quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cinema "Paradis"


Élisa (França-1995), um filme de Jean Becker. No Brasil acrescentou-se ao título original o parêntese: em sua honra.

Porque Vanessa Paradis tem olhos nos quais se tem vontade de mergulhar. Porque ele é Geràrd Depardieu. Porque a música tema é do Serge Gainsbourg. Porque... Aaah!!!

"Elisa, Elisa
Elisa saute moi au cou

terça-feira, 20 de abril de 2010

ELES


Crio fantasmas. Recolhi-os ao acaso de minha perdição. Insuspeitáveis. Há os que me acompanham passo a passo, seja pra onde for, sob sol e chuva, sob riso e dor. E os que só vêm ter comigo no escuro. Fiéis, no entanto, estes e aqueles. São de diferentes raças e tempos e lugares e sua convivência nem sempre harmoniosa às vezes me adoece, outras diverte. Numa noite inquieta mais recente, reuniu-se a eles uma Delmira, uruguaya, que assim se apresentou:

"Fiera de amor, yo sufro hambre de corazones."

E desde então não se cansa de atirar-me à face a minha própria fome. Fez-se logo aliada de um outro insolente, um tipo estranho que se veste só da cintura para cima, pelo qual confesso minha predileção, pois sua natureza lhe permite surgir no modo "carne viva" quando queira. E o quer muito raramente, tornando inesquecível cada vez perdida que o faça, me dando de imaginar por mais não sei quantas encarnações. Juntos, Delmira e este outro, têm me enfeitado a janela com girassóis dourados. Por eles, nem importando se durmo, me gusta amanhecer.

CERONHA PONTES
Recife-PE, 20 de abril de 2010.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

FEIJÃO E LENDAS, especialmente dedicado aos tamborilenses.


"Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem."
(Há tempos, Renato Russo.)


Blogueiros queridos meus, celebrando a estréia da jovem escritora tamborilense Noélia Melo, que acrescenta à literatura infantil o seu História de Circo, lançado amanhã na Bienal do Livro, em Fortaleza-CE.

Nascida pras rodas de poesia, cirandas e cantorias, Noélia é assim que nem uma colherada de doce-de-leite com um "pedacim" de queijo-qualho, que nem siriguela colhida vermelha no pé, que nem um "tibungo" no Pedra-e-Cal, que nem palestrar na pracinha de tarde pra noitinha. É uma jóia, a danada! Pode crer.

Como aconteceu?

A ONG Casa do Conto, criada por escritores e contadores interessados em contribuir para a inclusão social pelos caminhos da leitura, além de trabalhar com jovens da periferia de Fortaleza, propagou-se pelo interior do estado do Ceará, através de parcerias com as prefeituras interessadas. Assim chegou a Tamboril, onde o Secretário de Educação, o Sr. Gilson Mota, reuniu pessoas afinadas com a idéia (Fatinha, Weksslei, Isabel, Noélia e outros bons) e delegou-lhes a dulcíssima tarefa de resgatar o "gostim" das antigas tradições. Pois é certo que lá nos anos de antigamente, em tempos de farta colheita, o povo do sertão se juntava em mutirão e varava noites nos terreiros a debulhar feijão e lendas.

Orientado pelos técnicos da Casa do Conto, nosso bando contador deu com o espanador na poeira de baús sortidos como os de Sitônio Pedro, de Lourival e Totonha, também o de Graças Farias e de quem muito tivesse pra contar. Mistérios do Feiticeiro, assombros da Boca-da Noite, ou de como nasceu ali aquele tambor pequeno, aquele pé de Tamboril. Hômi, Seu Menino, a coisa rendeu!

Saraus bem animados com viola e cantoria, rodas de leitura em torno da foqueirinha, oficinas de contação e musicalização avançaram pelas escolas, despertando na meninada o gosto pelo trancoso e pela verdade também. Referências, horizontes, rebuliço criativo! Isto sim, um poder que nos convém.

Foi quando o Almir Mota, escritor e presidente da Casa do Conto, e também responsável pelo programa de contação de histórias do Centro Cultural Banco do Nordeste(Fortaleza), promoveu uma maratona de contação envolvendo os municípios contemplados com o projeto. A coisa se deu lá mesmo no auditório do CCBNB, na capital.

