBMERSA


Save me, save me, save me! 
Clama o Freddie Mercury pela casa, tentando arrancar Estela desse estado de inércia. Ora, não se gaste à toa, meu rapaz.
Por vezes admirei a conduta de Estela, não nego. Sua firmeza, sua resignação. Amadurecida depois de cada tempestade. Sábia, eu pensava. Engano terrível. A verdade é que ela padece de excesso de razão. Apostou que se arranharia menos assim e terminou acumulando enfermidades de tanto negar-se a si. Feriu-se a fundo com a própria covardia.
Percebo que escrevi a palavra terminou. Queria ter motivos para apagá-la, mas não vou botar panos quentes agora, quando sei que a mão estendida para fora do trem não voltará a alcançar Estela. O trem que ela deixou ir, a vida inteira deixou ir, rompeu com os trilhos, atirou-se no precipício, foi tragado pelas águas, perdeu-se num oceano intransponível. 
Agora eu encaro este gigante azul com a loucura que faltou a Estela. Sinto as pancadas do mar no meu peito igualmente revolto e, compadecida, choro por ela. Mas choro tanto e tanto, que necessito teu canto, Freddie. Continue. Por mim. Save me, save me, save me. I can't face this life alone.

Ceronha Pontes


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