domingo, 29 de abril de 2012

Nonna



Desta lonjura, minhas noites em sonho de pavor. Já desperto ao telefone. 
Ela, agora sobre pernas que giram, ainda e sempre dona de mim.
"Você acaba sabendo, ? Olhe, daqui pra frente é só notícia boa". Promete. Aguardo com o coração entalado na garganta.




Ceronha Pontes (Cecé)
Recife-Pe, 29 de abril de 2012




terça-feira, 24 de abril de 2012

Hitler não comia tapioca



Na     minúscula     varanda    ,     arriscando-se     numa     instável     cadeira     de     plástico     que        insiste     em        apoiar     apenas     nas     pernas     de     trás    ,     de     modo     a     desfrutar     de           débil      balanço    ,     impulsionado     pelos     pés     sujos     de     areia    ,     que     enfrentam     a     proteção     de     madeira     mal     coberta     por     desgastado     verniz    ,      .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 
A narrativa se alonga no vazio de sentido. O sentido que veio buscar. Mas, o quê, nestas águas, lhe atenuaria rancores longamente cultivados?
"Tão perto, as ondas!", atenta. A paisagem fora redesenhada desde a última vez.
"E se ficar aqui, parada, esperando o mar raivoso engolir também este refúgio"? Demora-se na consideração. Discreto prazer. 
Surpreendem-na as luzes do vilarejo. Quase dezoito horas. 
"Maldito progresso! Se duvidar esta porra já tem até Wi-Fi". Rosna.
Abandonadas sobre as suas pernas nuas as Bocas do Tempo, do velho "amigo" Galeano, companheiro tão inseparável quanto aquele que dorme a uns poucos passos.
Sob o artifício da claridade, aos óculos suspensos por uma perna torturada entre os seus dentes, a legítima serventia. Gosta de tratar livros muito íntimos feito fossem os Minutos de Sabedoria que a Avó adora. Qualquer página(!): 

A PESTE


O barco deslizava para o sul, no mar sereno, ao longo da costa sueca.
Era uma esplêndida manhã de verão. Os passageiros, sentados na coberta, desfrutavam do sol e da brisa suave, enquanto esperavam a hora do café da manhã.
De repente, uma moça correu até a balaustrada e vomitou.
Então, a senhora que estava ao seu lado fez a mesma coisa. Em seguida, dois homens se levantaram e as imitaram. E, um atrás do outro, foram vomitando todos os passageiros dos assentos da proa.
Os da popa riam daquele espetáculo ridículo: mas alguns não demoraram a enfiar os dedos na garganta, inclinando-se sobre o mar calmo, e outros os seguiram.
Ninguém conseguia não vomitar.
Victor Klemperer estava num dos últimos assentos. Para se defender da vomitadeira geral, concentrava-se pensando no seu próximo café da manhã: o café com creme, a geleia de laranja...
E chegou a vez dos que estavam atrás dele. Todos vomitaram. E ele também.
Klemperer esqueceu-se desta história. Ela voltou à sua memória alguns anos depois, na Alemanha, quando a ascensão de Hitler ia se tornando irrefreável.

Ah, Galeano tem um tal poder de lhe conferir às angústias a devida estatura! Recompõe-se.
"Acorda, meu bem, as frigideiras estão tinindo na vila. Coalho com doce de leite, ora dane-se. E tu"?
"Coco e coalho", responde sonolento, crente tratar-se de uma opção frugal.

Ceronha Pontes
Maracaípe, 18 de abril de 2012

P.S.: "Hitler não comia tapioca", concluiria mais tarde.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Palidez


"O rosto dela, a princípio apenas fantasmagórico, tranformou-se numa imagem mais branca que o pálido".

Em breve estas criaturas juntas vão atravessar, sem dó, desavisados corações. Corações de mãe, sobretudo.

 Nínive Caldas

 Anaterra Veloso

Kamila Souza


Para elas, inspirada na Ária da 4ª corda, de Bach, por Procol Harum, A Wither Shade Of Pale:



Ceronha Pontes
Recife-Pe, 23 de Abril de 2012





segunda-feira, 16 de abril de 2012

De Bérgamo a Pereiro


Erudito chega dá um "farnizim" no juizo, o meu esposo. De formação, juro a vocês. Ex- cantor lírico, prefere Donizzetti e Puccini a Verdi, sendo também grande admirador de um certo Marcondes Falcão Maia. Portanto, não engole qualquer Marisa Monte. Enquanto eu ando parecendo uma radiola engasgada, cantando sem parar o novo hit da referida cantora, tema dos mocinhos da atual novela das nove, ele teve de tomar suas providências. Impôs o meu conterrâneo que ele simplesmente A-D-O-R-A (o Falcão) e, ao menor sinal de "Depois", engata uma pérola do gênio cearense, com direito a coreografia e tudo. Eu me rendo e deixo a mais executada para apreciação de vocês:


Ceronha Pontes
Recife-Pe, 16 de abril de 2012



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Blogando


A fotógrafa Lenise Pinheiro visitou nosso camarim em Curitiba e registrou nossa preparação para Essa febre que não passa. Basta um clic no Folha.com
http://cacilda.blogfolha.uol.com.br/2012/04/06/essa-febre-que-nao-passa/