quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Ao futuro, Dolores.


Primeiro almoço do ano.
Ouviam Dolores Duran. Não que estivessem tristes, muito pelo contrário. A tristeza, por Dolores metamorfoseada em beleza, era perfeitamente adequada ao instante.
A mesa estava bonita, ainda enfeitada com as flores da véspera. A comidinha suave sugeria delicadezas. Bebiam naquelas taças enormes, que são a predileção dela. O mundo parecia em paz. Vez em quando davam-se brevemente as mãos. Preferindo isto a falar.
Foi assim até que os versos de Castigo arrancaram dela um risinho e um suspiro, não sei exatamente se de malícia ou sabedoria, e então precisou do verbo.

ELA- "Eu tive orgulho e tenho por castigo, a vida inteira pra me arrepender". Era assim que se fazia música. A gente vem piorando, meu bem. 

Dolores segue:

"Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora,
Eu não seria esta mulher que chora,
Eu não teria perdido você".

Ela ri de novo. Desta vez um riso escancarado, seguido pelo dele.

ELE- E pensar que isto já foi popular.
ELA- O popular do presente não permitirá ao futuro reunir pessoas em ambiente tão delicado. Medo grande do que virá desse tchu, tchá, tchá. Nunca te cales, oh, Dolores!

Próxima faixa: Ternura Antiga.

Ceronha Pontes
Recife-PE, 03 de janeiro de 2013





2 comentários: