segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Toma lá, dá cá. (Bendito seja o palavrão.)


No casamento, de repente tá tudo trocado. Aqui em casa, pelo menos, é batata! Um realiza, o outro colhe os frutos. Pra começar, quem lê sou eu, mas, o culto é ele. Como é que pode? Raramente vejo o digníssimo com um livro e, quando acontece, é sempre uma leitura bem específica, ligada ao Budismo e à meditação Vipassana. No entanto, sobre quase tudo discorre com um conhecimento invejável. Sem nem dizer do principal, que é a visão de mundo, afirmo que o cara dá conta de Política, Economia, Religião, Filosofia, História, Arte (música, especialmente, pois tem formação na área).
Não se enganem pensando seja aquele tipo falso, de fala rasa (Santo Anastácio me defenda!). É gente séria, o bofe. Discretíssimo, fala pouco e nunca faz a linha exibido, muito pelo contrário. Ao se perceber sondado, ri pra si e silencia. Ou seja, quando se manifesta é pra ser de utilidade. Agora me pergunte como? "Quem souber morre", diria a minha amiga Nínive Caldas.
Por exemplo, há uns dias me deu uma aula sobre a obra do Caravaggio. Perguntei-lhe em que momento ele se dedicou a isto, que eu não vi (juntos há 17 anos). Lembrou-me que, na faculdade, levava a sério a História da Arte. Ok, mas, isso foi em mil novecentos e bolinha. Ademais, fosse apenas questão de levar a sério eu estava bem na fita. Mistérios.
Felizmente posso me gabar de que é em mim que se observa com maior facilidade aquilo que ele persegue com afinco. "Você não faz um  menor esforço para meditar, embora conheça os benefícios e, no entanto, vive com muito menos cobiça e aversão do que eu", ele diz. Rio. Cínica, afirmo que mais eficiente que o meu terapeuta, IM-POS-SÍ-VEL. Lembrando que o mesmo me deu alta, e com louvor, há um bocado de tempo já. 
De outras trocas recentes, bem, aqui, boquinha porca sou eu. Dona de enormes caralhos e porras, entre outras cositas impublicáveis. Hábito, aliás, que o deixa horrorizado. Porém, recém-chegado de uma temporada na Índia, ao descobrir tudo o que aprontei na sua ausência e sobre algumas viagens que farei a seguir, mais demoradas que o habitual, sempre em função do meu ofício, único motivador dos seus ciúmes, ele, um gozador,  me sai com esta fala advinda de sua ancestralidade mais remota (outra explicação não encontro): "Seu defeito é que não se possa lhe botar cabresto". Insuportavelmente serena, oriento-o: "Meu amor, sua vontade não está acima de todas as outras. Sua vontade é apenas uma, entre todas as outras". Diante da minha ousadia, surpreendeu-me com um PUTA MERDA!!!, nunca antes proferido. Gamei.
"Vamo" combinar que puta-merda tá longe de ser cabeludo, mas, na boca limpinha do meu marido é quase como encontrar um "vai tomar no... furico" no discurso do Dalai Lama. Juro a vocês.
Comemorei a conquista. Conquista sim (não sei como ele não sufocava), eu digo, praticante que sou do palavreado grosseiro como estratégia de detoxi. Vejam bem, não curto usar os meus caralhos de asa para humilhar ninguém, muito menos para promover a fúria alheia. Da paz. É coisa minha comigo, saca? Em substituição às "meisinhas de doido", das quais Deus me livre e guarde. De novo nunca! Experimente você também trocar o Ludiomil por um PUTA QUE PARIU e depois me conte.
Ah, porque se for preciso bater boca mesmo, prefiro um vocabulário requintado. Incapacitar o adversário com um discurso finérrimo? Nada mais divertido. Me lembro de um embate em que a criatura depois teve até de pedir "ajuda aos universitários", tamanha a falta de nível, mas isso eu quero é esquecer.
O fato é que, PUTA MERDA!!!, por ele, canção para os meus ouvidos. Quase tão bonito quanto aquele Puccini com o qual me ganhou anos atrás. Fez-lhe bem uma temporada lavando banheiro em centros de meditação na Índia.
Para concluir, prometo, digo-lhes que o pernambucano é ele, enquanto bem minha a felicidade de viver no Recife. Toda trabalhada nos TiTias e "visse?". E nos chiados. Coisa mais linda o "mesXmo" desse povo daqui. Eu acho.  Por sua vez, o digníssimo tem a alma 100% cearense. E para a minha alegria. Pois a diferença é que, neste caso eu, nascida nos Sertão dos Inhamuns daquele Estado, sinto saudade danada até das vaias do lugar. Ah, meu amigos, só mesmo um cearense pra sentir "a dor e a delícia" de um "iEEEi!".
Com fé nos deuses "tudim", se o tratamento der certo, os trigêmeos Antônia Vragésvare, Antônio Krishna e Anuloma Ganesha, além dos básicos inglês, espanhol e hindi, dominarão o pernambuquês e o cearês com desenvoltura incomum. Pense nuns "minino" obedientes. Tou que ensaio os "carão": "Hen-hen, que menino treloso. Rebola isto no mato e passa pra dentro, infeliz!".
Sem mais, porque já chega, FUI.

