sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Adiamento indesejado


Queridos amigos, é com muito pesar que comunicamos o adiamento da estréia de CAMILLE CLAUDEL, que deveria acontecer na cidade do Recife, no próximo dia 07 de outubro, no ANGU (sede do Coletivo Angu de Teatro).
O espetáculo já era conhecido do público pernambucano por sua participação no Festival Recife do Teatro Nacional em 2006, quando foi apresentado no Teatro Hermilo Borba Filho, palco preferido de muitos artistas de teatro daquele lugar, entre os quais ouso me icluir, pois mesmo quando atuava em Fortaleza, já conhecia a maravilha de espaço que é o Hermilo. Desta vez,  no entanto, e com a mesma e tamanha vontade, seria o momento de apresentá-lo num espaço alternativo, constituido por uma área aberta com jardins e corredores, terminando por acolher o público no antigo ateliê de Xuruca Pacheco. Sem contar as lembranças que os recifences guardam da Casa de Bamba que ali funcionava. Por tudo isso acreditávamos que seria ambiente especialmente favorável a esta experiência.
A vida real se impôs de modo a esticar minha temporada em Tamboril-Ce, minha cidade natal, e não há como retornar ao Recife a tempo de nos encontrarmos com esta Camille (vivida  através de minhas limitações, é claro, mas também de minha profunda admiração por sua obra e pessoa) na data prevista. Juntos, vocês e eu, reunidos em torno deste "tema", acredito realmente que pudéssemos fazer crescer o clamor daquela artista dotada de extraordinário talento, mas que, para nossa indignação, teve sua vida arruinada e sua obra por muito tempo esquecida. 
A Tear Companhia de Teatro(Fortaleza-Ce), onde nasceu este trabalho, desde que eu ali pesquisava, inclinou-se sempre para o tema da opressão. Como explicar essa necessidade de abafar, destriur, banir aqueles que, por algum atrevivento da natureza, vieram selvagens, rebeldes, vibrantes, dotados de uma força criativa absolutamente imprevisível? Sobretudo (quanto a Camille), como explicar a violência com que a mediocridade se lança sobre um espírito livre e revolucionário que ousa instalar-se num corpo de mulher?
Incapaz de me calar a respeito, ofereci minha humilde carne através de algum talento para a arte de repesentar, a este exercício e missão, que gostaria tanto de partilhar com vocês a partir deste 07 de outubro. O impedimento que ora se impõe não deverá nos afastar por muito mais tempo. Nem eu sobreviveria a isto. Tão logo possa "voltar para casa" (e depois dos últimos acontecimentos Recife se afirma cada vez mais como tal), nos encontramos. Senão no ANGU, em algum outro lugar e data que informarei aqui e na página do facebook, além dos outros meios de comunicação menos íntimos, mas, de praxe e eficiência.
Vamos conversando.
Abraço vocês com o carinho de sempre.

Ceronha Pontes
De Tamboril-Ce, 30 de setembro de 2011

P.S.: Depois de perder meu tão adiado e desejado curso com Maurice Durozier (Théâtre du Soleil), a visita de Sebastião Milaré ao nosso Coletivo Angu, adiar Camille, sem contar os outros imensuráveis danos, gostaria muito de ter pra quem enviar a conta.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre não morrer

Para Luce Pereira

Querida Lucille,

Hoje Ela cantou. Pareceu-me que não se dava conta de que o fazia, mas, cantava, e isto me trouxe a esperança que ora divido contigo. Depois começou a recitar aquele teu "Um tango com Frida Kahlo", experimentando involuntariamente um gestual que diz mais da outra Criatura. Confuso assim: a fala de uma no corpo da outra. Em tudo, Ela.
Tanto a do Tango quanto a francesa, apartadas de seus dons, desfalecendo em ambiente desfavorável. Vê-se assim.
Bem quando vomitava aquilo sobre "que dissolvessem com golpes firmes o (seu) meu delírio pelos...", acordou. E chorou. Não, querida, talvez não fosse apenas desesperança. Eu mesma me lembrei de um teu choro bom, quando daquela que consideraste a melhor exibição do Tango. As condições do teatro naquela cidade em que Ela sempre odeia se apresentar eram tão ruins que Ela chutou o balde, como gosta de dizer, tentando superar as adversidades entregando-se de um modo que a aproximou tanto daquilo que concebeste, que tu choravas, Lucille, fazendo-a  gabar-se por atingir momentaneamente a compreensão plena da (antes tua) Criatura.  Ela bem sabe (e por isso não se furta de vivê-los) que esses instantes são raros, Lucille, porque milagrosos. O lugar em que Ela está agora se encontra tão completamente arruinado, que só por milagre mesmo se levantará, Ela crê. Tenho vontade de dizer a Ela sobre os benefícios do tempo, mas, é melhor esperar o tempo certo de fazê-lo.
Não sabe ainda como ser mais forte do que alguma vez. Porque agora não é artifício, querida, e Ela dói a ponto de não reconhecer os recursos para lidar com tragédia tão real. Sente e pensa as coisas mais feias. Deixemos. Precisa.
Entre vingados e fodidos, figura entre estes últimos, e não há outras classificações para os envolvidos em tão dolorosa questão. Fodidos. Ela gosta de palavras baixas. Eu também. Digamos. Preciso.
Mas, Lucille, o real motivo desta carta (escrevo com aquela caneta que touxeste de Nova Iorque e deste a ela quando trocavam contos "galeânicos " por fantásticos, e lamento que chegue a ti em letra impessoal e fria) é que hoje Ela cantou. A voz era triste, a música nem sei, mas, não importa. Cantar não te parece um bom sinal? Sempre lembro do cara do Pavão Mysteriozo dizendo que isto parece com não morrer. Creio absolutamente e sei o que vai em ti, a respeito. Por isto o comunicado: ELA CANTOU.
Abraço meu. E dela. Se pudesse.

