sexta-feira, 16 de abril de 2010

FEIJÃO E LENDAS, especialmente dedicado aos tamborilenses.


"Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem."
(Há tempos, Renato Russo.)


Blogueiros queridos meus, celebrando a estréia da jovem escritora tamborilense Noélia Melo, que acrescenta à literatura infantil o seu História de Circo, lançado amanhã na Bienal do Livro, em Fortaleza-CE.

Nascida pras rodas de poesia, cirandas e cantorias, Noélia é assim que nem uma colherada de doce-de-leite com um "pedacim" de queijo-qualho, que nem siriguela colhida vermelha no pé, que nem um "tibungo" no Pedra-e-Cal, que nem palestrar na pracinha de tarde pra noitinha. É uma jóia, a danada! Pode crer.

Como aconteceu?

A ONG Casa do Conto, criada por escritores e contadores interessados em contribuir para a inclusão social pelos caminhos da leitura, além de trabalhar com jovens da periferia de Fortaleza, propagou-se pelo interior do estado do Ceará, através de parcerias com as prefeituras interessadas. Assim chegou a Tamboril, onde o Secretário de Educação, o Sr. Gilson Mota, reuniu pessoas afinadas com a idéia (Fatinha, Weksslei, Isabel, Noélia e outros bons) e delegou-lhes a dulcíssima tarefa de resgatar o "gostim" das antigas tradições. Pois é certo que lá nos anos de antigamente, em tempos de farta colheita, o povo do sertão se juntava em mutirão e varava noites nos terreiros a debulhar feijão e lendas.

Orientado pelos técnicos da Casa do Conto, nosso bando contador deu com o espanador na poeira de baús sortidos como os de Sitônio Pedro, de Lourival e Totonha, também o de Graças Farias e de quem muito tivesse pra contar. Mistérios do Feiticeiro, assombros da Boca-da Noite, ou de como nasceu ali aquele tambor pequeno, aquele pé de Tamboril. Hômi, Seu Menino, a coisa rendeu!

Saraus bem animados com viola e cantoria, rodas de leitura em torno da foqueirinha, oficinas de contação e musicalização avançaram pelas escolas, despertando na meninada o gosto pelo trancoso e pela verdade também. Referências, horizontes, rebuliço criativo! Isto sim, um poder que nos convém.

Foi quando o Almir Mota, escritor e presidente da Casa do Conto, e também responsável pelo programa de contação de histórias do Centro Cultural Banco do Nordeste(Fortaleza), promoveu uma maratona de contação envolvendo os municípios contemplados com o projeto. A coisa se deu lá mesmo no auditório do CCBNB, na capital.

O tema era O CIRCO.

"Aí eu tive a inspiração" , revelou nossa menina, sobre a sua ficção. Escreveu sobre um circo que visitava a cidade todos os anos. Na ocasião a professora Ritinha (o nome seria uma homenagem à nossa Tia Ritinha?) levava a garotada a pesquisar sobre o tema e montava na sala de aula uma colorida exposição de desenhos e histórias de circo. Daquela vez, quem contasse a história mais divertida ganharia cobiçados ingressos para a matinê, que seriam entregues pelos próprios palhaços ali mesmo, na escola. A novidade assanhou a garotada que ansiosa esperava a visita de Pipoco e Pipoca. Atrapalhados e achando muito difícil escolher entre tantas engraçadas historinhas, os bons palhaços decidiram por convidar a turma todinha.

Pois eu é que não vou contar o resto da história. Só digo que tem trapezista bonita deixando Joãozinho de queixo caído.

Continuando:

Seu Menino e Dona Menina, os senhores me acreditam que depois de muitos livros pesquisar, o bando dos contadores escolheu para apresentar na maratona a história(então inédita) da Noélia? Contaram e deu o maior pé. Sucesso absoluto! Não tô dizendo? Assim foi.

Querem mais? Pois tem.

O Kelsen Bravos, também da ONG Casa do Conto, inscreveu História de Circo num edital da Secretaria de Educação do Estado, para fins de publicação que integraria a coleção Prosa e Poesia, do PAIC(Programa de Alfabetização na Idade Certa), sendo o livro distribuído em todas as bibliotecas das escolas da rede pública de ensino.

APROVADO!

"O Kelsen me ligou dizendo que o livro ia ser publicado e eu perguntei: que livro?"
Desacreditava Noélia, que nem ao menos sabia do esforço do amigo. Agora taí, a menina de Seu Joaquim e Dona Itelvina, ESCRITORA.

E me sinto na feliz responsabilidade de chamar atenção para o fato não apenas por ela, mas por todos os jovens envolvidos. Ainda que não resultasse na publicação de um livro, afinal ninguém é obrigado a se tornar escritor, artista, atleta e tal. Mas é claro que incentivar a garotada, oferecendo-lhe condições para desenvolver seus dons, nos pouparia em desgraça.

"Há tempos são os jovens que adoecem", cantava o Renato Russo.

Sou de me preocupar com o destino da "galera". Me dá um nó na garganta quando sei de uns tantos muito orgulhosamente alardeando que a auto-estima dos tamborilenses foi enfim restaurada por estes mega eventos que levantam a Saia Rodada, exibindo a Calcinha Preta dos Aviões do Forró. E por favor me escutem tal como digo, não mais do que digo. Não é que eu defenda que Seu Menino e Dona Menina e a meninada de plantão devessem se privar de festejos e até dos seus "birinaites". Imaginem!Também a mim apraz uma boa fuzarca. Mas pelo amor de Santo Anastácio, no dia que a "lapada na rachada" for a expressão maior da dignidade de minha gente, desisto de meu enterro no velho Tambas. Demos às coisas os nomes adequados.

