sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Onde estão teus tamborins?"



"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

(Dedução - Vladimir Maiakóvski)


para Maeve Jinkings


Ontem uma querida me chamava a atenção para esta dificuldade toda de respirar. A falta de espaço para os pulmões denunciando o modo como temos nos colocado na vida.
Descobri portar um vírus bem nojentinho que se manifesta cada vez que a vida sai dos conformes, atirando na minha cara esta incapacidade de lidar com o que não acredito. Tenho desacreditado demais. E tome pereba na garganta e no ouvido, e ânsias, e dores de cabeça e no estômago... E tome tratar a coisa com remédios phuderosos que desequilibram a flora bacteriana presente na cavidade oral (fora o phuderosos, o resto aprendi com o médico), me tornando um parquinho de diversões para fungos e bactérias. A bronquite fez a festa e me tirou de cena.
Com excessão de um aborto espontâneo sofrido em setembro de 2010, nada me havia tirado de cena. Nem quando meu pai desencarnou, me abstive de cumprir minhas obrigações para com o teatro. E sempre me vangloriei da fortaleza. Até na minha fase DOIDA, o senso de responsabilidade falou mais alto e nenhuma apresentação foi cancelada por que eu estivesse sob o "barato" de Lítio ou Rivotril (me atire a primeira pedra aquele ou aquela que).
Era o que me faltava, ser derrubada por uma pá de catarro nos peitos, querendo se promover a pneumonia. Coisa mais sem glamour! Bem orientada, abdiquei até das "meisinhas" de doido, como viver à base de antibióticos? Seria descer muito baixo. Me recuso. Minha cara lavada às feras. Tamos aí.
Falando nelas...
Mais uma vez "deixo" partir o meu amor. Porque nasci com esta vocação para o vôo, de modo que não aparo, de ninguém, as suas asas. Princípio que me guia: nunca fazer ao outro o que não quer que este lhe faça. "Coincidentemente", estamos construindo um espetáculo em que minha personagem é justamente uma mulher que espera a asa botar a última pena. E não que as coisas se misturem, pelo menos não no sentido patológico mas, a da ficção, tão bem escrita por Luce Pereira, inevitavelmente me faz pensar nas perdas próprias de uma escolha. Difícil e absurdamente dolorido enfrentar outra de suas ausências longas, porém, impossível renunciar a mim mesma e às coisas para as quais a natureza me destinou. Minha mania de grandeza: pensar que tenho uma sina, uma missão. "Vai, querido". Me custa dizer, mas o faço honestamente. "Vai".
É o homem mais incrível quando seus olhos ficam vermelhos de tanto segurar o choro, enquanto expõe suas razões para se recolher em outro continente, buscando apropriar-se de meios para ser e tentar que chegue a felicidade a mais, e mais, e mais pessoas. Tem amor de sobra para ser só meu e, no entanto, tão inteiramente meu. E se expressa muito mais plenamente este amor, na capacidade de seguirmos por caminhos distintos, sem nos perdermos. A sua erudição e a minha breguice, sua palavra bonita e os meus caralhos e porras, a sua fé e minha falta de, sua disciplina e meu caos... Nós dois, na harmonia troncha (mas, legítima) dos opostos. Bravos.
Pelo quê, mesmo, estou trocando uma temporada num país "exótico", onde desfrutar desse amor todinho? Conheço a resposta. E me penitencio por todos os projetos abortados nas minhas andanças. Cadê aquela que queria dizer aquilo tudo? 
A minha querida, que me fez pensar em alternativas mais inteligentes pra lidar com as verdadeiras mazelas que repercutem nos meus lastimáveis pulmões, reacendeu em mim desejos antigos. Chamou-me à responsabilidade, e voltei a ouvir o clamor de umas tantas criaturas que abandonei aqui dentro de mim, e a quem havia prometido voz. Voz, sabem o que digo? Voz. Talvez seja a hora. E que isto justifique ficar. Ficar bem.
Que seja feliz o Eros, enquanto distante, apurando a sua vocação. Que ao nos reencontrarmos, tenhamos uma obra que dedicar um ao outro.
Claro, se a vida não der uma rasteira na gente e fizer acontecer do jeitinho que ninguém planejou, só pra nos dar ciência de nossa pequenez.
Enquanto isso, meio anestesiada de tanto que me derramo, me esquivo das relevantes tarefas que me confiou meu querido diretor, Marcondes Lima, para esses dias de molho em casa.Culpa bandida.
Apelo para Maiakóvski, cavando estímulos por onde resgatar "aquela". E o faço "com lágrimas de enternecimento" conforme previu ele mesmo, o Vladimir. Me agarro aos poemas e também às cartas destinadas a Lila Brik, com um Zeca Baleiro no "pé duvido", e duvidando ainda.


A propósito, indifrente ao meu estado, segue em cartaz RASIF-MAR QUE ARREBENTA, da obra de Marcelino Freire, por Marcondes Lima, numa realização do Coetivo Angu de Teatro. De quinta a domingo deste, no Teatro Hermilo Borba Filho (Recife-Pe), sempre às 20h. IMPERDÍVEL!!!


Ceronha Pontes
Recife-Pe, 12 de fevereiro de 2011

2 comentários:

  1. "Brilhar para sempre,
    brilhar como um farol
    gente com brilho eterno
    gente é para brilhar,
    que tudo mais vá para o inferno,
    este é o meu slogan
    e o do sol." (V. Maiakóvski)


    Cecé,alguns momentos nos fazem lembrar o quanto somos vulneráveis,encontramos pedras que nos obriga a desviar dos caminhos que pretendemos seguir,são os momentos que precisamos mesmo fugir da razão.Vivemos entre a loucura e a lucidez,que atire a primeira pedra....
    Melhore e volte a brilhar no espaço que vc. conquistou.

    bjs.

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  2. lindo seu espaço!sensível, comovente!
    voltarei outras vezes!bjs
    Isabelle de Morais

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