Paz e luz (hahaha!).
Com amor,

Ceronha Pontes
Recife-Pe, 24 de Setembro de 2012.


domingo, 23 de setembro de 2012

Um dia de domingo



Domingão de boa, na paz do doce lar. A enteada monografando (já!) no quarto ao lado, ele cochilando ao meu alcance, enquanto a boa música me embala o coração agradecido. 
Acordo com Elomar, cozinho com Chico, Elza...
Agora mesmo quem me emociona é a Angelique Kidjo, de quem virei fã desde a sua magnífica apresentação no Carnaval Recife 2012, ao lado do também incrível Naná Vasconcelos. Queria eu era ter nascido preta como os meus irmãos (Chico e Dé) e rica em ginga. Eriiiiim, quem me segurava? Hômi, Seu Minino, que eu piro nessa nêga! Mas é muito. Escute só:



Ceronha Pontes
Recife-Pe, 23 de setembro de 2012

P.S.: Eu nem vou me importar se acabar em pizza.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Chorosa


Vagava pela pracinha do facebook quando a Nely Rosa postou a tristíssima notícia da partida do Airton Monte. Tenho por hábito acessar sua coluna no jornal O POVO, lá do meu Ceará, pensando em atenuar a saudade, mergulhando nas suas crônicas. Não raramente me ocorre justamente o contrário. Ler Airton me enche de uma tal vontade de caminhar pelas ruas do Benfica, Parquelândia...
Tou que me derramo, meus amigos. A distância significativamente aumentada. Sinto tanto!
Alô, Pedro Salgueiro, cresce a sua responsabilidade para com esta cria dos Inhamuns, exilada nas terras do boi voador.
Isso de escrever é uma loucura. Gera afeto fundo, grave. Porque, fora vê-lo pela cidade, falar com Airton aconteceu uma única vez, na Casa de Saúde São Gerardo, onde o mesmo atuava como psiquiatra.
E, no entanto, íntima do Airton "escrito". Total admiração. 
Deixo o link de uma das suas últimas publicações. Segue em paz, oh Poeta. 



Embevecido:
http://www.opovo.com.br/app/colunas/airtonmonte/2012/08/03/noticiasairtonmonte,2891258/embevecido.shtml


Ceronha Pontes
Recife-PE, 10 de setembro de 2012

P.S.: E porque eu tou, permitam-me, fodida mermo, o extra "rasgado" fica por conta de outro conterrâneo.



P.S.²: Saiu hoje (11/09):
http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2012/09/11/noticiasjornalvidaearte,2917303/inventor-de-delicadezas.shtml


domingo, 9 de setembro de 2012

"Será que é de louça?"




