Ontem Eros me flagrou no espelho do banheiro ensaiando um cabelo Joãozinho.
- Você fica linda, já te disse.
Hoje, no café da manhã, ainda animado com a possibilidade, provocou:
- E aí, vai "raspar" quando?
- Só quando montar o próximo espetáculo.
Mudou radicalmente o seu semblante. Tristeza, decepção, raiva, medo...
- Que cara é essa?
- Então cortar o cabelo é só o começo de uma série de mutilações.
Mutilar-me até que a "cria" encontre passagem. Que imagem tão forte ele me dá. E, no trabalho futuro em questão, bem ao pé da letra, me lembra.
-Você não terá pudores de arrebentar os seios, o ventre.
- É tudo "ação física"*.
- "Ação física" machuca.
Assustei-me. Queria ter coragem de cortar Joãozinho agora, sem relação com nada nem ninguém que não seja eu mesma.
Ceronha Pontes
Recife-Pe, 02 de maio de 2012
*Referindo-me ao método.
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