Charlotte.

P.S.: E eu que pensava que não apareceria por aqui tão cedo. Me diga, Lucille, como imaginas o cenário, quando é Charlotte quem se revela a mais lúcida? (Risos.)

Por Ceronha Pontes
De Tamboril-Ce, 28 de Setembro de 2011.

sábado, 24 de setembro de 2011

As coisas feias


Neste momento Mariana vê o mundo mais perverso do que alguma vez. Dói de dor de morte, sendo que a lembrança desta nem lhe parece tão feia se comparada a, mas, na falta do que se aproxime...
Esperam de Mariana um ato heróico incompatível com a sua condição de rato. Talvez porque pareça um leão, pobrezinha. Impotência e, pior, um medo intransponível ela experimenta sem conseguir ser amparo o bastante para Marianona e Marianinha. 
Um tio lhe falou sobre noites mais longas que o fim do mundo. Os dias também, ela pensa. Aonde se cumpre o fim comprido do mundo? Será que lá se acaba este padecimento?

Ceronha Pontes
De Tamboril-Ce, 24 de setembro de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ressuscita-me!



Luz no fim do túnel, teu nome é teatro. Ah, o teatro!
Foi sempre menos difícil atravessar a tempestade com uma estréia marcada. Porque o teatro não renega as coisas do viver, mas se alimenta delas. De um extremo a outro de ser, abraça. Toda gente cabe, todo sentimento, toda sensação, toda vontade, toda negação. A prática teatral me deixou mais "profissa" na vida. Eu acho. Me gabando. Pode parecer coração endurecido, mas tomei foi preguiça dos excessos. Na vida ou na cena só o que serve à composição perfeita. Pouco importa se não se atinge. Persigo, passo a passo, o belo e seu avesso. Meu corpo entregue em poesia de carne.
Atirada a minha dor subliminar na sua cara, caro leitor, o convite:


CAMILLE CLAUDEL


estréia 07 de outubro, às 20h, no ANGU.
Rua dos Artistas, 160, Torre, Recife-Pe
(antiga Casa de Bamba)


Ceronha Pontes

terça-feira, 13 de setembro de 2011

sem título



Para Ihas


Noite de lua imensa esta. E linda. Ela estava assim também, quando o Papai se foi. É das poucas imagens que guardo realmente vivas. Começo de noite, vez em quando me voltava para apreciar o cortejo atrás de mim. Porque fui lá na frente (parte do tempo ao lado de meu Padrinho Helênio), sóbria, serena, cabeça erguida, orgulhosa do Edson. Aquela lua, nascida por detrás da Serra das Matas, um farol iluminando o grande final.
Me lembro que também o dia havia sido bonito. Fui de Fortaleza a Tamboril agradecendo as poucas e bem dispostas nuvens que se arrastavam lentas no magnífico azul, reverenciando meu Pai. O choro só viria depois. E era também bonito porque foi o mais carregado de amor que já derramei.
Tanta necessidade de encontrar beleza naquele que devia(?) ter sido meu dia mais infeliz (e foi bem o oposto), é porque tive tempo de vê-lo doer, doer, doer, doer até que me parecesse justa a morte. E não que seja melhor assim que de outro jeito. Nem pior. Meu olhar (instinto de sobrevivência?) elegeu esses lances, e assim me defendo.
Depois, como hoje, veria a danada chegar abrupta, metendo a sua foice no fio de quem tanto importa a quem amo. É quando me rendo às preces, pedindo aos deuses e ao Santo Anastácio que façam o que minha impotência não alcança. Urgentemente!, tenho vontade de gritar. URGENTEMENTE!  Chegue logo o tempo de quem amo vir que ter amado tudo, tudo, tudo, sem dever nadinha, nos devolve à calmaria.


