sexta-feira, 16 de julho de 2010







Iara Campos e Marcelo Oliveira ensaiando


O AMOR DE CLOTILDE POR UM CERTO LEANDRO DANTAS


Espetáculo da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, estréia amanhã às 19h no Teatro Capiba, SESC Casa Amarela, Recife-Pe.
Livremente inspirada no Romance A Emparedada da Rua Nova, do escritor pernambucano Carneiro Vilela, a peça é a segunda de uma trilogia em que a Trupe pretende (motivada pela obra de outro pernambucano de valor, o teatrólogo Marco Camarotti) experimentar formas marginalizadas de teatro. Primeiro montaram Rififi No Picadeiro (teatro para a infância). Agora com"O Amor de Clotilde..." experimentam a linguagem do melodrama. Para tanto, pesquisaram a fundo e com auxílio luxuoso de ninguém menos que a artista circense Índia Morena, os dramas apresentados sob as lonas dos circos de antigamente, aqueles também conhecidos por "tomara que não chova".
Depois de um ano de estudo, o próprio elenco cuidou da dramaturgia que resultou impressionante. De encantar qualquer alguém que tenha tido o privilégio de ver em cena, por exemplo, A Louca do Jardim (um clássico pernambucano do gênero).
A Trupe tem essa pinta mambembe, carregando arriba e abaixo o seu picadeiro com cara de "tudo usado". Tem talento, alegria e compromisso a valer. É diversão garantida. Coisa de quem faz bem feito. Quem zela pelo ofício, quem ensaia até atingir o requinte, mas sem jamais perder aquele ar de quem não tem reputação a zelar. Saltimbancos, felinos... Que nem, que nem...

"Nós gatos já nascemos pobres
porém já nascemos livres, lá,lá,lá..."

Estive com eles durante a montagem, colaborando modestamente com os atores em sua construção de personagem. Num outro post, com mais tempo, quero compartilhar tim-tim por tim-tim os babados e delícias deste trabalho. Por hoje deixo dito que tem sido prazer enorme conviver com o bom astral, a inteligência e a coragem de Iara Campos, Marcelo Oliveira, Andréa Veruska, Tatto Medinni, Andréa Rosa, o encenador(também ator do espetáculo) Jorge de Paula e outros integrantes do grupo( Fred e Ju).
O passo a passo do trabalho de Jorge guardo no mesmo lugar em que ficam os ensinamentos apreendidos no Colégio de Direção Teatral, lá no meu Ceará. Coisas que ficam impregnadas e a gente esperando a oportunidade de experimentar. Delícia! Que venha o teatro folclórico coroar a trilogia.
Conversaremos mais a respeito quando eu processar "o bem-querer, o turbilhão". A gora "simbora" com Chico e Edu:

"Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer adeus."

Um super beijo.

CERONHA PONTES
Recife-Pe, 16 de julho de 2010

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ESTRANHOS (assim como na canção)



Ela chega uma legião trazida pela madrugada. Entra na ponta dos pés de tantas! Se espalha silenciosa fincando bandeiras pela casa. Depois, já desnuda, reagrega-se sob o chuveiro de onde a água morna que escorre demora rios a levar o cansaço de grande elenco.
Restando só uma, só ela de novo, acomoda-se ao lado do homem que dorme como se nunca o abandonasse.
Talvez ele sempre o fizesse, mas era a primeira vez que flagrava o seu despertar assombrado a procurá-la no meio da noite. Agora ela estava lá e se abraçaram como quem dependesse. Reafirmaram em silêncio antigas promessas e depois, muito depois, adormeceram um corpo de dois.
Quando a claridade se impôs, antes de abrir os olhos ela estendeu o braço ao longo da cama. O vazio. Era de dia que o mundo clamava por ele. Partira.
Quem conhece o lugar garante que também as bandeiras dele tremulam solenes. É território estranha, mas amorosamente compartilhado. Imune aos corrosivos das diferenças e desencontros.


"O seu planetário minha lamparina": http://www.youtube.com/watch?v=82vZitBmqIs

CERONHA PONTES
Recife-PE, 09 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pais & Filhos


"E o que disserem, meu pai sempre esteve esperando por mim."
Renato Russo


Aprendi com meu pai(e ele aprendeu sozinho e a duríssimas penas) a estar no mundo prestando muita atenção no resultado de minhas decisões e atitudes. Ele quis, e lhe agradeço eternamente o cuidado, que eu não atropelasse as pessoas com minhas vontadesinhas, com minha ira. Entendia que ser "segura, decidida, forte, minha filha!", passava antes e necessariamente por respeito e amor ao próximo.
Experimentou o mal e aquilo era bem uma ferida aberta no lugar do coração. Lhe atenuaria a agonia( que nunca lhe roubou a ternura), que eu fosse capaz de entender que É feliz quem FAZ feliz. Era lindo, meu pai. LINDO!
Morreu de um câncer que ele mesmo "fabricou". Penitência? Fumou até se fuder. Devotado à minha mãe, que tem problemas cardíacos, passava as madrugadas na calçada sendo devorado pelos venenos do cigarro, mas protegendo-a da intoxicação passiva.
Nem tudo deu certo naquela família. Mesmo de pais incríveis nascem crias deformadas. Não tenho e nem me interesso pela idéia que fazem os meus irmãos daquele pai. Suponho, pelo bom caráter e proceder do mais velho, que lhe guardem bons exemplos. Mas é que realmente não reconheço a participação deles naquele lance. Pra mim, e não por desamor a eles, só havia meu pai e eu, eu e meu pai e pronto. Por causa dele aflorou de minha índole esta preguiça, este desinteresse por conquistar coisas, espaços e pessoas a partir de engodos, embustes, rasteiras. Nem pensar depositar na sua conta, ou de quem quer que seja, traumas que justifiquem minhas fraquezas e fracassos. Pra ele, a coragem, a verdade. Fosse o que fosse.

