terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dodói de paúra nº 2



Quando a noite longa enfim termina, Nanica se livra do abraço perverso e, cambaleante, procura o colo covarde da velha que lhe (des)cuida, rendendo-se a um cansaço incompatível com a miudeza dos cinco anos.
O carrasco ronca.


Ceronha Tristonha
Recife-Pe, 15 de fevereiro de 2011
dodói de paúra nº 1: http://ceronhapontes.blogspot.com/2010/08/dodoi-de-paura.html




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os bichos



Porque te trouxe, insuspeitável, a noite azul, fez-se o dia amarelinho, amarelinho. 
Respiro.
Ceronha 
Recife-Pe, 14 de fevereiro de 2011


refresco:

sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Onde estão teus tamborins?"



"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

(Dedução - Vladimir Maiakóvski)


para Maeve Jinkings


Ontem uma querida me chamava a atenção para esta dificuldade toda de respirar. A falta de espaço para os pulmões denunciando o modo como temos nos colocado na vida.
Descobri portar um vírus bem nojentinho que se manifesta cada vez que a vida sai dos conformes, atirando na minha cara esta incapacidade de lidar com o que não acredito. Tenho desacreditado demais. E tome pereba na garganta e no ouvido, e ânsias, e dores de cabeça e no estômago... E tome tratar a coisa com remédios phuderosos que desequilibram a flora bacteriana presente na cavidade oral (fora o phuderosos, o resto aprendi com o médico), me tornando um parquinho de diversões para fungos e bactérias. A bronquite fez a festa e me tirou de cena.
Com excessão de um aborto espontâneo sofrido em setembro de 2010, nada me havia tirado de cena. Nem quando meu pai desencarnou, me abstive de cumprir minhas obrigações para com o teatro. E sempre me vangloriei da fortaleza. Até na minha fase DOIDA, o senso de responsabilidade falou mais alto e nenhuma apresentação foi cancelada por que eu estivesse sob o "barato" de Lítio ou Rivotril (me atire a primeira pedra aquele ou aquela que).
Era o que me faltava, ser derrubada por uma pá de catarro nos peitos, querendo se promover a pneumonia. Coisa mais sem glamour! Bem orientada, abdiquei até das "meisinhas" de doido, como viver à base de antibióticos? Seria descer muito baixo. Me recuso. Minha cara lavada às feras. Tamos aí.
Falando nelas...
Mais uma vez "deixo" partir o meu amor. Porque nasci com esta vocação para o vôo, de modo que não aparo, de ninguém, as suas asas. Princípio que me guia: nunca fazer ao outro o que não quer que este lhe faça. "Coincidentemente", estamos construindo um espetáculo em que minha personagem é justamente uma mulher que espera a asa botar a última pena. E não que as coisas se misturem, pelo menos não no sentido patológico mas, a da ficção, tão bem escrita por Luce Pereira, inevitavelmente me faz pensar nas perdas próprias de uma escolha. Difícil e absurdamente dolorido enfrentar outra de suas ausências longas, porém, impossível renunciar a mim mesma e às coisas para as quais a natureza me destinou. Minha mania de grandeza: pensar que tenho uma sina, uma missão. "Vai, querido". Me custa dizer, mas o faço honestamente. "Vai".
É o homem mais incrível quando seus olhos ficam vermelhos de tanto segurar o choro, enquanto expõe suas razões para se recolher em outro continente, buscando apropriar-se de meios para ser e tentar que chegue a felicidade a mais, e mais, e mais pessoas. Tem amor de sobra para ser só meu e, no entanto, tão inteiramente meu. E se expressa muito mais plenamente este amor, na capacidade de seguirmos por caminhos distintos, sem nos perdermos. A sua erudição e a minha breguice, sua palavra bonita e os meus caralhos e porras, a sua fé e minha falta de, sua disciplina e meu caos... Nós dois, na harmonia troncha (mas, legítima) dos opostos. Bravos.
Pelo quê, mesmo, estou trocando uma temporada num país "exótico", onde desfrutar desse amor todinho? Conheço a resposta. E me penitencio por todos os projetos abortados nas minhas andanças. Cadê aquela que queria dizer aquilo tudo? 
A minha querida, que me fez pensar em alternativas mais inteligentes pra lidar com as verdadeiras mazelas que repercutem nos meus lastimáveis pulmões, reacendeu em mim desejos antigos. Chamou-me à responsabilidade, e voltei a ouvir o clamor de umas tantas criaturas que abandonei aqui dentro de mim, e a quem havia prometido voz. Voz, sabem o que digo? Voz. Talvez seja a hora. E que isto justifique ficar. Ficar bem.
Que seja feliz o Eros, enquanto distante, apurando a sua vocação. Que ao nos reencontrarmos, tenhamos uma obra que dedicar um ao outro.
Claro, se a vida não der uma rasteira na gente e fizer acontecer do jeitinho que ninguém planejou, só pra nos dar ciência de nossa pequenez.
Enquanto isso, meio anestesiada de tanto que me derramo, me esquivo das relevantes tarefas que me confiou meu querido diretor, Marcondes Lima, para esses dias de molho em casa.Culpa bandida.
Apelo para Maiakóvski, cavando estímulos por onde resgatar "aquela". E o faço "com lágrimas de enternecimento" conforme previu ele mesmo, o Vladimir. Me agarro aos poemas e também às cartas destinadas a Lila Brik, com um Zeca Baleiro no "pé duvido", e duvidando ainda.


A propósito, indifrente ao meu estado, segue em cartaz RASIF-MAR QUE ARREBENTA, da obra de Marcelino Freire, por Marcondes Lima, numa realização do Coetivo Angu de Teatro. De quinta a domingo deste, no Teatro Hermilo Borba Filho (Recife-Pe), sempre às 20h. IMPERDÍVEL!!!


Ceronha Pontes
Recife-Pe, 12 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

rhytmos



Tristezinho de dar dó. A dó que eu tivesse. 
Segue a tua pressa, criança. Vai, procura, que é preciso. Até não achar. Nessa hora, o teu sorriso.
Eu? Vivo de ir, não vês? E quem escapa? Mas, vou dançando.


ceronha
Recife-PE, 11 de fevereiro de 2011




sábado, 5 de fevereiro de 2011

Ensaio febril
















Ceronha Pontes 














Maeve Jinkings 











Hilda Torres










Hermila Guedes







Mayra Waquim











Márcia Cruz






ESSA FEBRE QUE NÃO PASSA (espetáculo em construção). Da obra de Luce Pereira, uma realização do Coletivo Angu de Teatro, com direção de André Brasileiro e preciosa assistência de Marcondes Lima. Produção de Tadeu Gondim. 


Ceronha Pontes
Recife-PE, 05 de janeiro de 2011