Cé 
13 de setembro de 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

"Um táxi pra Paris"


Estava aqui, neste domingo chato, considerando o Ganges (é, o rio), embora uns 99,9% decidida a permanecer às margens do Capibaribe. Foi quando o Rio Negro entrou na disputa. O primo Ed convidando pra morar com ele em Manaus: "Bora, Criatura!".  Oh, que meigo. E o Eros pensando que o perigo atende pelo nome de Recife. UUUhahahahaha!!!
Como vêem, não tenho muito o direito de reclamar da vida, mas, com este meu temperamento lunar, me ocupo justamente em sofrer o fato de o Acaraú não constar mais na lista de opções. Gente é um bicho muito insatisfeito.
Seque um vídeo todo especial para o Ed, só pra ele saber o que a gente andou perdendo lá em Fortaleza esses dias. 


- Menino, vamo marcar um guaraná no Damião, uma have no Betão? Pô, nosso pedaço, afinal.


Sem contar que a partitura da Leona é uma aula. Sério. Sério mesmo.

SEM ASSUNTO

- Hoje usei o controle remoto pra acender o fogão e pausar a programação da tv. Juro pelo Papai.

- E tou matando a sede com Aquarius Fresh até amanhã. Esqueci mais uma vez de comprar água.

- Olho o relógio e esqueço imediatamente a hora.

- Não aprendo mais letra de música. Nunca olhei tanto o encarte ou o google, se quero acompanhar.

- Leio, mas não sei o que me leva à página seguinte.

- Em menos de um mês me livrei de dois atropelamentos na minha esquina. Pra quê tanto carro no mundo?

- O QI despencou.

- Sem inspiração, nem vontade. Vontade nenhuma. O dever me salva.

- Quando é que eu "como" os meus dedos que só vejo quando já estão inflamados?

- Comprei uma revista com a seguinte manchete: Como não pagar mico na balada. ???

- E já não enxergo nem decoro textos como antigamente.

Ficando brôca. E cega. 
Será idade? Será saudade? Será o fim?
De qualquer modo, "o pulso ainda pulsa". Prefiro cortar o cabelo mesmo.

Ceronha Bisonha

P.s.: Pelo amor de Deus, nada de e-mails com orações ou slides horrorosos, tipo auto-ajuda ou campanhas terroristas por uma vida saudável.Arrg!

sábado, 10 de setembro de 2011

BOM DIA!!!



Hoje, às seis da matina (fui dormir por volta das três), uma maluca interfonou tão insistentemente que atendi assustada. Queria saber se tem apartamento pra alugar aqui. E não existe placa alguma indicando isto, vejam bem. Dei-lhe um esculacho em cearês que pode promover efeitos devastadores.
Continuou chamando outros apartamentos. Lembrei-me do Velho G, que precisa de repouso, e corri pra tentar impedir que ela tocasse lá. Melhor responder de uma vez, pensei. Não deu tempo. O Velho já estava na janela, que fica  bem em frente ao portão, conversando tão educadamente com a criatura, que me enchi de remorso. Fiquei ouvindo o papo. Ela (uma senhorinha meio desnorteada)  perguntava a mesma coisa repetidas vezes, como se não entendesse ou aceitasse. Queria por fim da força despejar alguém ou, sei lá, morar conosco(?). Fino, meu amigo respondia quantas vezes, com a paciência dos bons. Ah, se eu soubesse despachar os inconvenientes com a mesma classe e doçura do G!
Ela era só alguém precisando muito estar em contato. O mundo não tá lá essas coisas mesmo, né? Então, pra quê acrescentar em desgosto soltando os cães raivosos deste meu peito enérgico sem noção? 
Tardiamente me dei conta de que a tal senhora havia operado um milagre. O Velho, bem fraquinho, há dias nem se sustentava em pé e, no entanto, esta manhã conseguiu ir até à janela para atendê-la. Com a sua M. (que falta nos faz!), sempre esteve a postos pra ajudar a quem quer que fosse. A mim, inclusive. Abusivas vezes.
Será que eu devia ter convidado a criatura pra um café?


Pontes
Recife-Pe,10 de sentembro de 2011

METHA BAVANA



"Cai na dança, cai!
Vem pra roda da malemolência." (Céu)

Que os seres todos se libertem do sofrimento e encontrem o verdadeiro sentido da felicidade. QUERO. Mas, ah, meu Candeeiro, não se ofenda se tão despudoradamente lhe confesso que tanto mais sinceridade alcança este meu desejo, se tenho as mãos nas cadeiras e flor no cabelo.
Eu vou dançando. Te encontro "lá".