Por falar em auto-estima...

A formação se dá por meios menos dispersivos. O conhecimento requer atenção. A sensibilidade se apura nas experiências mais sutis. Quando os dons são reconhecidos, estimulados, bem orientados e encontram meios pelos quais se expressar, é quando de fato temos realizações significativas.

E é por isto que desejo e cobro a continuidade do projeto que deu a Tamboril a alegria de ver a Noélia publicando. Como também desejo ver florescer muitas outras idéias e ações que explorem melhor o potencial das pessoas e lhes acrescente em dignidade.

Preservo a minha fé em cada um dos lá, porque perdê-la seria como desacreditar em mim mesma. Presto-lhes toda atenção e sofro as perdas e comemoro os ganhos. Verdadeiramente. De onde estiver.

Um abraço a todos, cheio de carinho, enquanto fico por aqui a Djavaniar:

"Feito mãe que dorme olhando os filhos, com os olhos na estrada."


CERONHA PONTES
Recife-PE, 16 de abril de 2010.

7 comentários:

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  2. Parabéns Cecé, lindo texto, pelo visto você também daria uma bela escritora. Parabéns Noélia!!! que seja só o início

    Givaldo

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  3. Estou muito feliz em saber que minha amiga de infância a noeli melo, está se dedicando a literatura,isso muito me alegra em saber que o nosso povo, de uma cidade tão simples, que muitos desconhecem a sua existência nesse país tão grande, isso mostra que a dedicação, a perseverança e a inteligência são fatores muito importante na vida do ser.
    Patabéns minha amiga Noelia que Deus te abençõe na sua nova fase de vida, e quero poder prestigiar todos os seu livro com muito amor e carinho.
    Parabéns Cecé... bjs
    Gimpaulo Barros.

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  4. Olá, minha doce 'prima'. Quanta saudades tenho de ti, menina! Adorei seu Post e seu Blog.

    Estive no lançamento do livro da Nôno. Foi muito bom ver mais um 'filho' sendo posto ao mundo. O primeiro de vários que virão!

    Estive também com 'minha tia Tô'- ou como diz minha mãe: 'Tôzinha'- e conversamos brevemente mas, como sempre, estar perto dela apenas, já basta!

    Fico feliz de te 'encontrar' e te desejo ainda mais sucesso e felicidade!

    Beijos do seu 'primo',
    Roger Lima

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  5. Parabéns pelo conteúdo de seu blog,é muito bom ver um texto como esse, divulgado tamanha satisfação por ver uma conterranea mostrando o tamanho de seu pontencial, a minha amiga Noélia Parabéns, fico muito feliz por essa conquista e sei que muitas outras virão.

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  6. Agradeço a todos pelos comentarios carinhosos, sei que são verdadeiros e nesse exato momento de minha vida isso é o que importa, possuir amigos que mesmo longe lembram-se e torcem por minhas conquistas.Ceronha mis uma vez obrigada! vc é maravilhosa, inteligentissíma, espero que nessa minha carreira des escritora possa um dia alçançar um terço de tua sabedoria. Bjos!

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  7. Olá Ceronha,

    O livro da Noélia caiu no afeto da meninada. Tem cada história acontecendo em torno e a partir dele... daria um documentário.

    Por exemplo: As crianças de circo têm amparo legal que lhes garante matrícula em escola de sua escolha na cidade onde o circo chegar. A Fabiana Guimarães, uma outra autora da coleção que o livro da Noélia integra, conheceu e ficou amigona de uma criança de um circo que se instalou lá na Mangabeira, no Eusébio, bem em frente a casa dela. Conversa vai, conversa vem, ela se disse escritora. Que escreveu livro tal e outro assim e o Menino e o Tempo.

    "EU conheço esse livro!" - disse o menino - "Num é o que conta história de um menino que queria ficar amigo do tempo?"...

    Ele não só conhecia este mas vários outros livros da coleção PAIC - PROSA e POESIA (que tive o prazer, a responsabilidade, o compromisso social de conceber e organizar junto ao Programa Alfabetização na Idade Certa). A Fabiana cuidou de levar a sua coleção completa para o circo, em especial o História de Circo, da Noélia. Do mais idoso ao mais bebê integrante daquela família circense, todos se emocionaram, se viram no livro e admitiram é "assim mesmo".

    Nem sei se Noélia sabe disso. Mas é bacana, né?

    O menino (que chato não saber do nome dele) só havia lido porque os livros da coleção PAIC - PROSA e POESIA são distribuídos para todas as salas (eu disse salas) de todas as turmas de educação infantil e primeiros anos de todos os 184 municípios do Estado do Ceará.

    A coleção foi organizada a partir do tema cultura e identidade. Levamos de modo universal as cores, os sabores, os olores, o sotaque e o jeito de ser da nossa gente.

    Os autores e ilustradores cearenses (ou aqui radicados) entenderam a proposta e não podia dar outra, a coleção inteira caiu no afeto da meninada, pois somados ao talento dos artistas, as personagens, os cenários e os temas estão plenos de referência do mundo onde vivem as crianças, viram muito de si mesmas.

    A despeito dessa radicalização os livros têm o caráter universal necessário a boa literatura, a boa arte.

    _________________

    Agora tenho uma notícia de primeira para você, Isabel Nogueira está na próxima coleção com o livro "Lagarta banguela, Borboleta bela". Viva Tamboril de gente tão talentosa! Que suas crianças estejam por desejo e convicção bem longe de ter a dignidade representada por "lapada na rachada".

    Beijo azul,

    Sou seu fã.

    Kelsen Bravos
    http://kelsenbravos.blogspot.com
    kelsenbr@gmail.com

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