O tema era O CIRCO.

"Aí eu tive a inspiração" , revelou nossa menina, sobre a sua ficção. Escreveu sobre um circo que visitava a cidade todos os anos. Na ocasião a professora Ritinha (o nome seria uma homenagem à nossa Tia Ritinha?) levava a garotada a pesquisar sobre o tema e montava na sala de aula uma colorida exposição de desenhos e histórias de circo. Daquela vez, quem contasse a história mais divertida ganharia cobiçados ingressos para a matinê, que seriam entregues pelos próprios palhaços ali mesmo, na escola. A novidade assanhou a garotada que ansiosa esperava a visita de Pipoco e Pipoca. Atrapalhados e achando muito difícil escolher entre tantas engraçadas historinhas, os bons palhaços decidiram por convidar a turma todinha.

Pois eu é que não vou contar o resto da história. Só digo que tem trapezista bonita deixando Joãozinho de queixo caído.

Continuando:

Seu Menino e Dona Menina, os senhores me acreditam que depois de muitos livros pesquisar, o bando dos contadores escolheu para apresentar na maratona a história(então inédita) da Noélia? Contaram e deu o maior pé. Sucesso absoluto! Não tô dizendo? Assim foi.

Querem mais? Pois tem.

O Kelsen Bravos, também da ONG Casa do Conto, inscreveu História de Circo num edital da Secretaria de Educação do Estado, para fins de publicação que integraria a coleção Prosa e Poesia, do PAIC(Programa de Alfabetização na Idade Certa), sendo o livro distribuído em todas as bibliotecas das escolas da rede pública de ensino.

APROVADO!

"O Kelsen me ligou dizendo que o livro ia ser publicado e eu perguntei: que livro?"
Desacreditava Noélia, que nem ao menos sabia do esforço do amigo. Agora taí, a menina de Seu Joaquim e Dona Itelvina, ESCRITORA.

E me sinto na feliz responsabilidade de chamar atenção para o fato não apenas por ela, mas por todos os jovens envolvidos. Ainda que não resultasse na publicação de um livro, afinal ninguém é obrigado a se tornar escritor, artista, atleta e tal. Mas é claro que incentivar a garotada, oferecendo-lhe condições para desenvolver seus dons, nos pouparia em desgraça.

"Há tempos são os jovens que adoecem", cantava o Renato Russo.

Sou de me preocupar com o destino da "galera". Me dá um nó na garganta quando sei de uns tantos muito orgulhosamente alardeando que a auto-estima dos tamborilenses foi enfim restaurada por estes mega eventos que levantam a Saia Rodada, exibindo a Calcinha Preta dos Aviões do Forró. E por favor me escutem tal como digo, não mais do que digo. Não é que eu defenda que Seu Menino e Dona Menina e a meninada de plantão devessem se privar de festejos e até dos seus "birinaites". Imaginem!Também a mim apraz uma boa fuzarca. Mas pelo amor de Santo Anastácio, no dia que a "lapada na rachada" for a expressão maior da dignidade de minha gente, desisto de meu enterro no velho Tambas. Demos às coisas os nomes adequados.

Por falar em auto-estima...

A formação se dá por meios menos dispersivos. O conhecimento requer atenção. A sensibilidade se apura nas experiências mais sutis. Quando os dons são reconhecidos, estimulados, bem orientados e encontram meios pelos quais se expressar, é quando de fato temos realizações significativas.

E é por isto que desejo e cobro a continuidade do projeto que deu a Tamboril a alegria de ver a Noélia publicando. Como também desejo ver florescer muitas outras idéias e ações que explorem melhor o potencial das pessoas e lhes acrescente em dignidade.

Preservo a minha fé em cada um dos lá, porque perdê-la seria como desacreditar em mim mesma. Presto-lhes toda atenção e sofro as perdas e comemoro os ganhos. Verdadeiramente. De onde estiver.

Um abraço a todos, cheio de carinho, enquanto fico por aqui a Djavaniar:

"Feito mãe que dorme olhando os filhos, com os olhos na estrada."


CERONHA PONTES
Recife-PE, 16 de abril de 2010.