sexta-feira, 29 de junho de 2012
O "baile"
Chorando o sangue, digo, o leite derramado, Laura? Não conte com a minha compaixão. Tou mais é rindo da tua cara, minha nêga. Cantei a bola, não cantei? Ouviste? O cacete. Agora qualquer importância dada à minha lucidez é demasiado tarde. Também não vale transferir a responsabilidade pro destino, ou serei obrigada a te esfregar na cara uma de ti, nem tão longe, entupida de certezazinhas, arrotando a sua banca. Comigo é que nunca colou. Se fazendo de coitada, dando uma de doida que não viu aonde é que aquilo tudo ia dar? Sendo bem honesta consigo, já que eu saquei faz é tempo, diz aí pro teu arrependimento se a escolha teve outro fundamento que não o teu pavor paralisante disfarçado de "fôda-se"? Pois agora fudeu foi de vera, minha filha. E a senhora, que podia ter feito o mínimo esforço, vai ter que chupar essa manga, é o que eu tenho pra te dizer e ainda te digo outra: te apodera do caminho, que o pra trás já era, não é mais. Em frente, sujeita! Enfrente. Vai fazer o quê? Pedir clemência? Sou das tais que prefere aplicar a penitência.Vai encarar? Oxe!
Ceronha Pontes
29 de junho de 2012
P.S.: "Baile", do pernambuquês, corresponde a "dar um carão", em cearês.
Extra:
quinta-feira, 28 de junho de 2012
A febre de Lucian
Por olhares distintos, é verdade, mas, assim como à personagem (Luiza, de Essa febre que não passa), também a mim afetam as criaturas de Lucian Freud.
Ceronha Pontes
Recife-PE, 28 de junho de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
"Cipó que nos enrosque"
Dércio se mandou. Foi poetar, cantarolar, dedilhar, plantar ipês por aí. Deixa o seu rastro iluminado, caminho perfumado pra gente seguir cantando.
Ceronha Pontes
Recife-PE, 27 de junho de 2012
sábado, 23 de junho de 2012
Que venham os girassóis
Em Londrina, com ESSA FEBRE QUE NÃO PASSA, no Teatro Vila Rica, às 20h de hoje e amanhã. Duas vezes no Paraná em curto espaço de tempo, recordando o frio de quando vivi por aqui, um tanto mais pro oeste, numa Foz.
Queria mesmo era dormir. Socorro. Ou a pilulinha que a Lili me ofereceu tava vencida, ou não tem bomba que derrube espírito avariado.
Entre as doçuras que atuam, garantido que o espetáculo aconteça à revelia de meu humor agonizante, dividir o quarto de hotel com uma bailarina linda e alto astral, e esta canção bonita que deixo pra vocês. Porque de fato, "mais um santo pra esculpir é o que lhe/me/nos vale, pra evitar que o rancor suas ervas espalhe".
Ceronha Bisonha
Londrina-PR, 23 de junho de 2012
domingo, 10 de junho de 2012
Longe
Acostumou-se a perder. Pareceu-lhe sempre natural. Nunca esperneou quando partiram os amores, quando lhe esnobou o trabalho, quando lhe faltou a grana, quando passou por ridícula, por incapaz, por acomodada (ai, que "acomodada" lhe doía mais que tudo, mas, nem assim...), por inútil. Deixou que julgassem mal suas escolhas e dons. Foi indo assim, quase achando legal a sua sina marginal.
Até que lhe roubaram o Futuro, de um jeito que ela não me permite contar porque tem vergonha do quanto facilitou. Sente-se uma besta. Fosse apenas não ter resistido, mas, não. Entregou. Nem por preguiça da luta, e sim por nunca entender nem sentir gosto bom naquilo que, sendo seu por direito, tivesse de ferir para ter. Como? Por todos os deuses do Olimpo, não creiam que fale de "coisas". "Coisas" nunca foi o que lhe moveu na vida. Por estas, tanto mais empacada.
O Futuro...
E já era tarde quando sacou sua natureza desperdiçada, sem mais tempo de resgate ou reconstrução. Aí levantou-se com uma fúria que desconhecia. Foi assustador vê-la sem esperanças.Tentei acalmá-la aplicando todo o meu repertório de clichês para consolo, mas, apesar de fracassada (que ela não me ouça), é inteligente o bastante para não acreditar em mim. Então me calo. Deixo que se faça mal. Nunca viu graça em fazê-lo a outrem, de modo que gastará sua ânsia praticando contra si e nada posso para dissuadi-la. Cumpra-se.
Antes de me retirar, no entanto, ponho pra tocar baixinho um Caetano Veloso. Cara, ela não curte o Caetano. Diz que quando ele dá entrevistas parece demais com um ex-namorado que é a falácia em pessoa. Mas certa vez, ouvindo... o quê, mesmo? Talvez fosse Trem das Cores. Era isso, sim. Gosta daquele verso: "azul que pura memória de algum lugar". Então ouvíamos Trem das Cores e ela disse bem assim: "a esse cara, bastasse o canto".
Então arrisco a bola fora, sendo que pior já não fica.
Ceronha Pontes
Recife, 10 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
.....................
Não há passado pra onde ela quisesse voltar.
Ceronha Pontes
Forteleza-Ce, 06 de junho de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)