-Não passei de ano, PORQUE NÃO ESTUDEI, mas posso fazer dependência numa outra escola.
-Com aquele boletim que se espremer sai sangue? Nem pensar! Vá estudar e me deixe ver o futebol sossegado (jogo do mengão).

Éramos assim. Desde as coisas mais simples, às mais graves. "Cuidado, toda ação provoca uma reação. Arque com as conseqüências das suas". E já paguei o justo preço de muita merda.
Madura, minha visão de mundo tende a seguir-lhe a direção. E se ainda assim não me tornei grande coisa, sua parte ele fez.
O dia mais feliz da minha vida foi quando ele morreu. "Graças a Deus!", eu disse. Cessava enfim a dor de quem eu mais amei. De longe, putz, de muito longe, quem eu mais amei! E de muito mais longe ainda, quem mais me teve amor na pequenêz desta minha vida.
Quando escolhi a Filosofia e o Teatro, para alguns parecia um desrespeito aos sacrifícios de meu pai para manter-me numa boa escola em Fortaleza, longe dele desde os meus treze anos. Para ele, a glória! "Deixe a minha filha com a profissão que gosta", dizia à minha mãe que, apesar de artista e talvez por isso mesmo, condenava-me as escolhas. Que ele tenha acreditado, é ouro pra mim.
O Edson é muito mais do que caberia neste recanto. Não choro a sua falta, pois não há. Não ficamos nos devendo nada. Demos um ao outro o que tínhamos de melhor e isto é o conforto absoluto diante do inevitável.
Se hoje exponho um tantinho dele, é porque ontem o Eros, meu marido, mostrou-se mais uma vez tão, mas tão admirável, que me comoveu! Não tenho autorização para revelar de meu parceiro mais que uma piada ou outra naquele seu cearês genérico. Falo então de quem ele me lembra quando se posta íntegro, generoso, sereno e muito firme ao defender seus irreprováveis princípios.
E pelo amor de Deus, os meus amigos das "gias", vão se fuder com esse negócio de que "Freud explica"!

Um beijo desta CERONHA mais PONTES do que nunca!

Recife-PE, 07 de julho de 2010.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ANGIE


Parece que foi em outra vida.
Arrancaram-lhe o doce e a boca espumava ira. Despejou naquela tarde o seu mais longo e dramático choro. Sem testemunhas.
Esbanjando frustração e revolta, praticou seu repertório de violências contra tudo que lhe atravessasse o descompasso nas estreitezas do apartamento. Doía pra si. Quanto mais se ouvia, mais urrava. Mais machucada, tanto mais quebrava. Empregou no desatino torrencial toda a reserva de lágrimas destinadas a pequenas possíveis futuras dores. Deu-se ao exagero até desmaiar, extenuada.
Era noite já, dessas muito e confortavelmente escuras, quando recuperou os sentidos. Com exceção dos olhos (que se abriram), não ousou qualquer outro movimento. Observando-se naquela imobilidade voluntária, constatou gozar de raro repouso e estranho contentamento. Então alvoreceu sem mais medo de si.
Sã, teria preferido livrar-se da tormenta de um modo menos vulgar. Mas nunca se penitenciou pelo mal que lhe assaltou o juízo. Pensou que a vida carece de lances ridículos e pronto.
Compensou-lhe o prejuízo das quinquilharias que lhe poluíam a morada, a boa disposição para remover os cacos. Não deixou vestígio. No corpo, as marcas do auto-flagelo carregava agora como se fossem de outra. Sarou as feridas "alheias" com ungüentos que só então descobria em si. E seguiu. Dizem que sorrindo.
O tanto de água e sal que lhe restou, derramaria cuidadosamente quando e apenas quando fosse verdadeiramente necessário.

CERONHA PONTES
Recife-PE, o2 de julho de 2010

"Você não pode dizer que nunca tentamos": http://www.youtube.com/watch?v=rZyMppRtuoE&feature=related

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mio Cuore






Histórias tantas neste meu coração relicário. Qualquer hora alguma se derrama aqui, despudorada. Enquanto isto, fala Delmira!




Los relicarios dulces

Hace tiempo, algún alma ya borrada fue mía.
Se nutrió de mi sombra... Siempre que yo quería
el abanico de oro de su risa se abría,

o su llanto sangraba una corriente más;

alma que yo ondulaba, tal una cabellera
derramada en mis manos... Flor del fuego y la cera,
murió de una tristeza mía... Tan dúctil era,
tan fiel, que a veces dudo si pudo ser jamás...

(Delmira Agustini)


Um beijo.

Ceronha

Recife-PE,01 de julho(já?) de 2010