Ceronha

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

OS MENTIROSOS



Ele a viu toda bonita, ainda menina, vestida de branco, trança contendo as ondas revoltas dos longos cabelos castanhos, praticando tai-chi na quadra de esportes da Faculdade de Filosofia.
Cantou para ela Che Gelida Manina, do Puccini, e ela ria muito, muito surpresa. É que ele falava tão baixinho, mansinho, sem pressa, que a voz cantada (tamanha) parecia de outro espírito.


A verdade verdadeira é que ela prefere poesia e aposta nos benefícios da inquietude. Ele é optante do silêncio.


(...)


Mas o AMOR, este anarquista, os perdoou.


Ceronha Pontes
Recife-Pe, 09 de setembro de 2011



Pra ele:

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

LETTRE D`AMOUR (parte final)


Me distraio do ilusório comando e deve ser esta a sensação de tremer a terra. O que me aguarda?
Catherine tomando remédio com licor, secando o rosto úmido no ventilador, tenta promover uma pneumonia, uma tuberculose, sei lá, alguma romântica mazela que lhe mate. Marion, levemente embriagada de tristeza e meia garrafa do pinot noir guardado para quando a Doida voltasse, apelando pras Arábias (arroz com lentilhas, carregado de cebola e pimenta), peleja para recompor a Bisonha. Operação Mjadra, batizou Charlotte, certa vez. Ao meu lado e padecendo do mesmo artifício de serenidade, Isabelle.
Configurada em tufão, parecida quando jovem, ela invade a casa. Vai direto ao ponto. Não se ocupa nem de sua Marion, cujo choro se solta violento. Não de raiva, mágoa ou ciúme. Alívio. Catherine, num gesto quase involuntário, aperta a mão gelada e trêmula da Pequena. Eu e Belle não sabemos ainda o que fazer.
Adivinho a pouca sutileza de Charlotte ao despertar Hélène de seu longo sono de fuga. Hélène grita coisas incompreensíveis. Seu desespero nos arranca da inércia e nos amontoamos na porta estreita do quarto onde Charlotte oferece uma e outra faces, repetidamente, até que aquela gaste as forças e fúria.
Em estado de extrema e absoluta exaustão, se identificam. Charlotte é, enfim, capaz de ouvir o coração de Hélène que, pela primeira vez, orgulha-se da capacidade de resistência e irremediável dom de Charlotte. E esta voltou conforme havia advertido nas correspondências. Marcada de tempo e ferida, um pouco sem beleza ou saúde, mas, limpa. Traz consigo o desejo claro de cumprir-se, simplesmente. Sem mais excessos de ordem alguma. Cumprir-se. Quem lhe negaria?
Prometeu levar Hélène a outro continente, encontrar o seu amor de há seculos. Em troca de saber tudo, absolutamente tudo sobre eleger alguém sentido de ser e de estar. Porque Charlotte nunca se entregou, mas era autoridade em fazer crer àquele a quem envolvia e depois incitava a partida, que morreria de tal produzido e dirigido abandono. O que seria mesmo divertido, não tivesse tantas vezes abusado do realismo. Com alguma dor de todas as partes, selaram a paz por tempo indeterminado.
Não houve o jantar especial planejado por Marion, nem lençóis limpinhos para proteger a "rebelde" na primeira noite desde tantas que foram obrigadas a passar em claro, temendo pelo seu destino. Tudo aconteceu e segue ao revel das expectativas cultivadas.
Comigo, no entanto, Charlotte teve de se explicar. Voltou, agora sei, devido aos apelos de uma Criatura que deixou aos cuidados de Isabelle há muitos anos. Não me admira o desprendimento. Naquele tempo não faltaria um ou outro maledicente que afirmasse, assegurando por A mais B, que a jovem Charlotte, não sabendo muito de si, confundia-se com os papéis. Belle imprimiu toda a dignidade de seu caráter mas, agora, que os dias são outros e vivemos em outras terras, a Criatura virá pelo canal apropriado: Charlotte. Por ela, que é capaz de unir sem pudores as destemperanças de todas as outras na medida que lhe exige a composição.
O que mais me comove nesse desfecho é ver o amor desmedido da Criatura servir de redenção para Hélène. Amar até à loucura. Pois bem, Charlotte o fará.
Neste momento, enquanto elas dormem feito fossem inocentes, sinto já doer em mim, outra vez, a "vida alheia". Por séculos e séculos. Assim seja
.


Ceronha Pontes
Recife-Pe, no primeiro minuto de 08 de setembro de 2011