Sempre atriz. Tudo o mais, bom ou ruim, passa antes por ser atriz. Como tal me desdobrei. E se não fosse o teatro (ofício que, embora tão difícil, me salvou e salva), apesar da formação também em Filosofia, gostaria que meu destino fosse mesmo o fogão, pois simplesmente ADOOOOORO cozinhar. Mas, porém, contudo e todavia, uma inusitada experiência que se encerra hoje e durou uma semana, foi bastante significativa para mim. Me juntei à equipe do querido amigo Tadeu Gondim (meu produtor no Coletivo Angu de Teatro), trabalhando na logística da MIMO (Mostra Internacional de Música em Olinda). Bom pra sentir que não é a função (moça dos transportes), mas o modo como realizamos que faz a diferença dentro de nós. O que quer que seja, fazer com boa vontade. Assim foi. Levo isto. 

Ceronha Pontes
Recife-PE, 09 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

Recados e retratos


Partilhando as impressões das queridas Lúcia Helena (poeta) e Renata Rosa (cantora e compositora)que me chegaram por e-mail, sobre a nossa aula-espetáculo de ontem. E também as fotos de Camila Sérgio ('brigada', Camilinha!).
C.


"Querida Ceronha,
Que prazer participar da aula espetáculo, aprendi tanto.
O teatro exerce em mim um enorme fascínio enquanto espectadora e fono, mais do que ele só a poesia, porque esta está em mim em carne viva a me instigar o tempo todo.
Ontem pude compreender, sentindo, o que em mim pairava no campo do racional  - o interpretar  não é matéria da emoção, o interpretar é matéria da ação percebida, esmiuçada, e então a emoção se encaixa e a palavra também, já que palavra é ação intencionada, junto ao corpo e resultante do texto, mas só viva se passar pelo corpo teatralizado.
Sim, o teatro se faz de ator e espectador, sou partidária desse "fazer antigo", o resto deve ser complemento.
Sei que desde ontem fui instigada a sair da posição de espectadora e desejar ocupar a de atriz , vivenciar o movimento construído e carregado de intenções.
Grata pela oportunidade , grata a você e a todos da oficina, em especial a Nínive e Lili.
( meu marido sentiu o mesmo, ficou querendo experimentar o agir teatral). 
Beijos,
Lúcia Elena
P.S.: Querida, quis postar no seu blog esse comentário mas não consegui, sou inscrita nele mas após várias tentativas infrutíferas desisti, sou quase uma analfabeta virtual ..."

Lúcia Helena F. Neto

A professora (putz, que os óculos deram a maior credibilidade a este papel) recebendo dois girassóis de dois girassóis.

Crônica do amor escurecido nº 1 
Nínive Caldas (Apolônia) e Lili Rocha (Sara)

Crônica do amor escurecido nº 2 
Nínive Caldas (Neide)


Crônica do amor escurecido n°3
Lili Rocha (Laura)

"Lili e Ceronha,

Meninas, que grande prazer esse domingo que passamos juntas, guiadas pelo bom faro das escolhas inesperadas e da poesia junto a uma bela bandeja Burguer King!!!!! 

Ontem tive a sensação deste poema durante a terceira cena. Aproveitei e transcrevi também um segundo poema, que também me traz sensações semelhantes.

É do poeta sérvio Vasco Popa.

Grande beijo!" 

Renata (Rosa)


OS GUERREIROS DO CAMPO DOS MELROS

Aqui onde estamos
Conquistamos os campos azuis
E as montanhas de minério sem sopé
E nos casamos
Cada qual com sua estrela-guia

Aqui no império que construímos
Mãos cruzadas sobre o peito
Continuamos a batalha

Nós a continuamos para trás

Crianças
Vejam que ainda não chegamos
E sabe lá deus se um dia chegaremos
Ao começo da batalha

De onde ouvimos
Alto em algum lugar sobre nós
A canção verde no melro

(Fotos de Camila Sérgio.)